<p>O artigo analisa o processo de transformação social do crime nas periferias da cidade de Fortaleza, estado do Ceará, Brasil, mediante a constituição de coletivos criminais conhecidos como “facções”. Evidencia como as gangues e quadrilhas de traficantes ofereceram as condições objetivas para o processo de adesão a esses coletivos que, entre outras coisas, afetaram as maneiras de fazer o crime na cidade. A pesquisa se desenvolveu em uma dinâmica de investigação qualitativa e multissituada, articulando matérias da imprensa, entrevistas e conversações, à luz de uma perspectiva compreensiva dos sentidos e relações pertinentes ao fenômeno estudado. A análise considera múltiplos efeitos sociais da violência em circunstâncias criadas por coletivos criminais que se enfrentam e buscam exercer poder de governo sobre populações com as quais compartilham determinados sofrimentos sociais, e demonstra mudanças na escala de violência e interferência das pessoas que fazem o crime, com práticas de tortura, expulsão de residências e chacinas envolvendo homens e mulheres. Conclui que as “facções” criaram dinâmicas de governo locais que resultam em formas de dominação e sujeição dos pobres em Fortaleza.</p><p><strong>“THERE ISN’T GANG HERE, THERE’S ‘FACÇÃO’”: the social transformations of crime in Fortaleza, Brasil </strong></p><p>This paper discusses the social transformation process of crime in Fortaleza’s peripheries through the constitution of criminal collectives known as “facções”. It evidences how gangs and drug trafficking groups offered objective conditions to the process of joining these collectives which, among other circumstances, affected the forms of crime in the City. The research was developed in a dynamic of qualitative and multisituated investigation, articulating press material, interviews and conversations in the light of a comprehensive perspective of the senses and the relations within the studied phenomenon. It considers the multiple social effects of violence in circumstances created by criminal collectives that are facing each other and seek to exert power of government over populations with which they share certain social sufferings. The paper also demonstrates a change in the scale of violence and interference of people who commit crimes with torture, expulsion and slaughter involving men and women. It concludes that the “facções” created dynamics of government that result in forms of domination and subjection of the poorpopulation in Fortaleza, Brazil.</p><p>Keywords: Violence. Crime. Criminal collectives. Facções. Periphery</p><p><strong>“ICI, IL N’Y A PAS DE GANG, IL Y A UNE FACTIONS”: les transformations sociales du crime à Fortaleza, Brasil</strong></p><p>L’article analyse le processus de transformation sociale du crime dans les quartiers populaires de la ville de Fortaleza au travers de la constitution de groupes criminels connus sous la dénomination de “factions”. Je mets en évidence comment les gangs et les bandes organisés de trafiquants ont fourni les conditions objectives au processus d’adhésion à ces collectifs qui, parmi d’autres choses, ont influé sur les manières de faire du crime dans la ville. La recherche a été menée dans une dynamique d’enquête qualitative et multisituée, en mettant en relation des articles journalistiques, des entretiens et des conversations, en suivant la voie d’une perspective compréhensive des sens et des relations pertinentes vis-à-vis du phénomène étudié. Je prends en considération de multiples effets sociaux de la violence dans des circonstances créées par des groupes criminels qui s’affrontent et cherchent à exercer un pouvoir de gouvernement des populations avec lesquelles ils partagent certaines souffrances sociales. Je démontre le changement dans l’échelle de la violence et de perturbations des personnes qui participent au crime, avec des pratiques de torture, d’expulsion de domicile et de massacres impliquant des hommes et des femmes. J’en conclus que les «factions» ont créé des dynamiques de gouvernement engendrant des formes de domination et d’assujettissement des pauvres à Fortaleza, Brasil.</p><p>Mots-clés: Violence. Crime. Groupes criminels. Factions. Quartiers populaires.</p>
O artigo reflete sobre como o mercado ilegal de cocaína afeta a vida de moradores em um território transfronteiriço entre Brasil, Peru e Colômbia. Observa como as negociações em torno da mercantilização da cocaína estruturaram uma economia moral peculiar, em uma região de fronteira repleta de dispositivos de controle social, que afetam as práticas econômicas de cidadãos brasileiros, peruanos e colombianos. A pesquisa que deu origem ao artigo se desenvolveu por meio de incursões etnográficas, ao longo de quatro anos, em uma investigação que privilegiou a intepretação de moradores da região sobre o problema da produção, comercialização e passagem da cocaína pela tríplice fronteira. Os resultados expressos no texto tiveram suporte em um tratamento analítico que objetivou a compreensão dos problemas sociais vividos por moradores que, no seu dia a dia, participam, convivem e ouvem falar da ação de pessoas envolvidas em esquemas de produção, comercialização e circulação de cocaína pela fronteira.
