Resumo Neste artigo, examina-se a perspectiva do povo Munduruku sobre o meio ambiente, bem como a relação do conhecimento e da práxis deste povo em relação à prevenção e à resolução de problemas de saúde. A ocupação do território, o uso de recursos disponíveis e a vida social implicam efeitos sobre os corpos Munduruku, na medida em que a manutenção dos laços sociais e a proteção do ambiente são consideradas por eles como condições necessárias para a reprodução da coletividade. A partir de uma perspectiva particular aos Munduruku sobre como funciona o cosmo e sobre a eficácia das práticas de autoatenção, necessárias à reprodução biossocial individual e coletiva, evidencia-se, neste artigo, a relação intrínseca entre ambiente e saúde, evocando a articulação entre as dimensões pragmáticas, sociais, ontológicas e políticas das estratégias de sobrevivência coletiva e de manutenção do território, desenvolvidas pelos Munduruku frente aos desafios, às lutas e às ameaças emergentes das situações cosmopolíticas e interétnicas. Por fim, argumenta-se que a política brasileira sobre os povos indígenas é contraditória, pois, por um lado, investe grandes recursos na assistência à saúde e, por outro, ignora os conhecimentos tradicionais sobre saúde e ambiente, de modo que a política de desenvolvimento econômico atua contra as necessidades plenas de bem-estar.
Este artigo é sobre gestação, parto e pós-parto entre Índios Munduruku, da TI Kwatá-Laranjal, Amazonas, Brasil. A partir de pesquisa etnográfica no contexto atual de pluralismo médico, a pesquisa evidencia algumas articulações e confrontos entre saberes indígenas e o modelo médico hegemônico observado nas: percepções sobre a saúde do feto, mulher e família; escolhas dos locais para realizar os partos; intensidades das práticas de reclusão no puerpério; possibilidades de realizar dietas tradicionalmente prescritas; procuras ou imposições do parto hospitalar, cesáreas e esterilizações feminina. Concluímos que o pluralismo médico entre os Munduruku não é um caso simples de imposição das práticas biomédicas, mas uma situação mais complexa e dinâmica de resistências, apropriações, adesões e sustentação ao modelo médico hegemônico.
Resumo: A longevidade, a saúde e o bem-estar coletivo e individual figuram entre as expectativas socialmente compartilhadas pelos Munduruku que habitam a Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas, Brasil. A condução da vida diária, em um cosmo pleno de seres, é cercada de perigos que ameaçam essas expectativas, cujas agências podem resultar em doença e morte. A partir de etnografia, conduzida por meio da observação participante e narrativas, analisamos as práticas de autoatenção voltadas à construção do corpo da mulher Munduruku, valorizando a perspectiva e o papel ativo das pessoas “leigas” nesse processo. Essas práticas iniciam-se na gestação e estendem-se ao longo da vida, em um processo contínuo de construção do corpo, manutenção da saúde e aquisição de habilidades, marcado pela interação entre pessoas de diferentes idades. O foco das práticas de atenção Munduruku não é o corpo no sentido dado pelo paradigma biomédico, mas a participação deste, como pessoa, nas relações sociais e cosmológicas, por meio de experiências que articulam corpo, saúde e ambiente. A perspectiva Munduruku sobre esse processo apresenta diferenças radicais em relação ao individualismo moderno e à noção biomédica de corpo excessivamente reducionista. A compreensão da perspectiva indígena contribui para promover melhorias na qualidade da atenção diferenciada, conforme preconizado pela Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.
A partir de la etnografía sobre embarazo y parto entre los indígenas munduruku, se verificó que los saberes considerados tradicionales no se restringen a los especialistas y se comparten entre varias personas de la familia, en especial, entre las mujeres mayores, quienes pueden ser reconocidas como parteras o no. La actuación de las mujeres mayores y parteras munduruku ocurre en el contexto de participación creciente de profesionales de la salud y no se presenta como un simple antagonismo entre las formas de atención tradicional y biomédica, lo cual implica la articulación entre actores sociales con potencial para promover intercambios de saberes. Al mismo tiempo, las prácticas indígenas difieren de manera radical del paradigma biomédico y se perciben como necesarias para la salud del bebé y de la familia.
