O artigo analisa perfis e inserções de oito parlamentares brasileiras que se notabilizaram tanto na ocupação de posições políticas (administrativas e eletivas) como em meios culturais (universidades, institutos, meios midiáticos, entre outros). A questão mais geral que se coloca é quem são essas mulheres, quais os recursos mobilizam e em que condições conseguem se alocar num espaço no qual são tão raras? Triplamente raras, porque se distinguem da maioria das mulheres ao entrar na competição política; dos outros políticos por serem mulheres; e da maioria dos políticos, homens e mulheres, por ocuparem o topo da hierarquia política e se destacarem, entre os profissionais da política, como produtoras de bens culturais.
IntroduçãoNos empreendimentos inaugurais e mais sistemáticos no âmbito das ciências sociais, as discussões declaradamente apresentadas como dedicadas "às elites" debruçaram--se sobre segmentos e domínios políticos. Em decorrência, na divisão do trabalho científico -que, como enfatizou Bourdieu (2004), acaba correspondendo a uma divisão real do real -, a referida categoria (não raro tomada de modo substancialista) se constituiu em objeto privilegiado da ciência política, firmando-se espontaneamente como sinônimo de elite política e, inclusive, exercendo papel não negligenciável nas estratégias de institucionalização dessa área de conhecimento 1 . Apenas mais recentemente pesquisadores de outros campos e vertentes têm operado descentramentos daquele quase monopólio disciplinar, sobretudo flexibilizando os segmentos investigados e os modelos de análise mobilizados. E essas reflexões têm oportunizado redimensionar o tratamento dos grupos politicamente dirigentes 2 . Seguindo essas trilhas, propomos neste artigo a ordenação de três bases de multinotabilização das elites políticas no Brasil. Apoiados em resultados de pesquisas inscritas no campo de estudos sobre profissionais da política, que realizamos em diferentes fases das nossas trajetórias acadêmicas, discutimos o peso: (1) dos grupos 1. Ver Braud (2001) e Coradini (2016). 2. Para uma discussão mais detalhada, consultar Reis e Grill (2016).
A reflexividade sobre o uso de esquemas analíticos é prática indispensável aos cientistas sociais que visam afinar os instru- mentos conceituais mobilizados e fazer avançar a tarefa de apre- ensão dos fenômenos sociais. Neste artigo propomos discutir potencialidades e limites do uso de certos modelos e conceitos ao estudo de segmentos de elites no Brasil. Como eixo central, problematizamos a noção bourdieusiana de campo para pensar em dimensões de investigação que podem ser contempladas, adaptações e flexibilizações possíveis, tendo em vista contextos e universos empíricos discrepantes. A partir disso, e com base em pesquisas e reflexões acumuladas, reunimos algumas dire- trizes e noções, como as de domínios e de multinotabilidades, que nos parecem pertinentes à análise de configurações marca- das pela plasticidade e indiferenciação de lógicas, princípios e papéis.
Em um dossiê dedicado a pesquisas sobre mulheres que atuam em distintos domínios sociais, conversar com uma pesquisadora como Heloisa Pontes, que tanto colocou luz e foco na “questão de gênero”, é uma forma de avançar no entendimento de quem são as cientistas sociais e como, por meio de suas inscrições e produções, contribuíram para que essa problemática se constituísse como dimensão fundamental de análise das relações sociais e de poder nas pesquisas universitárias.
