IntroduçãoA posição do Brasil no processo de integração regional, ao longo do tempo e atualmente, deve ser compreendida à luz de fatores estruturais e históricos da política exterior. Isso nem sempre implica rigidez e impossibilidade de mudança, mas são aspectos que devem ser considerados para a exata compreensão das dificuldades havidas. Essas não podem ser vistas, como às vezes se argumenta, como originadas apenas em questões econômicas ou em visões não convergentes em assuntos internacionais. Parece haver tensão entre necessidades estruturais da integração e atitudes e posições de importantes atores sociais e governamentais, não apenas da diplomacia. A origem está nas atitudes de parte das elites e de grupos de interesse que contribuem para formar a vontade do Estado.Podemos considerar que dois conceitos muito importantes na formulação da política externa, autonomia e universalismo, enraizados na sociedade e no Estado, confluem para a construção de uma visão de inserção regional que dificulta o aprofundamento do Mercosul.Há razões objetivas para explicar as dificuldades havidas ao longo de vinte anos. Uma refere-se ao desafio de integrar países em desenvolvimento, com Artigo * Professor titular da Universidade Estadual Paulista -UNESP, pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea -CEDEC e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq (vigevanit@uol.com.br
O objetivo deste trabalho é analisar a forma como algumas escolas de pensamento, representadas por figuras significativas, percebem no Brasil o tema da integração regional. O foco é a segunda metade do século XX, buscando compreender as concepções de projeção regional e internacional do país, que fundamentam as possibilidades de integração. Para isso, serão discutidos os seguintes temas: o papel do Estado, a visão de país, o nacionalismo, o desenvolvimento econômico e o subdesenvolvimento, o reconhecimento internacional e a percepção dos vizinhos. A ideia da especificidade frente aos países vizinhos é um elemento presente na obra de intelectuais e de formuladores de políticas. Ela se faz presente em muitos países, inclusive em outros dessa região. Buscaremos entender como essa ideia evoluiu no Brasil, chegando, nos anos 1980, à aceitação da existência de uma comunidade de interesses com os países do Cone Sul e da América do Sul.
This article presents the increasing demands over the Brazilian Ministry of Foreign Affairs (Itamaraty) for opening its doors to other actors. This discussion will be followed by relevant theoretical and methodological analysis. We will defend the need to overcome problems related to: 1) conceptual vagueness about what the concept of participation means; 2) lack of clarity in the baseline to which comparisons are made; 3) fragile empirical basis; 4) limitations on the use of sources; and 5) how to understand the impact exerted by systemic forces.
This article aims to analyze the impact of domestic politics and international changes that influence Brazilian positions regarding regional integration processes in South America, particularly the Southern Common Market, Mercosur. The dynamics of the international system and their impact on the evolution of the elite's perception of the role the country should play in the world are important variables for understanding these positions. The state's postures in relation to integration were and are based on a real interest, but this interest is also linked with the objective of ensuring better conditions for participation in other international arenas. Starting with the hypothesis that transformations in the international setting have strongly influenced Brazil's positioning, the elements of continuity and change in the country's behavior toward Mercosur are identified, with domestic politics as the main explanation.
Citizens and activists in Brazil were optimistic about their role in shaping public policies after the democratic wave of the 1980s, particularly in the field of international trade negotiations. Observers point out that the state is more open than in previous decades and that Itamaraty (the Brazilian Ministry of Foreign Affairs) is losing its grip over the decisionmaking process. In this article, we dispute this affirmation. First, we demonstrate the analytical overlap between participation and influence in the literature. Second, we argue that the decision-making process was far more democratic, and Itamaraty less powerful, from 1946 to 1973 than it is today; participation in the policy arena was associated with influence. Democratization in the political regime in Brazil after 1985 did not bring democratization to the decision-making process in our case. We conclude by presenting some suggestions on how to bridge the current chasm between participation and influence in Brazilian foreign policy.
O objetivo deste trabalho consiste em analisar a construção do que chamamos de "modelo de Mercosul" presente na política externa brasileira, desde o início da década de 1990 até a segunda metade da década de 2000. Partindo do pressuposto de que as posições do Brasil têm um papel relevante na definição do arcabouço do processo de integração, a hipótese é que o padrão de comportamento brasileiro limita a amplitude do bloco, principalmente no que se refere à questão do seu aprofundamento, pois envolve questões como o comprometimento com as decisões tomadas, a legitimidade dos mecanismos institucionais criados, a coordenação das expectativas dos diversos atores domésticos e, principalmente, o alcance das medidas propostas para solucionar ou diminuir as assimetrias existentes entre os estados. As posições brasileiras são fundamentadas na lógica da intergovernamentalidade e são mais adaptadas à expansão do bloco do que propriamente ao seu aprofundamento. O artigo aborda os aspectos formadores do padrão de comportamento externo do Brasil e, em seguida, procura identificar as principais linhas de atuação do país em relação ao bloco no período analisado. Um dos argumentos principais do artigo diz respeito às sucessivas crises institucionais do Mercosul, procurando relacioná-las aos limites estruturais desse modelo, que é compatível com os elementos formadores da política externa brasileira, mas que não tem se mostrado suficiente para sustentar um processo de aprofundamento da integração.
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