1Spade tocou a campainha apenas para avisar que entrava no apartamento, pois possuía a chave. Brigid estava ansiosa: perguntou se a polícia sabia algo sobre ela; Spade colocou o chapéu sob um abajur, atirou o sobretudo em uma cadeira e respondeu que, por enquanto, não. Ela questionou se não arranjaria problemas para si; ele replicou que não se importava em arranjar problemas. Convidou-o a sentar-se; sem encará-lo, verificou as unhas e ajeitou o ornamento florido que lhe enfeitava o vestido. Spade desabotoou o paletó e observou-a de pé, com um sorriso de quem se diverte. Sentou-se e comentou, fleumático, que ela não era exatamente o tipo de pessoa que fingia ser; Brigid dissimulou, mas ele esclareceu: "O jeito de boa moça. Você sabe: enrubescendo, gaguejando e tudo isso". Confessou-lhe que não teve uma vida boa, que tinha sido má, pior do que ele podia imaginar. Spade preferiu assim, pois, do contrário, fingindo ser quem não era, não chegariam a lugar algum. "Não serei inocente", garantiu, e Spade mostrou-se satisfeito, e emendou: "A propósito, vi Joel Cairo esta noite". Brigid reagiu com uma impassividade rígida: perscrutou-o e inquiriu se conhecia o dito Cairo; Spade respondeu que apenas vagamente. Ela levantou-se e, de costas para ele, atiçou o fogo na lareira. Observou-a, divertindo-se com a artimanha de sua performance. Sem sair de sua poltrona, tomou-lhe o atiçador das mãos; ela buscou outra coisa para ocupar-se, o que a levou à cigarreira sobre um aparador no centro da sala. Enquanto acendia um cigarro, os esboços de sorriso de Spade às suas costas transformaram-se em uma risada de escárnio: "Você é boa. Você é muito boa". Sem jamais virar-se para ele, sentou-se no braço da poltrona no outro extremo da lareira e indagou o que Cairo dissera sobre ela; "Nada", foi a resposta. De esguelha, perguntou do que falaram, e Spade revelou que Cairo oferecera 5 mil dólares pelo pássaro negro. Brigid levantou-se. Spade, com as mãos