A noção de testemunho está intimamente ligada à principal forma de ação do cristianismo sobre o mundo, a evangelização, sendo que, em certas experiências cristãs, evangelizar e dar testemunho se conformam como o mesmo ato. Conforme mostra Badiou (2009) ao tratar da importância do apóstolo Paulo, a transmissão das boas novas envolvia a atestação pública de determinado fato como verídico e histórico: a ressurreição do Cristo, fundamento da nova modalidade de culto que se distanciava do Judaísmo.A verdade acerca da vida e ressurreição de Cristo, retomada em inúmeros episódios neotestamentários como os relatos dos milagres, as chagas vistas por Tomé, a Ascensão após 40 dias, o episódio da Estrada de Damasco, as visões do Cristo glorificado no Apocalipse e, ainda com mais importância para a Igreja Primitiva, a transferência do Espírito Santo via imposição de mãos constituíam as principais experiências de evangelização do começo do cristianismo, que se expandia da Judéia e da Galiléia aos demais territórios romanos. Tais modelos inscritos na memória discursiva bíblica e das religiões cristãs têm gerado atualmente certa tipologia do testemunho, que geralmente destaca duas modalidades básicas: o exemplo, dentro da tradição católica, e os relatos pessoais acerca da conversão e da vivência de milagres, hoje relacionados com as denominações pentecostais.O objetivo do artigo é apresentar outra concepção de testemunho surgida no interior do catolicismo, o dom da parresia, que aparece em contraposição à atitude
<p>objetivo do texto é retomar a proposta de análise estrutural desenvolvida por Lévi-Strauss a partir da linguística sem excluir os idiomas nativos e os narradores dos mitos como elementos fundamentais para o estabelecimento de unidades de sistema, chamadas no presente artigo de cosmoemas. Os cosmoemas abordados aqui são fruto da comparação entre duas versões da história Udodo Pajika, contadas pelos Bakairi, povo Karib Sul, de modo a se sobressair a língua, o narrador e a lógica do mito que conferem os sentidos mais amplos dos quais se deve valer o antropólogo interessado nas narrativas nativas.</p>
O objetivo deste artigo é buscar entender o lugar das referências iconográficas da comunidade carismática católica Canção Nova na proposta de experiência cristã com base na ação do Espírito Santo mantida pelo coletivo. As imagens ilustrando a iconografia Canção Nova foram fotografadas pessoalmente nas diversas dependências da comunidade (lojas, salões dos grupos de oração, complexo da Chácara Santa Cruz, estúdios, capelas) visitadas ao longo da pesquisa de campo e no material gráfico dos produtos em comunicação do grupo. Dois registros artísticos servem de referência para a composição do discurso visual deles: o Bizantino e a Pop Arte. A hipótese a ser trabalhada é de que tais estilos são condizentes com a proposta de Cristianismo do coletivo carismático, baseada nos temas da inovação, em relação a outras formas de praticar o catolicismo, e da transmissão de fluxos espirituais, com destaque para o preenchimento pelo Espírito Santo.
A eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil teve o apoio, dentre outras alianças, de três lideranças religiosas de grande relevância para o Cristianismo brasileiro: o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, e o Monsenhor Jonas Abib, da Comunidade Canção Nova (CN). Após a eleição, Bolsonaro fez demonstrações públicas de agradecimento aos religiosos, tendo comparecido a eventos na Assembleia de Deus e na Chácara Santa Cruz, sede da CN no Vale do Paraíba Paulista, e mais recentemente ao Templo de Salomão, da IURD. A visita à Canção Nova foi marcada por um ritual descrito pelos meios de comunicação como “oração”, mas que corresponde ao complexo ritual de “imposição de mãos”, que inclui, além de rezas, a transferência do Espírito Santo, entidade espiritual que faz parte do processo de constituição da pessoa carismática (Bonfim 2012). O objetivo do artigo é conjugar o aspecto ontológico e ritual da comunicação pneumática contemporânea da Canção Nova dentro das relações entre o religioso e o político, mobilizadas com a ascensão de um governo de direita no Brasil.
O artigo toma noção a etnológica da “boa distância” como princípio político para analisar as duas versões correntes sobre a fundação da aldeia Mapuera do povo Wai Wai (Família Karib). A saber, aquela narrada por indígenas evangélicos e aquela de preferência dos não conversos. A perspectiva teórica que se tomará como base será a Análise Estrutural do Mito de Lévi-Strauss, que considera a narrativa mitológica sempre em variações que podem ser comparadas, e da Análise do Discurso Francesa, que leva em conta a deriva histórica dos sentidos e os operadores que sustentam o processo de significação. Se mostrará como a lógica do mito opera para subverter a possível oposição entre a fala tradicional e a fala cristã, evidenciando as estratégias do discurso indígena e o papel do xamã como grande mediador dos conflitos cosmopolíticos, que, no caso dos povos Karib, são, sobretudo, conflitos vividos entre corresidentes.
A interação semiótica entre humanos e não humanos para muitos ameríndios envolve mais do que processos de significação através de ícones e índices, pois para se realizarem exigem a utilização das línguas faladas pelos próprios povos e, muitas vezes, também das línguas estrangeiras das diversas alteridades com que se engajam. O artigo tem como objetivos mostrar, através do caso da língua Bakairi (Karib), como os idiomas indígenas estão atravessados por questões que dizem respeito às relações de alianças e conflitos com entes e potências de distintas categorias ontológicas, ou seja, por relações cosmopolíticas. E a partir da relação entre cosmopolítica e língua, presentes, por exemplo, no léxico somático dos Bakairi, o artigo propõe o conceito de “gramática cosmopolítica” como maneira de qualificar a discussão sobre política linguística para idiomas ameríndios.
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