Nas margens do Estado-nação: as falas da violência na tríplice fronteira amazônica 1 Luiz Fábio S. Paiva 2 ResumoA cidade de Tabatinga, na tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, é constituída por multiplicidades culturais expressas nos diferentes povos, nações e etnias. Em uma complexa região transfronteiriça, brasileiros convivem com populações estrangeiras e povos indígenas de diferentes matizes culturais. Trata--se de uma realidade multifacetada em que pessoas experimentam os mais diversos problemas sociais. Entre eles, as dinâmicas de violências que afetam as maneiras como as pessoas se relacionam entre si e as instituições que integram a vida na fronteira. Neste trabalho, apresento resultados de uma investigação etnográfica sobre como os moradores de Tabatinga falam da violência que afeta sua rotina em um território brasileiro transfronteiriço. Observo como que, ao contar histórias, os interlocutores expõem julgamentos morais e sua visão política sobre o Estado, cidadania e moral na tríplice fronteira amazônica. Palavras chaves: violência; Estado; fronteira; margens; cultura. On the margins of the nation state: the violence speeches in the Amazonian triple frontier. AbstractThe city of Tabatinga, in the Brazil's triple frontier with Peru and Colombia, consists of cultural multiplicities expressed in different peoples, nations and ethnic groups. In a complex cross-border region, Brazilians live with foreign populations and indigenous peoples from different cultural nuances. It is a multifaceted reality in which people experience the most diverse social problems. Among them, the dynamics of violences that affect the ways people relate to each other and institutions that integrate life on the frontier. In this paper, I present results of an ethnographic investigation into how the residents of Tabatinga speak about the violence that affects their routine in a Brazilian cross--border territory. I observe how, by telling stories, the interlocutors expose moral judgments and their political views on the state and citizenship in the Amazonian triple frontier. Keywords: Violence; State; Frontier; Margins; Culture.Ao chegar à cidade de Tabatinga, no Amazonas, em uma região de tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, conhecida também como Trapézio Amazônico, o visitante encontra um cenário multicultural, composto por povos de diferentes nações, raças e etnias. Brasileiros de todas as partes do País moram e se relacionam com populações estrangeiras e povos indígenas de diferentes matizes culturais. A cidade dispõe de fronteira seca com a cidade de Letícia, na Colômbia, com a qual forma uma conurbação cujas delimitações dos limites nacionais parecem bastante confusas em determinadas áreas. É possível, por exemplo, encontrar casas que estão nos dois territórios nacionais, entre Brasil e Colômbia. A fronteira com o Peru é fluvial, sendo o centro O objetivo do trabalho é compreender como as pessoas que residem na cidade de Tabatinga "falam da violência" expressando julgamentos morais e visões políticas ...
O trabalho analisa as formas sociais de construção das legalidades e das ilegalidades na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde as relações entre nações são mediadas por leis e normas sociais diferenciadas e não correspondentes. Observa-se como se estruturam fluxos e circuitos de pessoas e mercadorias por diferentes legislações nacionais. Esses circuitos são produzidos e produzem o diferencial fronteiriço, isto é, as assimetrias dos preços, serviços e sistemas de controle social de cada um dos três países. As legislações nacionais heterogêneas e as formas de fiscalização, mais rígidas ou flexíveis, mobilizam os deslocamentos entre territórios nacionais. Entre Tabatinga (BRA), Letícia (COL) e Santa Rosa (PER), as fronteiras entre o “legal” e “ilegal” mobilizam muitas redes e fluxos em torno, por exemplo, da legalidade das brigas de galo no Peru e Colômbia e a “ilegalidade” e “clandestinidade” dessas práticas em território brasileiro.
O artigo trata do processo de surgimento, consolidação e expansão das facções nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Discutimos as formas de envolvimento de jovens adolescentes em coletivos criminais conhecidos como facções, tratando das experiências deles em dois grupos particulares: os Guardiões do Estado, do Ceará, e o Sindicato do Crime, do Rio Grande do Norte. Em linhas gerais, evidenciamos dinâmicas próprias desses grupos e contextos, assim como modos de representações e de gestão de suas práticas criminais. Tratamos, por fim, dos efeitos sociais de um número cada vez maior de jovens envolvidos nessas organizações, analisando as consequências desse fenômeno para a vida em sociedade.
O presente artigo discute a obra de José Martí, a partir da perspectiva pós-colonial, apontando que seus escritos problematizam questões que antecipam a produção teórica contemporânea. Martí se insere no rol de pensadores que questionou e lutou contra a hegemonia política e cultural dos centros de poder, anunciando em seus escritos o que veio a se tornar o novo império, os Estados Unidos, e suas articulações para a manutenção da América Latina na periferia capitalista.
O texto apresenta as ideias e o conjunto das contribuições que constituem o dossiê Dinâmicas do Crime e da Prisão.
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