O acesso ao ensino superior é fundamental para diminuir as desvantagens de pessoas com origens nos grupos menos privilegiados, na medida em que aumenta as chances de mobilidade social ascendente. A literatura sobre estratificação educacional nos ensina que tanto o acesso aos diferentes tipos de modalidade ofertada (bacharelados, licenciaturas, cursos tecnológicos) quanto quais cursos são escolhidos (medicina, administração ou pedagogia) influenciam as chances de alcançar os melhores empregos. Tendo em vista que os diferentes diplomas universitários não são iguais em termos das vantagens que trazem para os diplomados, e que há diferenças de acesso entre os cursos universitários em termos de classe, gênero e raça, o perfil de acesso a esses cursos deve ser analisado. Neste artigo, avaliamos de forma inédita e desagregada o padrão de expansão do ensino superior brasileiro e como se configuram as oportunidades no sistema. Mobilizando dados do Inep, nossos resultados apontam que pessoas com origem nos estratos mais altos (pais com ensino superior) tinham probabilidade significativamente maior de entrar nos cursos de maior prestígio (medicina, odontologia, engenharias etc.) e em instituições públicas do que pessoas com origem nas classes mais baixas. Também encontramos forte estratificação por gênero tendo em vista que homens têm maior probabilidade de entrar em cursos das ciências exatas e mulheres em cursos relacionados ao ensino e aos cuidados. A estratificação por gênero, no entanto, combina-se de forma não linear com a estratificação por classe de origem, na medida em que há cursos típicos de homens de classe alta, mulheres de classe alta, homens de classe baixa e mulheres de classe baixa.
A inclusão dos "pardos", ao lado dos "pretos", como beneficiários das políticas públicas de ação afirmativa no ensino superior e em concursos públicos não é algo consensual mesmo entre aqueles que defendem tais medidas. A discriminação racial contra os pardos é ignorada ou negada por boa parte dos brasileiros e, portanto, para muitos parece ilógico dedicar às pessoas autoclassificadas como tal mecanismos específicos de promoção socioeconômica. Pesquisas de opinião e entrevistas demonstram que os pardos muitas vezes não são vistos como um grupo discriminado (Almeida, Schroeder e Cheibub, 2002;Schwartzman, 2009). A complexidade das classificações de cor no Brasil, por sua vez, é também usada com frequência como argumento para descaracterizar esse grupo como possível beneficiário legítimo de ações afirmativas. No debate acerca da legitimidade da implantação de políticas de ação afirmativa raciais no Brasil, vários publicistas e acadêmicos contrários a tais medidas alegaram ser difícil classificar racialmente os brasileiros, em particular aqueles que se encontram no meio do continuum de cor, o que tornaria inviável uma política pública dirigida a esse grupo (Florentino, 2007;Magnoli, 2007;Pena, 2007).Desde a década de 1970 a discriminação contra os pardos vem sendo registrada com tal consistência que até o Estado foi convencido de sua importância para a formulação de políticas públicas. Contudo, os pró-prios pardos não parecem detectá-la: quando indagados acerca de suas http://dx
A queda da desigualdade de renda per capita é um dos fenômenos mais estudados da última década no Brasil, com alguns consensos bem estabelecidos. Um dos mais importantes diz respeito às causas desse fenômeno: se, por um lado, a expansão das transferências públi-cas, como as do Programa Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada, desempenhou um papel relevante, por outro, não há dú-vidas de que o mercado de trabalho foi o principal fator por trás da queda da desigualdade (Soares, 2006;Barros, Franco e Mendonça, 2007a; Hoffmann, 2007).Há argumentos de diversos tipos para explicar por que o mercado de trabalho tornou-se menos desigual, desde investigações sobre a relativa homogeneização da composição etária da população e, portanto, diminuição dos retornos para a experiência (Barros et al., 2007) até aná-lises de mudanças na segmentação setorial e espacial no Brasil (Ferreira et al., 2006; Barros, Franco e Mendonça, 2007b). No entanto, maior peso costuma ser dado às mudanças na composição educacional e nos retornos à educação da força de trabalho como grandes causas dessa queda recente (Menezes-Filho, Fernandes e Picchetti, 2006;Barros, Franco e Mendonça, 2007a).
