resumo A uberização do trabalho é analisada por meio de duas teses: 1) trata-se de uma tendência global em curso de consolidação do trabalhador em um autogerente subordinado disponível, desprovido de garantias e direitos, definido como trabalhador just-in-time; 2) as empresas se apresentam enquanto mediadoras, quando, em realidade, operam novas formas de subordinação e controle do trabalho; trata-se do gerenciamento algorítmico do trabalho. A discussão baseia-se em resultados de pesquisa empírica com revendedoras de cosméticos e motofretistas, além de dados secundários sobre motoristas de Uber e os chamados bike boys. Compreendendo-se a uberização como um novo tipo de informalização, é discutido como esta envolve uma generalização de características tipicamente femininas e periféricas do trabalho, conferindo uma nova visibilidade a elementos que estruturam o viver de trabalhadores e trabalhadoras da periferia.
Esta pesquisa teve o objetivo de identificar os impactos da pandemia da COVID-19 nas condições de trabalho dos entregadores via plataforma digital. Participaram 298 trabalhadores em 29 cidades, que responderam questionário on-line por meio da ferramenta Google Forms. Para a disseminação do questionário foi utilizado o método “bola de neve”, em que integrantes de diferentes redes sociais respondem ao questionário e o encaminham para outras redes. Os resultados revelados apontam para a manutenção de longos tempos de trabalho, associado à queda da remuneração desses trabalhadores que hoje arriscam sua saúde e a de suas famílias, no desempenho de um serviço essencial para a população brasileira, ao contribuírem para a implementação e a manutenção do isolamento social no contexto da pandemia. Em relação às medidas de proteção, os trabalhadores as vêm tomando e as custeando por conta própria. A grande maioria dos entrevistados afirmou adotar uma ou mais medidas de proteção na execução de seu trabalho, enquanto as medidas adotadas pelas empresas concentram-se na prestação de orientações.
This article aims to analyze food delivery workers’ working conditions and ongoing collective organization during the pandemic in Brazil. The discussion involves historical analysis, based on empirical research carried out with delivery couriers over the past eight years in Brazil and on analysis of the delivery workers’ strikes in July of 2020. Our view is that their work is subsumed to a new type of work organization, management and control, defined here as uberization. Recent investigation shows that their working conditions are worsening during the Covid-19 pandemic in terms of reduced working hour value alongside unchangingly long workdays. These conditions have been met by platform workers’ collective organizations demanding better working conditions. Our findings indicate an ongoing political struggle involving different institutions, and the central role of communication between workers through digital platforms as the first form of organization. From the class composition framework, we understand that there is a germ for political composition involving Brazilian riders, in line with the circulation of workers’ struggles around the world, especially in Latin America.
Resumo O artigo busca construir perspectivas analíticas sobre uberização e plataformização do trabalho no Brasil desde a periferia, em busca de enfrentar persistentes obscurecimentos em torno do processo de informalização. A tese que nos orienta é de que elementos que estruturam a periferia parecem se generalizar e tecer as tendências contemporâneas da exploração capitalista do trabalho. Entendemos a uberização como um novo tipo de gestão e controle da força de trabalho com a consolidação do trabalho sob demanda, e a plataformização como dependência de plataformas digitais para executar atividades de trabalho. A primeira parte critica a importação de categorias de análise e analisa a dificuldade de estabilização conceitual quando a informalidade é regra. A segunda analisa os modos de vida periféricos para compreender um novo tipo de subordinação racionalizada, o autogerenciamento subordinado. Por fim, a última parte do artigo visa a qualificar como antigas formas de organização da produção são repostas e reconfiguradas, juntando-se à constituição de novas práticas produtivas que, em conjunto, radicalizam as bases estruturais da exploração e da dominação das classes trabalhadoras pelas classes capitalistas.
