A palavra juventude abrange inúmeras conceituações, definições e indefinições que suscitam um debate acerca do próprio conceito e, principalmente, dos sujeitos inseridos nessa categoria. Ao se incluir a temática do uso de drogas na discussão das juventudes, particularmente dos jovens pobres, amplia-se o campo para estigmatizações, ambiguidades, simplificações e equívocos, associando-se, de forma preconceituosa, drogas e pobreza, sem se buscar a compreensão devida dos sujeitos que fazem parte desse panorama. Apresentam-se aqui dados de duas pesquisas de mestrado filiadas teórico-metodologicamente à Terapia Ocupacional Social e apoiadas pelas contribuições da etnografia e da etnometodologia. Ambas foram realizadas com jovens pobres de uma cidade de médio porte do interior do estado de São Paulo, as quais objetivaram uma maior aproximação e apreensão do universo desses jovens e as relações estabelecidas com e por meio das drogas em seu cotidiano. As pesquisas apontaram que a inserção das drogas na vida deles se dá de maneira diversa daquela assumida pelo senso comum, ou seja, afigura-se, apenas, como mais um dos muitos fatores de vulnerabilização a que estão expostos em um cotidiano de desigualdade social. Com isso, consideramos que, a fim de que se possa de fato propor ações profissionais em terapia ocupacional que se façam efetivas frente às temáticas droga e juventude pobre e suas interrelações, é preciso que se busque maior aproximação com o universo dos jovens e que se compreenda, a partir do olhar deles, as faces e as interfaces dessas temáticas numa sociedade pautada pela desigualdade socioeconômica.
Resumo: O presente artigo resulta de um processo de reflexão acerca da temática terapia ocupacional e cultura, através da análise das experiências práticas de um projeto de extensão. Objetivou-se aprofundar os conhecimentos da terapia ocupacional em contextos culturais e as ações técnicas do terapeuta ocupacional neste âmbito, à luz das questões de etnicidade. Trata-se de uma pesquisa documental e qualitativa. O objeto de análise foram os relatos de experiência dos extensionistas e da técnica de terapia ocupacional, coletados por meio dos seus relatórios escritos entre 2012 e 2014. Para análise dos dados, utilizaram-se as categorizações propostas por Bardin. As categorias de análise encontradas dizem respeito às ações técnicas em terapia ocupacional, intituladas ação cultural e ação étnica. Os resultados demonstraram que, nas experiências realizadas junto à comunidade Guarani, existem ações relevantes e consolidadas da terapia ocupacional neste contexto. As ações técnicas exercidas ratificam a relevância do papel do terapeuta ocupacional nos contextos culturais e na esfera da etnicidade. Essas práticas, por conseguinte, são pertinentes para a produção de conhecimento e para a formação teórico-metodológica e profissional em terapia ocupacional social e contextos culturais. Destaca-se que procedimentos técnicos coerentes com as questões de etnicidade, numa relação conjunta e horizontal, articulados pela mediação cultural, podem fortalecer os fazeres humanos e as afirmações identitárias.Abstract: This article is the result of a reflection process on the issue of occupational therapy and culture through analysis of practical experiences of a extension project. It aimed to increase knowledge and reflections of occupational therapy and its technical actions in cultural contexts from the perspective of ethnicity issues. It is a documental and qualitative research was aiming to report the experience of students and an occupational therapist, obtained through their written reports between 2012 and 2014. Data were analyzed using the categorizations proposed by Bardin. The categories of analysis found are related to technical activities in occupational therapy, namely: cultural and ethnic action. The results showed that, in the experiences with the Guarani community, there are already significant and consolidated actions of occupational therapy in cultural contexts. The technical actions already performed confirm the relevance of the occupational therapist role in the cultural context and in the ethnicity context. These practices are, in turn, relevant for the production of knowledge, the theoretical and methodological scope and professional training in social and cultural contexts of occupational therapy. It is emphasized that technical procedures coherent with the ethnicity issues in a joint relationship, articulated by cultural mediation, can strengthen human doings and identity claims.
A pandemia provocada pela CoVid-19 tem se expandido e levado à uma grave crise mundial. A partir do contexto brasileiro, este ensaio objetiva reunir, sob a perspectiva da terapia ocupacional social, reflexões sobre essa pandemia com foco nas questões socioeconômicas e políticas. Concluímos que os impactos dessa crise possuem a marca da desigualdade, uma vez que expõem a população mais pobre a maiores riscos de contaminação e à intensificação das vulnerabilidades sociais. O Estado brasileiro tem empreendido uma necropolítica, que pouco responde às demandas desses grupos populacionais e imputa à classe trabalhadora uma conta que é estrutural do capitalismo. AbstractThe pandemic caused by CoVid-19 has been expanding and leading to a serious global crisis. From the Brazilian context, this essay aims to gather, from the perspective of social occupational therapy, reflections on this pandemic with a focus on socioeconomic and political issues. We conclude that the impacts of this crisis have the mark of inequality, since it exposes the poorest population to greater risks of contamination and to the intensification of social vulnerabilities. The Brazilian State has undertaken a necropolitics, which produces few responses to the demands of these population groups and charges the working class with a bill that is structural of capitalism.Keywords: Pandemics, social inequality, occupational therapy.ResumenLa pandemia causada por CoVid-19 se ha expandido y ha llevado a una grave crisis mundial. Desde el contexto brasileño, este ensayo tiene como objetivo reunir, desde la perspectiva de la terapia ocupacional social, reflexiones sobre esta pandemia con un enfoque en temas socioeconómicos y políticos. Llegamos a la conclusión de que los impactos de esta crisis llevan la marca de la desigualdad, ya que exponen a la población más pobre a mayores riesgos de contaminación y a la intensificación de las vulnerabilidades sociales. El Estado brasileño ha emprendido una necropolítica, que responde poco a las demandas de estos grupos de población y carga a la clase trabajadora con una cuenta que es estructural del capitalismo.Palabras clave: Pandemia, desigualdad social, terapia ocupacional.
