O artigo tem por objetivo discutir a curadoria compartilhada de indígenas na construção da exposição “Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena”, realizada no Museu de Arte do Rio (MAR) entre os meses de maio de 2017 a março de 2018. Seus autores participaram da exposição na qualidade de pesquisador e curador, respectivamente, acompanhando os processos aqui narrados, as reuniões e os encontros da equipe, formada por técnicos do MAR e convidados externos, entre os quais representantes qualificados de diferentes etnias, que vivenciaram as diferentes etapas de construção da exposição. Puderam assim observar como se articularam as relações interculturais estabelecidas no processo de elaboração da referida mostra e as interlocuções diretas com os indígenas, situando-as aqui de forma sucinta no contexto das propostas sobre as estruturas do trabalho museológico da denominada “Nova Museologia”.
Te mandei um passarinho, patuá miri pupé, pintadinho de amarelo, iporanga ne iaué.Esses versos fazem parte de uma canção bilíngue recolhida por Couto de Magalhães, no Pará, em 1874, quando ainda era cantada por amplos setores da população da Amazônia. Trata-se de uma expressão da literatura oral bilíngue português-nheengatu. Existem outras canções como essa, de versos compostos simultaneamente nas duas línguas, que alternam simetricamente o português e o nheengatu, tendo a métrica e a rima como parte constitutiva da unidade textual. Couto de Magalhães concluiu que elas foram produzidas no tempo em que ambas as línguas eram "populares" e conviviam em situação de bilinguismo relativamente equilibrado, pois -na expressão dele -"as duas línguas entram na composição, com seus vocábulos puros, sem que estes sofram modificação". * Na época em que a Amazônia formava uma comunidade bilíngue, não havia necessidade de traduzir para o português os versos em nheengatu.O nheengatu, "uma das línguas de maior importância histó-rica no Brasil", * foi a língua majoritária da Amazônia durante todo o período colonial, estendendo sua hegemonia até a primeira metade do século XIX. Manteve contato permanente, através de seus falantes, com outras línguas indígenas e com o português, o que deixou marcas e influências mútuas bastante significativas. Durante três séculos, índios, mestiços, negros e portugueses trocaram experiências e bens nessa língua que se firmou como língua supraétnica, difundida amplamente pelos missionários por meio da catequese.
Aryon Rodrigues transita por diferentes áreas do conhecimento. Como linguista descreveu diversas línguas, principalmente da família Tupi, coletou dados em trabalho de campo, investiu na formação de quadros, abriu espaço acadêmico para a pesquisa em línguas indígenas, orientando teses e dissertações. Como historiador dessas línguas, evidencia erudição e conhecimento profundo da documentação específica existente em arquivos nacionais e estrangeiros. Dialogou com a produção acadêmica europeia e hispano-americana, desempenhando um papel de proeminência, como uma referência nesse campo. Este artigo destaca a sua contribuição num tópico pouco estudado no Brasil: as línguas gerais que constituem um capítulo importante da historia social das línguas, por evidenciar a dinâmica de intercâmbios interétnicos com implicações na memória regional e nacional. Foi ele quem situou a questão, trazendo esclarecimentos sobre as duas línguas gerais de base indígena que floresceram em território hoje brasileiro: a Língua Geral Paulista e a Língua Geral Amazônica.
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