Um dos domínios sociais e simbólicos mais intrigantes na circunscrição das relações de gênero diz respeito às conexões entre corpo, marca, nome e renome. De acordo com a literatura antropológica disponível sobre o assunto, o processo de renomeação, quase sempre associado a situações rituais, é um dos marcadores sociais por excelência da aquisição de prestígio e de status nas sociedades não ocidentais. Marcados nos corpos, esses ritos sinalizam, sobretudo para os homens que deles participam, a transição para a maioridade e o avanço na "carreira" social. Sabemos, por exemplo, a partir da documentação deixada pelos viajantes e cronistas dos séculos XVI e XVII, e brilhantemente analisada por Florestan Fernandes, que, para os homens da sociedade Tupinambá, fazer a guerra, sacrificar ritualmente os prisioneiros, ganhar nome e renome eram a face e a contra-face de um mesmo fenômeno, e a forma suprema de "graduação" social. Ritos de passagem e de renomeação, o sacrifício da vítima exprimia simbolicamente o reconhecimento da maturidade social do "matador". Graças a esse sacrifício ritual, completado pelo consumo canibalístico do corpo da vítima por parte de todos os membros da tribo, com exceção do "matador", este adquiria uma "força" ou "virtude vivificadora" que não possuía antes, ganhava novos "nomes", tinha acesso às mulheres, ao casamento, à
O artigo procura entrelaçar a história da recepção de O espírito das roupas com fragmentos do percurso da autora. Transitando da ficção para o ensaísmo, Gilda de Mello Souza produziu com esse livro uma das análises mais inovadoras sobre a moda, ao apreendê-la como uma linguagem simbólica, apta a dar plasticidade e expressão a idéias e sentimentos difusos, e não só como meio de marcar pertencimentos e sublinhar distâncias e distinções sociais. Advém daí o frescor desse livro, escrito há mais de meio século.
A estreita relação do teatro com a memória é evidente no trabalho dos atores.Sem ela os intérpretes não poderiam representar e se inventar como "outros".Ela está presente também quando o texto dramático escrito apoia-se na transmutação da memória dos autores, como é o caso dos dramaturgos que selecionamos para a análise: Jorge Andrade (1922Andrade ( -1980 e Gianfrancesco Guarnieri . Para dar pulso cênico à reminiscência de Jorge Andrade, nas peças A moratória (1955) e Rastro atrás (1966); ou ao invento como projeção imaginada da utopia partilhada pela geração de Guarnieri, em Eles não usam black-tie (1958), ambos os autores utilizaram uma das técnicas do trabalho da memória:fixaram lugares e objetos para desvelá-la (Yates, 2007: 11). Nas peças de Jorge Andrade examinadas a seguir, a lembrança objetivada do descenso social de sua família impregna tanto a fala dos personagens quanto os objetos que os cercam. Antes de tudo, as casas que habitam: a do pretérito, da opulência e do mando; a do presente, modesta e sem brilho. Mas ela também se condensa na máquina de costura, que serviu de recreio à menina rica do passado e de esteio da família no descenso do presente; no relógio pendurado na sala de jantar; nos santos nas paredes. Atando significados simbólicos e relações sociais, a casa e os objetos são mais que peças de cenário. Neles se inscreve a história social da família, que é também a da classe a que pertenceu o dramaturgo: a oligarquia agrária ligada ao café.Em Eles não usam black-tie, o título da peça de Guarnieri alude à indumentária de gala dos espectadores que frequentavam a companhia de maior projeção no período, o paulistano Teatro Brasileiro de Comédia, inaugurado em 1948. No traje de festa sobressaiam as insígnias vistosas da ostentação burguesa, rechaçada pelo público jovem, levemente desalinhado e afinado com o polo mais à esquerda do campo teatral. Sucesso estrondoso, a peça ficou um ano em cartaz, garantiu uma sobrevida inesperada ao Teatro de Arena, alimentou os sonhos de uma geração sobre o potencial da cultura na transformação e reordenação das relações sociais. Por seu intermédio a classe operária entrou pela primeira vez nos palcos da metrópole, na pegada forte do drama de uma
Em um dossiê dedicado a pesquisas sobre mulheres que atuam em distintos domínios sociais, conversar com uma pesquisadora como Heloisa Pontes, que tanto colocou luz e foco na “questão de gênero”, é uma forma de avançar no entendimento de quem são as cientistas sociais e como, por meio de suas inscrições e produções, contribuíram para que essa problemática se constituísse como dimensão fundamental de análise das relações sociais e de poder nas pesquisas universitárias.
Heloisa -O convite para o senhor participar desta entrevista foi motivado por uma dupla razão. De um lado, pelo nosso interesse em entrevistar uma pessoa tão importante como o senhor na nossa história intelectual e, também, na história das ciências sociais em São Paulo, que é um dos temas da pesquisa que estamos desenvolvendo aqui, no Idesp.1 De outro lado, temos um objetivo muito específico que é o de publicar esta entrevista, junto com uma série de outras entrevistas que pretendemos fazer com pessoas centrais, como o senhor, na história das ciências sociais no Brasil. Estamos pensando em editá-las em um volume separado e, quem sabe, se isto não for possível em curto prazo, publicar primeiro a sua entrevista na Revista Brasileira de Ciências Sociais. Nós fizemos um roteiro que vai servir mais para nos orientarmos do que para pautar a entrevista.Antonio Candido -É melhor vocês usarem o roteiro, porque eu tenho uma certa tendência para a loquacidade!
Neste artigo pretendo explorar as intersecções entre espaço urbano, instituições acadêmicas, organizações culturais e formas de sociabilidade, por um lado, e suas inflexões na modelagem de distintas gerações de intelectuais, por outro. 1 Tendo por base os trabalhos de Mary Gluck (1985) sobre a geração de Lukács em Budapeste, de Clarck (1986) sobre Paris e a pintura da "vida moderna", de Schorske (1988) sobre o modernismo em Viena, de Raymond Williams (1982) sobre o grupo Bloomsbury, de Thomas Bender (1993) sobre Nova York e seus intelectuais e de Maria Arminda Arruda do Nascimento (2001) sobre a relação entre sociedade e cultura em São Paulo, pretendo abordar, numa perspectiva comparativa, as similitudes e as diferenças entre os intelectuais "paulistas" da revista Clima (editada entre 1941 e 1944) e os "nova-iorquinos" nucleados pela Partisan Review (lançada em 1937). Delineados os termos e o conteúdo substantivo da comparação proposta, o artigo se fecha com uma tentativa, ainda exploratória, de pensar esse círculo de intelectuais norteamericanos à luz do modelo teórico construído por Elias para analisar as dimensões estruturais recorrentes na figuração "estabelecidos-outsiders". Os editores da Partisan Review
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