Objetivo: compreender as percepções de indígenas da etnia Munduruku e de profissionais da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena sobre a resolutividade no Pólo-base Kwatá, Terra Indígena Kwatá Laranjal, localizada no município de Borba, estado do Amazonas, Brasil. Metodologia: os dados foram coletados por meio de observação participante, entrevistas e análise documental. O trabalho de campo foi realizado entre agosto e outubro de 2015. Resultados: os achados mostraram que usuários e profissionais perceberam deficiências na resolução dos problemas de saúde e identificaram obstáculos para a efetivação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Conclusão: a resolutividade foi compreendida como a junção de diferentes práticas tradicionais somadas às práticas integrativas e complementares, com garantia da preservação da cultura indígena no processo de cuidar.Descritores: Resolução de Problemas; Serviços de Saúde; Saúde de Populações Indígenas.PERCEPTION OF MUNDURUKU INDIGENOUS AND MULTIDISCIPLINARY TEAM OF INDIGENOUS HEALTH ABOUT RESOLUTENESS IN HEALTH CAREObjective: This study aimed to understand the perceptions of Munduruku indigenous and multidisciplinary team of indigenous health on the resoluteness in Kwatá, Indigenous Land Kwatá Laranjal, located in the municipality of Borba, Amazonas state, Brazil. Data were collected through participant observation, interviews and document analysis. The field work was conducted between august and october 2015. The results showed that users and professionals perceive shortcomings in resoluteness health problems and identified obstacles to the realization of brazilian policy health care of indigenous peoples.Descriptors: Problem Solving; Health Service; Health of Indigenous Peoples.PERCEPCIÓN DE INDÍGENA MUNDURUKU Y EQUIPO MULTIDISCIPLINARIO DE SALUD INDÍGENA SOBRE LA RESOLUCIÓN EN LA ATENCIÓN EN SALUD: OBSTÁCULOS Y DESAFÍOSObjetivo: Este estudio tuvo como objetivo comprender las percepciones de equipo multidisciplinario indígenas Munduruku étnica y profesional de la salud indígena en la solución de problemas de Kwatá, tierra indígena Kwata-Laranjal, ubicado en el municipio de Borba, estado de Amazonas, Brasil. Los datos fueron recolectados a través de la observación participante, entrevistas y análisis de documentos. El trabajo de campo se realizó entre agosto y octubre de 2015. Los resultados mostraron que los usuarios y los profesionales perciben deficiencias en la solución de los problemas de salud y los obstáculos identificados para la realización de la Política Nacional para el Cuidado de la Salud de los Pueblos Indígenas.Descriptores: Solución de problemas; Servicios de Salud; Salud de Poblaciones Indígenas.
É urgente o debate localizado sobre processos de saúde/doença/atenção-prevenção que tensione os modelos internacionais frequentemente concentrados apenas em indicadores biológicos e transculturais. A despeito das narrativas globais coronavírus centradas, a pandemia de Covid-19 excede o agente patógeno e ganha forma e intensidade em emaranhados e encontros mais ou menos locais e contingentes. Os artigos selecionados para este dossiê Os povos indígenas e a Covid-19, da Espaço Ameríndio, trazem diferentes abordagens disciplinares sobre variados contextos indígenas no Brasil que explicitam as limitações dos modelos globais da saúde biomédica. Não obstante, o conjunto de textos denuncia as condições históricas de violência estrutural a que estão submetidos os povos indígenas e como a pandemia intensificou esta situação. Por fim, os artigos apontam para a importância do diálogo na condução do SasiSUS. Eles nos levam a concluir que mesmo em situações como a de uma pandemia, precisamos constituir políticas públicas de saúde para as populações indígenas articuladas localmente com os seus sistemas de saúde e não como sobreposição do sistema biomédico global a eles.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.