Desde os anos 1990, um bom número de pesquisadores tem se dedicado a pensar a eugenia como uma ciência polimorfa e multifacetada que adquiriu características próprias em contextos sociais distintos. A América Latina, em particular, pode ser considerada uma espécie de laboratório para a compreensão das rupturas e permanências dos debates e aplicações eugênicas em comparação aos movimentos eugênicos desenvolvidos em outras partes do mundo. Pertencente a essa historiografia, o trabalho de Laura Suárez y López Guázo, publicado em 2005, propõe o debate da eugenia diante das diferenças raciais e a apropriação de conceitos, como o de "raça cósmica", proposto pelo intelectual José Vasconcelos, na interpretação da identidade nacional mexicana. O conceito de "raça cósmica", por exemplo, constituiria uma possibilidade de explicação harmônica para a mistura racial no país. Enfatizando as diversidades étnicas e culturais do México no início do século XX, a obra apresenta as propostas de saúde pública relacionadas à aplicação de medidas eugênicas, contribuindo para a análise comparativa de uma história da eugenia latino-americana em diferentes contextos. Laura Suárez y López Guázo é vinculada ao Laboratorio de Historia de la Biología y Evolución e professora titular da Universidad Nacional Autónoma de México.Em diálogo com trabalhos como os de Nancy Stepan e Raquel Álvarez Peláez sobre história da eugenia em países da América Latina, a autora procura situar as teses eugênicas de Francis Galton (1822-1911) em paralelo com sua recepção no contexto mexicano e suas transformações socioculturais. Seu interesse é compreender até que ponto as ideias eugênicas podem ser ditadas e interpretadas no jogo duplo entre a herança biológica e o projeto de nação e constituição da identidade nacional no México da primeira metade do século XX. A importância dessa temática insere-se na própria formação populacional do México em termos de composição étnica. A forte miscigenação entre índios, brancos e negros ajuda a A identidade da "raça cósmica": a experiência da eugenia no México
Este artigo tem como objetivo tratar o conceito eugênico de esterilização e sua discussão no contexto nacional em meados de 1920, especialmente na perspectiva de Renato Kehl. Por meio da história intelectual e da história das ciências, analiso as publicações de Kehl nos Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, periódico da Liga Brasileira de Higiene Mental, bem como em livros publicados naquela década. Assim, por meio da documentação, demonstro como a esterilização esteve presente na trajetória de Kehl antes da sua viagem à Europa no final da década de 1920.
Resumo Discute o modelo de eugenia empregado pelo médico-sanitarista Belisário Penna durante a campanha do saneamento do Brasil nas décadas de 1920 e 1930. São abordados dois conceitos fundamentais para o seu pensamento: “raça brasileira” e eugenia “preventiva”. A maneira como Penna avaliava a questão racial brasileira era fundamental para aderir à concepção eugênica aliada à medicina social e ao seu projeto de “consciência sanitária”. O texto oferece uma perspectiva de como foi bordada a concepção eugênica de Penna e o diálogo estabelecido com o movimento eugênico brasileiro, em especial com o eugenista Renato Kehl. Assim, a defesa de uma eugenia classificada como “preventiva” estabelecia coerência para um projeto reformista social via o saneamento defendido por Penna.
RESUMO Analiso a participação do médico Belisário Penna no golpe de Estado de 1930. Investigo a trajetória de Penna como médico e homem público nos anos finais da década de 1920. Discuto sua aproximação com Getúlio Vargas, a repercussão da tomada de poder em impressos periódicos, as correspondências recebidas e de que modo ocorreu a sua entrada no cargo de diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, no Governo Provisório. Em particular, apresento um sanitarista que propunha por meio de uma “consciência sanitária” um Brasil integrado regionalmente, centralizado politicamente e administrativamente e capaz de viabilizar uma reforma nacional na saúde pública.
O objetivo deste trabalho é investigar a singularidade do pensamento de Julio de Revorêdo na obra Immigração, publicada em 1934, acerca do debate de imigração ocorrido na década de 1930. Buscaremos mostrar como este autor engendra uma explicação particular em defesa da imigração japonesa, distanciando dos aspectos raciais que a negavam como “imigrante ideal”. Sobretudo, preenchendo os anseios de um projeto de nação almejado nos debates políticos. Destaca-se o diálogo de Revorêdo com intelectuais do período, conceitos biológicos e sua tese de como o imigrante japonês, negado por muitos, seria o preterido para a identidade nacional, especialmente nos quesitos de assimilação, agricultura e trabalho nacional.
<p>Este trabalho pretende traçar momentos do governo do presidente Café Filho por meio da sua presença nas capas da Revista Ilustrada <em>Careta</em> durante o período em que governou. Entremearemos a discussão entre as capas do semanário e alguns momentos do seu governo que nelas foram representadas como o início e final da sua gestão, a crise econômica e algumas questões sobre a participação de Café Filho nas eleições de 1955. </p>
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