Resumo: O artigo analisa um conjunto de práticas, recursos e representações ativadas por porta-vozes da "cultura" no Maranhão. Mediante a análise dos repertórios de mobilização, dos espaços de inserção e dos perfis sociais de agentes que disputam a autoridade legítima para definir o que é a "cultura" no estado, pretende-se revelar alguns dos condicionantes sociais que incidem no exercício da mediação cultural e no trabalho de produção de políticas públicas. Palavras-chave: mediação; cultura; políticas públicas; cultura popular; patrimô-nio.1. Introdução N este artigo pretende-se fornecer indicações 2 sobre práticas e concepções ativadas por porta-vozes da "cultura", bem como as bases do reconhecimento conquistado e do papel de mediador cultural exercido em um contexto histórico no qual a dimensão cultural ocupa um lugar de destaque na construção da identidade regional e das identidades específicas. Para tanto, foram examinados os repertórios de mobilização, os espaços de inserção e os perfis sociais de agentes alocados em posições relativamente bem situadas nos domínios de produção cultural e política no Maranhão. O que permitiu atentar, por um lado, para o trabalho de construção social conduzido por "especialistas" em concorrência (porta-vozes e mediadores) que identificam, registram e classificam aspectos que devem ser recuperados, conservados, enfim, louvados como padrão ou modelo exemplar. E, por outro lado, para a importância da tradução desses elementos na possibilidade de formular e administrar políticas para a "cultura". Assim, a reflexão recai também sobre dimensões relativas à produção de "políticas públicas" no Estado.Tendo em vista o lugar relativamente estabelecido que as "políticas públicas" ocupam na agenda de pesquisas das ciências humanas e sociais, bem como nos embates políticos e ideológicos contemporâneos, é preciso fazer algumas ressalvas e explicitar alguns parâmetros que, espera-se, justificam as escolhas analíti-
APRESENTAÇÃON o espaço social mais amplo, o acesso a determinados conhecimentos e ao trabalho de formulação intelectual (em oposição ao mundo prático, não reflexivo, pragmático, ordinário) legitima posições de poder, sedimentando reputações distintivas em e entre diversos segmentos de grupos dominantes (jurídicos, midiáticos, religiosos, universitários etc.). Particularmente no universo político, observa-se a associação corrente à capacidade de uso da "palavra" (escrita e oral) como recurso de entrada e trunfo contundente para a construção de carreiras.Há uma extensa bibliografia produzida por cientistas sociais brasileiros nas últimas décadas sobre carreiras e perfis de políticos. Grosso modo, a literatura -a despeito das divergências entre os autores que adotam ênfases mais societais, organizacionais, de caráter mais objetivista ou perspectivista -lança luzes sobre os padrões de institucionalização dos partidos brasileiros 1 , as clivagens partidárias e o recrutamento/seleção política 2 . A noção de carreira aqui utilizada é relacionada aos desdobramentos das apostas feitas por agentes políti-cos desde suas entradas na política (Offerlé, 1996), procurando apreender as modificações nos princípios de aferição de excelência humana e a sua reconversão em critérios de hierarquização política e intelectual, bem como as gramáticas que fixam complementaridades entre os domínios políticos e culturais em distintas conjunturas.
O foco deste artigo são livros de “confissões políticas” publicados por mulheres, que seguiram carreiras políticas no Brasil. O objetivo fundamental consistiu em apreender os condicionantes sociais, políticos e culturais intervenientes nos seus itinerários, correlativamente às estratégias de produção de “memórias” e de administração de autoimagens. O ponto de partida é a análise das características gerais de parlamentares cuja concentração de recursos, em certas configurações de luta, traduziu-se na conquista de multinotabilidades e lugares relativamente bem situados nos domínios culturais e políticos. Portanto, são “raras” no jogo político não somente por serem quantitativamente escassas, mas também por deterem meios raros de atuação e, relativamente a outras/os profissionais da representação, estarem entre “notáveis”. Depois, mediante o exame de quatro casos particulares, é examinado como as inscrições e posicionamentos são marcados por ambivalências germinadas nas ocorrências biográficas. Assim, é possível ponderar tanto sobre as bases da autoridade (auto) conferida para expor a “sua própria história” ou a sua versão “da história”, como podemos atentar ao trabalho de mobilização de “experiências” e justificativas articuladas em circunstância de ocupação de posições “em falso”. Ou seja, nas quais as agentes se encontram em condições de incerteza com relação ao seu protagonismo e persistência, particularmente, nas disputas políticas.
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