<p class="western"><span style="color: #000000;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">EMBORA DE USO FREQÜENTE, POUCO SE CONHECE, QUANDO NÃO SE CONFUNDE, A ORIGEM HISTÓRICA DA PALAVRA E DO CONCEITO DE “NEGRITUDE” NO BRASIL. ESTE ARTIGO SE PROPÕE A ANALISAR COMO O TERMO, CRIADO NO FINAL DOS ANOS 1930 POR INTELECTUAIS NEGROS DE LÍNGUA FRANCESA, SE IMPLANTOU, FOI RECEBIDO E SOFREU VARIAÇÕES SEMÂNTICAS NO PROCESSO DE ACLIMATAÇÃO À NOVA LÍNGUA E AO PAÍS, ESPECIALMENTE NA CIDADE DE SÃO PAULO, ONDE SE TENTOU NOMEAR O IDEAL DE VALORIZAÇÃO DO NEGRO TAMBÉM COMO “NEGRIDADE” E, POR UM CURTO PERÍODO DE TEMPO, “NEGRÍCIA”.</span></span></span></p>
Resumo A carta de Luiz Gama a Lúcio de Mendonça, datada de 25 de julho de 1880, traz a história de vida do único ex-escravo brasileiro que se destaca ria como homem de letras e líder dos movimentos abolicionista e republicano.Neste trabalho, pretendemos mostrar como esta carta, em geral considerada de forma isolada, se inscreve numa rede intertextual que modifica e multiplica seus níveis de leitura. Sua originalidade reside tanto no valor do depoimento como nos seus fenômenos enunciativos. Evocamos também a história inédita de um documento que só vem a lume nos anos 1930, cercada de uma polêmica que amplia hoje as possibilidades interpretativas. Por fim, analisar as fronteiras entre os gêneros epistolar e autobiográfico permite-nos questionar em que medida se trata realmente de uma "Autobiografia' , tal como esta carta vem sendo apresen tada há mais de sessenta anos. Palavras-chave Luiz Gama; escritor negro; Lúcio de Mendonça; cartas; autobiografia; escravidão; abolicionismo; república.Abstract The letter from Luiz Gama to Lúcio de Mendonça, dated July 25th, 1880, brings the story of life of the only Brazilian former slave that was to stand out as scholarly man of letters and leader of the abolitionist and republican movements. In this paper; we propose to show how this letter; generally considered only in isolation, is, in fact, inscribed in an intertextual network that modifies and multiplies reading levels. Originality consists both in the value of the testimony and in its enunciation phenomena. We also evoke the novelty history of a document that only comes to fore in the 1930s, surrounded by a polemic that widens interpretative possibilities. Finally, to analyze the borders between the epistolary and autobiographical genres allows us to question up to what point this really is an " Autobiography'', as this letter has been presented for over sixty years. Keywords Luiz Gama; black writer; Lúcio de Mendonça; letters; autobiography; slavery; abolitionism; republic. Nul ne peut écrire la vie d'un homme que lui-même [Jean-Jacques Rousseau] No largo do Arouche, em São Paulo, ergue-se, praticamente invisível aos apressados transeuntes, o busto imponente do poeta, jornalista e advogado Luiz Gama (Bahia, 1830 -São Paulo, 1882). Trata-se de um dos raros intelectuais negros brasileiros do século x ix , o único autodidata e também o único a ter sofrido a escravidão, antes de integrar a República das Letras, universo reservado aos brancos. Nascido num Brasil havia pouco independente, era filho, segundo ele, de uma africana e de um pai de origem portuguesa que o venderia, ainda criança, como escravo. Foi nesta condição que chegou à capital paulista, onde viveu por quarenta e dois anos, notabilizando-se como um de seus mais ilustres "cidadãos" Nesta cidade, Gama lançou a primeira edição de seu único livro -Primeiras trovas burlescas de Getulino (1859) -, uma co letânea de poemas satíricos e líricos até bem pouco rara.1 Pela primeira vez, na lite ratura brasileira, um negro ousara denunciar os paradoxos políticos, éticos e m...
