Este artigo discute a memória social sobre a ditadura civil-militar brasileira, em particular a memória sobre o governo do presidente Emilio Médici. A partir da discussão da metáfora dos anos de chumbo, bem como da recuperação do período pelo viés dos anos de ouro, pretende-se analisar a complexidade dos comportamentos sociais sob a ditadura, e discutir atitudes como a passividade e a indiferença, que, tanto quanto a colaboração ativa, contribuem para a construção do consenso em torno do regime. Ao mesmo tempo, a ideia é refletir sobre a construção da memória social sobre o período em articulação com o esquecimento e os silêncios.
Este artigo pretende aprofundar estudos sobre a atuação de grupos e lideranças políticas de direita durante a crise política dos primeiros meses de 1964 que culminou no golpe civil-militar e na instauração da ditadura. Para tanto, elegerei como objeto a Marcha da Família com Deus pela Liberdade ocorrida em São Paulo no dia 19 de março de 1964, a primeira das diversas que ocorreram no país naquele ano. Especificamente, a proposta é estudar os discursos mobilizados por grupos de direita organizados, a partir do estudo de quatro aspectos do repertório político das direitas naquele momento: a evocação do papel da mulher; a articulação do discurso e a prática política cristã; a defesa da democracia e a necessidade de proteger a ordem constitucional. Todos esses aspectos adquiriam certa unidade e congruência pelo forte sentido anticomunista que os atravessavam.
Resumo Este artigo propõe analisar as comemorações, em 2019, dos 30 anos das revoluções de 1989 na Europa Central, responsáveis pela queda dos regimes comunistas na região. Para tanto, tomarei como objeto e fonte duas exposições em cartaz naquele ano: a exposição fotográfica 1989 - Pád železné opony (1989 - The Fall of the Iron Curtain), organizada em Praga, na República Tcheca; e a mostra de pôsteres ‘89 ‘90 - 30 Éve Szabadon (‘89 ‘90 - 30 Years of Freedom), em Budapeste, Hungria. A partir do estudo comparado das duas exposições, bem como da análise dos processos políticos que marcaram a transição democrática na República Tcheca e na Hungria nos últimos trinta anos, pretende-se compreender como as narrativas em torno das revoluções de 1989 vêm-se estruturando na região em um momento de crise democrática e ascensão das direitas conservadoras. Ao mesmo tempo, o artigo considera a memória em torno das revoluções de 1989 a partir do ponto de vista do chamado “retorno à Europa” dos países do antigo bloco comunista.
Resumo: Crises da memória na Europa contemporânea: 1918, 1945, 1989 e além introduz as discussões que orientaram a concepção do dossiê de mesmo título. Sob este aspecto, analisa algumas dimensões teóricas, bem como o debate historiográfico em torno da construção das memórias europeias no século XX e suas relações com os eventos traumáticos e processos de violência que caracterizaram a experiência recente do continente. Considera, assim, a memória, em suas variantes comunicativa, cultural e política, bem como sua importância central para se compreender as tensões entre uma identidade europeia e as variadas identidades nacionais.
Por uma história do cotidiano dos regimes autoritários no século XX
Por una historia del cotidiano de los regímenes autoritarios en el siglo XX For a history of the daily lives in authoritarian regimes in the 20th centuryJanaina Martins Cordeiro* Lívia Gonçalves Magalhães** Em língua portuguesa, os dicionários comportam pelo menos duas definições para a palavra cotidiano: primeiramente, significa o "conjunto das ações que ocorrem todos os dias", mas é também aquilo que "não é extraordinário; comum ou banal". Já no idioma inglês, as palavras everyday e daily aparecem como sinônimos podendo significar, de acordo com o Oxford English Dictionary, "happening or used every day". O vocábulo daily, por sua vez, se tem uma definição muito próxima da de everyday ("one, produced, or occurring every day or every weekday"), comporta também outros sentidos. É o que verificamos, por exemplo, na expressão daily life, a qual possui acepção bastante similar ao segundo significado que a palavra cotidiano possui em português: "the activities and experiences that constitute a person's normal existence". Na língua espanhola, também é possível distinguir dois termos diferentes: cotidiano, para se referir ao que "ocurre con frecuencia, habitual" e cotidianidad, entendido como a "característica de lo que es normal porque pasa todos los días". Assim, o cotidiano pode estar ligado, ao mesmo tempo, às ideias de repetição e rotina e à de normalidade.
Embora revisionismo e negacionismo sejam termos e conceitos que aludam a coisas distintas, não raramente são confundidos em estudos sobre diferentes temáticas e conjunturas. Este artigo procura diferenciá-los e analisar as razões e os processos a partir dos quais em muitos momentos os dois termos se confundiram. A questão ganhou visibilidade particular nas polêmicas em torno dos crimes nazistas na Segunda Guerra Mundial, mas envolve controvérsias anteriores e posteriores ao conflito. Tal realidade pode ser observada em três dimensões que, sendo autônomas, com frequência, se embaralharam: (a) política e ideológica; (b) historiográfica; (c) judicial. Envolvendo disputas do passado, a interpenetração dessas dimensões ocorre, sobretudo, quando estão em causa temas da história do Tempo Presente.
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