Trata-se de um homem (C.J.S.) de 33 anos que, em 19/06/2001, apresentando intensa agitação psicomotora, deu entrada no Serviço de Pronto Atendimento do Hospital das Clínicas da UFMG, com história de um a dois dias de evolução caracterizada por chiado no peito (referido como "crise asmática"), tosse persistente (pouco produtiva, com expectoração mucosa), dispnéia e provável febre. Era etilista contumaz, mas não cultivava o hábito de fumar. Havia menção a tratamento cirúrgico para correção de "hérnia" e biopsia (a céu aberto) para esclarecimento de doença hepática, realizada em 1976 (resultado não disponível).Ao exame clínico, detectou-se acentuado dismorfi smo somático, que incluía: porte atarracado, baixa estatura (1m46cm); pescoço curto; macrocefalia, com proeminência frontal (perímetro cefálico: 61cm); ponte nasal rebaixada, nariz largo e chato, narinas amplas; orelhas e lábios grosseiros, proeminentes; macrognatia; macroglossia; dentes espaçados, afi lados e projetados anteriormente; mãos e pés largos, curtos, com dedos grossos e unhas amplas; tórax deformado, reduzido na porção superior e expandido na inferior; cifoescoliose; genu valgum e pelve reduzida. Identifi cou-se, também, hipoacusia e defi ciência visual, mas, à simples inspeção, não se percebeu turvação corneana. Havia evidente difi culdade respiratória, com esforço predominantemente expiratório. A pressão arterial era 130 x 70 mmHg, a freqüência cardíaca 120 bpm e a freqüência respiratória 38 ipm. Não foram descritas alterações à ausculta cardíaca, ao passo que, à ausculta respiratória, descreveram-se roncos e sibilos disseminados em ambos os hemitórax, além de crepitações, mais evidentes nas bases. O fígado, de consistência aumentada, foi palpado a oito centímetros do rebordo costal direito e a dez centímetros do apêndice xifóide.Diante da suspeita de asma brônquica associada a possível processo infeccioso (sinusite aguda e/ou broncopneumonia), prescreveu-se oxigênio suplementar, micronebulização com fenoterol/brometo de ipratrópio, corticosteróide por via intravenosa, antimicrobiano (amoxicilina) e sintomáticos, sem que se obtivesse melhora signifi cativa.Hemogramas seriados, realizados em 19/06, 21/06 e 22/06, revelaram expressivo desvio à esquerda (até 16% de neutrófi los bastonetes) e presença de granulações tóxicas nos neutrófi los, de modo a reforçar a hipótese de infecção bacteriana. Não há menção a estudo radiológico dos seios da face. A radiografi a do tórax, realizada logo após a internação, revelou aumento da silhueta cardíaca e confi guração "em remo" dos arcos costais, mas não mostrou consolidações (que favorecessem o diagnóstico de processo infeccioso broncopulmonar) nem sinais de congestão/edema pulmonar. Mesmo assim, manteve-se a antibioticoterapia e instituiu-se, também sem sucesso, tratamento para presumível insuficiência cardíaca congestiva, com furosemida, captopril e desacetillanatosídeo C. Solicitou-se ecodopplercardiograma, que foi realizado em condições não muito favoráveis, pois o paciente encontrava-se dispnéico e exibia ...