Em 1990, Entrevistei, em dois momentos, o escritor Oswaldo de Camargo. Interessada nas formas enunciativas do “eu-negro”, o objetivo era levantar dados e registrar a voz do escritor em evocações de períodos anteriores e posteriores à sua chegada a São Paulo, onde se tornou uma referência e um elo entre gerações. Nesta entrevista inédita, que conta com a participação do poeta Paulo Colina, Camargo fala de sua formação, das associações negras, de crises existenciais, de “malungos” negros e brancos, de sua fé e do lugar de um escritor negro na literatura brasileira.
a segunda metade do século XIX, atores importantes do regime escravista e figuras emblemáticas do movimento abolicionista no Brasil abraça-ram as idéias de ernest Renan (1823-1892). a exemplo de outros pensadores franceses, sua influência marcou uma geração de homens que sofreram ou prepararam o declínio do segundo Império, tarefa que os obrigaria a enfrentar dilemas conceituais e ideológicos, tais como as relações entre Igreja e estado, Monarquia e República, raça e nação.Por ocasião do ano do Brasil na França em 2005, a universidade de Rennes 2 -Haute Bretagne organizou colóquios em torno das relações entre a Bretanha e o Brasil, um deles dedicado ao historiador, filólogo e filósofo bretão. 1 nascido na cidade de tréguier, com pouco mais de vinte anos o ex-seminarista versado em filologia hebraica e exegese vê abalada sua fé católica e, movido pelo ideal do cientificismo, empreende uma vasta história crítica do cristianismo. seu pensamento forneceu subsídios à posição do governo brasileiro perante o vaticano durante a crise desencadeada pela chamada Questão Religiosa, para citar apenas um exemplo. entre seus admiradores brasileiros encontram-se figuras contrastantes: de um lado, membros da elite política e econômica como o próprio imperador dom Pedro II (1825-1891) e Joaquim nabuco , filho e neto de senadores; de outro, um ex-escravo, Luiz Gama. três homens, enfim, separados sob inúmeros aspectos, das origens sociais e raciais às posturas ideológicas. o presente artigo pretende evocar a influência de Renan, hoje um tanto esquecida, num personagem que, pouco a pouco, vem sendo retirado dos bastidores da memória nacional. Inicialmente, referiremos alguns dados biográficos a fim de elucidar o lugar de Luiz Gama (1830-1882) no seio da elite intelectual e política brasileira e seu papel de vanguarda no movimento abolicionista. em seguida, avaliaremos em que condições acontece e que impactos produz sua leitura de Renan, uma vez que, não tendo o domínio do francês, possuía acesso limitado a obras escritas nesse idioma. Por fim, verificaremos em que medida o pensamento do historiador bretão funda a ética de um homem que encarnou a luta pelo fim da escravidão e pelos ideais republicanos no Brasil e, em particular, na província de são Paulo. * * * Poeta, jornalista e advogado, Luiz Gama é um dos raros intelectuais negros brasileiros do século XIX, o único autodidata e o único, também, a ter vivido
resumo Neste artigo pretende-se, pelo cotejo das duas primeiras edições das Primeiras Trovas Burlescas de Luiz Gama, acompanhar nascimento, formação e evolução de um autor, desde o início envolvido na organização e produção editorial de seus livros. Trata-se, na realidade, de uma obra “dupla”, por trazer ali poemas de José Bonifácio, o moço. Considerando-se que um autor é antes de tudo um leitor, buscaremos identificar, através das epígrafes, as leituras e modelos seguidos pelo novato poeta, em especial a obra do poeta português Faustino Xavier de Novais. Por fim, observaremos as mudanças e as etapas (textuais e não textuais) percorridas de uma edição a outra, buscando nos bastidores paratextuais a presença do autor, leitor e “editor” Luiz Gama.
EM 1990, ENTREVISTEI, EM DOIS MOMENTOS, O ESCRITOR OSWALDO DE CAMARGO. INTERESADA NAS FORMAS ENUNCIATIVAS DO “EU-NEGRO”, O OBJETIVO ERA LEVANTAR DADOS E REGISTRAR A VOZ DO ESCRITOR EM EVOCAÇÕES DE PERÍODOS ANTERIORES E POSTERIORES À SUA CHEGADA A SÃO PAULO, ONDE SE TORNOU UMA REFERÊNCIA E UM ELO ENTRE GERAÇÕES. NESTA ENTREVISTA INÉDITA, QUE CONTA COM A PARTICIPAÇÃO DO POETA PAULO COLINA, CAMARGO FALA DE SUA FORMAÇÃO, DAS ASSOCIAÇÕES NEGRAS, DE CRISES EXISTENCIAIS, DE “MALUNGOS” NEGROS E BRANCOS, DE SUA FÉ E DO LUGAR DE UM ESCRITOR NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.