IntroduçãoO Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo. No entanto, nos últimos anos, a desigualdade de rendimentos tem caído sistematicamente (Ferreira e Barros, 1998; Ferreira e Litchfield, 2001;Silva, 2003;Barros et al., 2006b; a;Ferreira et al., 2006). Ao mesmo tempo, desde meados da últi-ma década, a retomada do crescimento econômico promoveu forte expansão do assalariamento formal e queda do desemprego (Guimarães, 2012). Esse cenário motiva o questionamento sobre a relação entre esses dois processos, isto é, sobre como as tendên-cias ocupacionais do mercado de trabalho brasileiro se relacionam com a queda das desigualdades. Neste artigo, pretendemos compreender como as desigualdades se relacionam com a estrutura ocupacional e como foram afetadas pela expansão do emprego.De forma geral, um pesquisador interessado no estudo desse tema tem diante de si dois tipos de estratégia. Na primeira, há um caminho no qual a preocupação central é entender aspectos que estruturam o nível de renda dos indivíduos, basicamente através da associação entre variáveis num modelo multivariado. Um economista destacaria a importância do nível de escolaridade e da experiência do indivíduo (capital humano), além de outros fatores relacionados à produtividade (Becker, 1976). Apesar das diferenças disciplinares, um sociólogo diante do mesmo tema se comporta de forma relativamente parecida. Se estereotipássemos os nossos colegas de profissão como fizemos com os economistas, o destaque iria para o papel da estrutura ocupacional e de fatores adscritos ou "herdados" (raça, sexo). Tanto na literatura internacional quanto na brasileira, contamos com excelentes estudos sobre o tema
IntroduçãoPelo menos desde a década de 1940, quando Donald Pierson (1945 caracterizou o Brasil como uma "sociedade multirracial de classes", e principalmente a partir dos anos de 1950, com a série de estudos sobre relações raciais patrocinados pela Unesco, consolidou-se em nosso país um longo debate sobre a importância relativa da estrutura de classes e das barreiras raciais na estruturação das nossas desigualdades. Nos últimos anos, especialmente com a discussão acerca das cotas em universidades públicas, o debate público e acadêmico retomou a questão com um foco mais restrito à desigualdade de oportunidades. Por trás da maioria dos discursos -acadêmicos e políticos -podemos distinguir claramente tentativas de responder à pergunta: as desigualdades de oportunidades são determinadas pelas barreiras de classe ou pelo preconceito racial?Neste artigo, esperamos contribuir para uma melhor compreensão desta questão com base na análise da mobilidade social intergeracional no Brasil em 1982 e 1996. 1 Embora haja críticas relevantes quanto à possibilidade de interpretar a associação intergeracional como uma medida unívoca do grau de igualdade de oportunidades (ver swift, 2004), pensamos que esta associação ainda assim pode ser vista como uma proxy bastante satisfatória das desigualdades de oportunidades. Afinal, uma questão básica dos estudos de mobilidade social é a de como distinguir os efeitos dos diversos fatores que afetam a trajetória dos indivíduos. técnicas e métodos cada vez mais sofisticados foram desenvolvidos para tentar medir, da melhor maneira possível, o impacto de variáveis que, na vida real, se encontram em geral estreitamente correlacionadas,
Resumo: As classes sociais são consideradas um conceito sociológico por excelência. Neste artigo, propomos uma avaliação empírica do conceito, motivada por questionamentos contemporâneos que têm sido críticos a análises que recorrem ao conceito de classe como dimensão heuristicamente interessante. Nosso esforço se concentra em uma validação da proposta popularmente conhecida como a tipologia EGP (Erikson-Goldthorpe-Portocarero). Através da utilização de uma técnica estatística, sensível ao padrão dos dados -a análise de classes latentes -, verificamos o padrão de associação da tipologia com aspectos relevantes do mercado de trabalho brasileiro. Como principal resultado que emerge a partir das análises empreendidas, apontamos uma série de restrições à proposta avaliada. Isso indica para a necessidade dos sociólogos e de outros pesquisadores interessados no trabalho com o conceito estarem sensíveis para as particularidades impostas pelo contexto brasileiro que impõe limites não triviais à sua validade empírica.Palavras chave: mercado de trabalho, análise de classe, tipologias ocupacionais, classe social, EGP.Introdução N a literatura contemporânea da área temática da sociologia da estratificação social há um questionamento sobre a relevância do conceito de classe para a compreensão de como se estruturam as desigualdades sociais (Pakulski & Waters, 1996). De forma mais amena, mas igualmente crítica, esse desconforto se manifesta também em propostas que vocalizam fortes críticas a respeito das operacionalizações convencionais do conceito de classe (Grusky & Weeden, 2008). Neste trabalho, desejamos contribuir para o debate a partir do ponto de vista de como o contexto brasileiro fornece insights sobre as potencialidades e limites da discussão.Nossa estratégia argumentativa se apoia na apresentação do que pesquisadores estrangeiros e brasileiros entendem como análise de classe, ou seja, os pontos analíticos em comum que definem o objetivo daqueles que defendem que as classes sociais são uma dimensão fundamental para o entendimento de diversos tipos de desigualdade. Ao delinear os pontos mais salientes dessas abordagens, nos preocuparemos em apontar os principais questionamentos e críticas para, em seguida, apresentar as propostas de operacionalização do conceito para pesquisas empiricamente orientadas. Após uma revisão sistemática dos princípios e críticas levantadas
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