O livro compreendido como poética, como dispositivo, para reafirmação de identidades culturais contra hegemônicas. É sabido que apenas a partir do final da década de 1970, a figura do autor indígena surge no mercado editorial brasileiro. Ainda que permaneça demasiadamente aberta a pergunta sobre o que seja um livro indígena, tais livros ocupam cada vez mais a cena literária brasileira. A literatura de autoria indígena, registrada e transmitida por meio de livros, como ato político, tradutório e (inter)cultural por excelência, permite-nos pensar a escrita literária como índice identitário, isto é, como construção de imagem de si e como abertura ao outro. Isto é, como relação. Por essa via, propomos a leitura dos livros indígenas como um ato performático que deseja dialogar de modo emancipatório com uma comunidade de leitores, em meio a diferenças culturais irredutíveis e à invenção de regimes discursivos heteróclitos, verbais e visuais. No momento em que a pergunta sobre a autoria indígena parece se colocar, por fim, como uma questão histórica irredutível a ser enfrentada pela critica literária e/ou cultural, uma outra pergunta também emerge (parece retornar), ainda mais radical: o que nos traz um livro quando se torna um artefato poético e político, dispositivo epistêmico, produzido pelas mãos de comunidades de tradição oral?
Resumo Este trabalho analisou um artefato (um livro de saúde) concebido pelo povo maxakali, denominado Hitupmã’ax: curar (2008). Tangenciado o projeto de produção do livro, o objetivo foi entender o processo de negociação da saúde pública no Brasil, dentro de uma perspectiva histórica e intercultural das epistemologias não ocidentais. Constatamos que a construção da obra maxakali representa um esforço para diminuir a distância da percepção e dos cuidados de saúde entre indígenas e não indígenas, e por essa via demonstramos a importância desse projeto intercultural para a efetivação de políticas públicas voltadas para o público indígena em geral e, especificamenete, para a promoção da história, dos saberes e da cultura maxakali.
Este ensaio é, basicamente, resultado de um projeto de pesquisa realizado durante os quatro anos que trabalhei como professora na Universidade Federal de Rondônia. O projeto, intitulado de “Livros da Floresta: do registro etnográfico à criação literária” (Edital Universal CNPq/2011), permitiu-me orientar oito estudantes do Curso de Letras como bolsistas do Programa de Iniciação Científica daquela instituição, com planos de trabalhos voltados para as literaturas de autoria indígena produzidas pelos povos Maxakali, Suruí Paiter, Kaxinawá, Yanomami, Dessana, Pataxó e Cinta Larga. Neste ensaio, analisamos especificamente três livros escritos, respectivamente, pelos Kaxinawá, pelos Dessana e pelos Maxakali, para, a partir desta experiência de leitura, problematizarmos as relações entre mito e literatura e os alcances de nossos modos de ler a autoria indígena na contemporaneidade.
RESUmO: Seguindo a pegada deixada por Didi-Huberman e colocando em destaque a questão política da produção e reprodução das imagens, este ensaio pretende pensar as disputas tecnopolíticas por recurso a imagens. Nesse sentido, duas imagens específi cas emergem no contexto das experiências transversais de formação acadêmica nas universidades brasileiras, imagens que contam com a presença de mestres e mestras de tradições orais como sujeitos capazes de legitimar modos outros de produção de saber e de fazer estético-políticas. A partir daí, coloca-se em movimento uma discussão que compreende a materialidade dos aparatos tecnológicos (via Nietzsche, Marx e Kitt ler), a teoria geral dos gestos em Flusser, o conceito de dispositivo para Agamben e as relações entre estética e política, segundo Benjamin e Rancière. Se parece evidente, de partida, que não se passa --que não passaremos jamais -pelas tecnologias impunemente, o que (nos) resta como possibilidade de resistência e de potência de vida para o combate frente ao avanço aniquilador da falsa política? Pouco, talvez nada, talvez um quase nada, apenas, talvez, e ainda, imagens.Palavras-chave: imagens; tecnopolíticas; dispositivos; gestos; mestres de oralidade.ABSTRACT: Following the trail left by Didi-Huberman and bringing into the spotlight the political question of the production and reproduction of images, this essay reads technopolitical disputes by means of images. Hence, two specifi c images emerge in the context of transversal experiences of academic formation in Brazilian universities, images that rely on the presence of Masters of oral traditions as subjects capable of legitimizing other ways of producing aesthetic-political thought and making. From there, the essay discusses the materiality of the technological apparatuses (via 1
O presente ensaio propõe abordar relações entre artesanato, repetição-recriação e ensino. Nesta abordagem, tomamos o artesanato como ato de resistência, constituindo-se em patrimônio cultural material e imaterial e o/a artesão/ã como sujeito constituído na, e constituinte da, tradição. Há, no distrito de Maragogipinho/BA, um modo de ensino artesanal, fundado na ancestralidade indígena-luso-africana, na repetição secular e inventiva, do fazer cerâmica; assim como há Mestres e Mestras de Saberes e Fazeres, em convergência com o conceito de Notório Saber (CARVALHO, 2016). Nesse contexto, a discussão teórica que apresentamos compreende o artesanato a partir da perspectiva das pedagogias culturais, que preservam e ressignificam culturas e comunidades e dialoga com a dimensão epistêmica e pedagógica do Encontro de Saberes (CARVALHO, 2016; 2019). Ao relatar encontros com Mestres e Mestras da Tradição Artesanal de Maragogipinho, por meio de uma experiência de autoria com estudantes do Curso integrado em Agroecologia e Agropecuária do Instituto Federal Baiano (campus Valença), buscou-se refletir sobre potências de repetição-criação-recriação, de modos de ensino e de pesquisa na Educação Básica e no Ensino Superior. As olarias e os vários labirintos das peças (artefatos) da arte do barro e da memória narrativa dos/as Mestres e Mestras de Maragogipinho são espaços abertos ao encontro e à educação dialógica.
Este ensaio pretende ler a obra de Manoel de Barros, tendo como suporte teórico as reflexões de Maurice Blanchot sobre a experiência literária. PALAVRAS-CHAVE: poesia, estilo, experiência literária.O que estamos por descobrir ao lermos uma poesia que parece afirmar-se reafirmando-se pela repetição e que a cada novo livro vem se tornando um espaço aberto a velhos e rasurados versos? Passados mais de 60 anos entre a primeira e a mais recente publicação de Manoel de Barros, deparamo-nos, a cada novo livro, com a repetição. Essa repetição paciente e cuidadosa de temas, de figuras, de ritmos, de versos, por vezes inteiros, tem requerido seu espaço e o constrói com bordas e fim. Desde quando isso? Movido por quê? É conhecida a opinião de Carlos Drummond de Andrade: "No início da carreira, o escritor plagia autores; no fim, a si mesmo". Assim, para Barros, segundo alguns críticos que lêem sua obra, atentos aos desenvolvimentos de sua poesia, teria chegado, então, o tempo de viver sob a sombra desse mau agouro vaticinado por Drummond. Sanches Neto, que em 1997 escreveu um livro -Achados do chão -sobre a importância da palavra submersa de Barros em certo momento de redefinição da poesia nacional (ainda na primeira metade do século XX), após o lançamento de um dos últimos livros do poeta, reconsidera:Mero pastiche de si mesmo, o Manoel de Barros de Retrato do artista quando coisa (Record, 1998) não consegue se distinguir das centenas de copistas que
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.