Resumo: A uberização nomeia uma nova forma de controle, gerenciamento e organização do trabalho, tendo como elementos centrais: o trabalho sob demanda e processos de informalização (Abílio, 2020a), aqui compreendidos por meio da perda de formas estáveis e fixáveis dos modos de controle dentre outros elementos que regem o processo de trabalho. A primeira parte do artigo aborda os elementos centrais da uberização. Na segunda parte, é feito um mergulho retrospectivo no trabalho dos motoboys e bike boys, sendo discutidas as transformações do mesmo na última década. Também são analisadas condições de trabalho e perspectivas de uma manicure que se uberizou. A definição de autogerenciamento subordinado (Abílio, 2019) tece a análise, provendo meios para a contraposição à noção de empreendedorismo, embasando também a tese de 1 A análise apresenta resultados das seguintes pesquisas por mim realizadas nos últimos dez anos: 1) Pesquisa de pós-doutorado (FEA-USP), intitulada "A nova classe média vai ao paraíso?", financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), entre 2012 e 2015; 2) Pesquisa de pós-doutorado (CESIT/UNICAMP), intitulada "Da 'nova classe média' aos 'novos pobres': Trabalho, desenvolvimento e políticas de austeridade no Brasil contemporâneo, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) entre 2017 e 2021; 3) Pesquisa em andamento de pós-doutorado (CESIT/UNICAMP), intitulada Uberização: Saúde e Condições de trabalho do trabalhador just-in-time", financiada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT -15ª região); 4) Pesquisa por mim coordenada junto à Fundação Perseu Abramo, intitulada Informalidade no Brasil Contemporâneo, realizada entre 2018 e 2019, financiada pela Fundação Perseu Abramo.
A uberização é definida como novo tipo de controle e gerenciamento do trabalho associado a um processo de informalização, que leva à consolidação do trabalhador sob demanda. A partir do trabalho de bikeboys e motoboys, discute-se a participação de jovens negros nesse tipo de trabalho, à luz do gerenciamento algorítmico e do controle centralizado de modos de vida periféricos. Analisam-se as condições de trabalho dos entregadores e sua organização política durante a pandemia de Covid-19.
This article discusses how Brazilian platform workers experience and respond to platform scams through three case studies. Drawing from digital ethnographic research, vlogs/interviews of workers, and literature review, we argue for a conceptualization of “platform scam” that focuses on multiple forms of platform dishonesty and uncertainty. We characterize scam as a structuring element of the algorithmic management enacted by platform labor. The first case engages with when platforms scam workers by discussing Uber drivers’ experiences with the illusive surge pricing. The second case discusses when workers (have to) scam platforms by focusing on Amazon Mechanical Turk microworkers’ experiences with faking their identities. The third case presents when platforms lead workers to scam third parties, by engaging with how Brazilian click farm platforms’ workers use bots/fake accounts to engage with social media. Our focus on “platform scams” thus highlights the particular dimensions of faking, fraud, and deception operating in platform labor. This notion of platform scam expands and complexifies the understanding of scam within platform labor studies. Departing from workers’ experiences, we engage with the asymmetries and unequal power relations present in the algorithmic management of labor.
Background Africa is the global region where modern-slavery is most prevalent, especially among women and girls. Despite the severe health consequences of human trafficking, evidence on the risks and experiences of trafficked adolescents and young women is scarce for the region. This paper addresses this gap by exploring the intersections between violence, migration and exploitation among girls and young women identified as trafficking survivors in Nigeria and Uganda. Methods We conducted secondary analysis of the largest routine dataset on human trafficking survivors. We used descriptive statistics to report the experiences of female survivors younger than 25 years-old from Nigeria and Uganda. We also conducted 16 semi-structured interviews with adolescents identified as trafficked in both countries. We used thematic analysis to explore participants’ perceptions and experiences before, during and after the trafficking situation. Results Young female survivors of human trafficking in Nigeria and Uganda are exposed to a range of experiences of violence before migration, during transit and at destination. The qualitative data revealed that children and adolescents migrated to escape family poverty, violence and neglect. They had very low levels of education and most had their studies interrupted before migrating. Family members and close social contacts were the most common intermediaries for their migration. During transit, sexual violence and hunger were common, especially among Nigerians. Participants in both the quantitative and qualitative studies reported high levels of violence, deception, coercion, withheld wages and poor working conditions at destination. The adolescents interviewed in the qualitative study reported severe mental suffering, including suicide attempts. Only one reported the prosecution of perpetrators. Conclusions Our findings suggest that interventions to prevent or mitigate the negative impact of adverse childhood experiences can contribute to preventing the trafficking of adolescents in Nigeria and Uganda. These interventions include social protection mechanisms, universal access to education, social service referrals and education of parents and carers. Importantly, effective prevention also needs to address the systemic conditions that makes trafficking of female adolescents invisible, profitable and inconsequential for perpetrators.
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