Introdução: Determinados fatores individuais, sociais e programáticos dificultam a realização da testagem anti-vírus da imunodeficiência humana em travestis e mulheres transexuais. Portanto, conhecer esses fatores é imprescindível para a adoção de estratégias de ampliação de acesso ao teste e, consequentemente, aumentar o conhecimento do status sorológico e tratamento precoce nesse grupo. Objetivo: Estimar a prevalência de testagem anti-vírus da imunodeficiência humana e os fatores associados à realização do teste, entre travestis e mulheres transexuais, residentes ou trabalhadoras da cidade do Recife (PE). Métodos: Estudo quantitativo, de corte seccional, com base em 350 recrutadas pela metodologia Respondent-Driven Sampling entre janeiro e março de 2017. A análise de dados considerou o desenho complexo de amostragem. Foram estimadas as prevalências de realização do teste de vírus da imunodeficiência humana no último ano anterior à entrevista. Por meio de modelos de regressão logística foram identificados fatores associados à testagem regular de vírus da imunodeficiência humana. Resultados: A cobertura de teste no último ano foi de apenas 48,3%. Entre os fatores associados à maior probabilidade de realização de teste de vírus da imunodeficiência humana no último ano, destacaram-se a identidade de gênero como mulher (odds ratio=2,34, intervalo de confiança 95% 1,11–4,93), não ter sido presa (odds ratio=7,32, intervalo de confiança 95% 2,92–18,30) e não ter se sentido mal consigo mesma nem ter se achado um fracasso ou uma decepção (odds ratio=7,57, intervalo de confiança 95% 2,74–20,90). Conclusão: O achado de baixa prevalência de testagem no último ano (48,3%) e os fatores associados à maior probabilidade de realização do teste, relacionados a maior aceitação da condição transexual, apontam para que sejam adotadas abordagens inovadoras para testagem ao vírus da imunodeficiência humana, atendendo melhor às necessidades da população de travestis e mulheres transexuais e centradas nas barreiras de acesso ao diagnóstico e tratamento, com estímulo a práticas sexuais seguras, enfrentamento do estigma e das condições de vulnerabilidade.