Resumo: Introdução: Os terapeutas ocupacionais, ao longo de sua história, defrontaram-se com a necessidade de ofertar ações concernentes às problemáticas socioculturais dos mais diversos públicos com os quais interagem, necessitando desenvolver ações pertinentes a esses contextos. Além disso, intervenções pertencentes ao âmbito da cultura, de forma focalizada, também têm sido compreendidas como da alçada deste profissional. Objetivo: Relatar a experiência do programa METUIA da Universidade Federal do Espírito Santo, que ilustra, sob o viés da terapia ocupacional social, as oficinas culturais e os acompanhamentos individuais e territoriais empreendidos durante um período de seis meses, no contexto sociocultural de uma comunidade periférica do município de Vitória, ES. Método: A construção conjunta das atividades visava à ampliação das redes sociais de suporte, à potencialização da infância e da juventude participantes e a participação social, além da construção de projetos de vida próprios às suas identidades culturais. Resultados: As oficinas culturais proporcionaram a identificação de diferentes demandas colocadas pelas crianças, pelos adolescentes e jovens, partindo da articulação entre distintos olhares e reflexões que se colocavam em choque por meio do reconhecimento da alteridade entre os grupos e os terapeutas ocupacionais. Conclusão: Almeja-se que experiências aqui retratadas possam contribuir para a consolidação das ações dos terapeutas ocupacionais no âmbito da cultura, trazendo elementos que possam promover reflexões para um campo que ainda necessita ser sistematizado como detentor de práticas e pesquisas nesta categoria profissional, sobretudo no campo social.
Os estudos sobre a juventude e os cursos da vida revelam a ambivalência entre o desejo de ser e permanecer jovem e o imaginário em torno dos “perigos” trazidos por esse grupo. Diversas discussões encontram-se focadas nas problematizações em torno de jovens pobres, principalmente aqueles que fazem uso de drogas, sobre os quais se realiza uma abordagem imbuída pela falta, pela criminalização ou pela medicalização. Partindo de uma compreensão social sobre o tema e a desconstrução de estereótipos calcados no imaginário social, buscamos identificar as redes sociais, formais e informais, de jovens que dizem que usam drogas ilícitas, na periferia urbana de um município de médio porte de São Paulo. Para tanto, realizou-se um trabalho de campo de base etnográfica, por dois anos, junto àqueles que nos diziam que precisavam ou já precisaram de algum auxílio devido ao uso de drogas. Apresenta-se a história de Pedrinho e os seus caminhos tecidos para a obtenção de suportes, centrados em sua mãe, numa colega da prostituição e em dois líderes religiosos, um pastor e um pai de santo. A análise de suas redes sociais, principalmente as de cunho religioso, ressalta a ambivalência presente e revela o suporte fornecido na relação com as pessoas, desconstruindo os discursos acerca da “salvação” de usuários de droga pela fé. O caráter informal de suas redes demonstra os agenciamentos trazidos pela vida, permitindo-nos alicerçar Pedrinho como parte de uma realidade possível e que transcende as instituições formais de auxílio, que não ofertaram repostas condizentes à sua realidade.
Introduction: The production of knowledge in Occupational Therapy has been making progress worldwide.Objective: To understand how Occupational Therapy has developed as an academic discipline, particularly with respect to its areas of research at different universities.Methods: The Occupational Therapy postgraduate programs around the world (such as master’s degrees and doctoral programs), registered at World Federation of Occupational Therapists (WFOT) until 2015, were mapped and the websites of each program were visited to complete the information.Results: Data from 266 institutions that offered postgraduate programs were collected and analyzed. As of 2015, there were 348 programs in 11 countries; 225 professional master’s degrees, 69 academic master’s degrees, 30 post-professional doctorates in Occupational Therapy (PPOTD), and 24 academic doctorates (PhD). Such programs have existed since 1918 and had two major growth periods in 1940 and 1990.Conclusions: The number of postgraduate programs in occupational therapy is fairly limited. Only 16% of the countries that offer undergraduate courses also have master’s or doctoral programs. There are few postgraduate programs, especially at the doctoral level, which has limited the academic scope of this field.
Resumo O avanço das comunidades terapêuticas no Brasil aponta para um retorno ao paradigma manicomial, com financiamento público para internações baseadas em laborterapia e conversão religiosa. No Espírito Santo, a relação entre essas instituições e setores do governo se amplia a partir de 2013. Diante deste cenário, objetivamos analisar, por meio desta pesquisa qualitativa, o papel das comunidades terapêuticas religiosas no tratamento de indivíduos em uso abusivo de drogas, focalizando no impacto dos métodos religiosos empregados nestes locais. Para isso, realizamos entrevistas semiestruturadas com 28 indivíduos egressos de internações nestes locais. As entrevistas foram realizadas durante seis meses e, posteriormente, transcritas na íntegra. Os dados foram analisados por meio da Análise do Discurso. Os discursos dos sujeitos oscilaram: 13 referiram que as instituições tiveram um importante papel em seus processos de tratamento e que os métodos religiosos os ajudaram; e 15 defenderam que as instituições não foram eficientes em seus tratamentos e que os métodos religiosos nada contribuíram. O estudo elucidou a necessidade de fiscalização destas instituições, bem como reflexão sobre a pertinência das mesmas como locais financiados publicamente para o tratamento da população usuária de drogas.
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