Caros leitores!Ao elaborarmos a proposta de dossiê para a Revista Eletrônica de Ciência Política -RECP, tínhamos em mente um objetivo bastante específico: ajudar a promover o debate e a reflexão, por parte dos jovens pesquisadores da Ciência Política e de áreas afins, sobre o impacto que os regimes autoritários vivenciados na América Latina na segunda metade do século XX possuem no cenário político atual. Se parece evidente que as diversas ditaduras instaladas pelo continente latino-americano repercutiram, além de suas durações, nas formas de organização política, social, cultural e econômica dessas sociedades, é fato, igualmente, que romper com eventuais legados do autoritarismo desses regimes de exceção não tem sido uma tarefa fácil de ser enfrentada pelas novas democracias na região. Assim, a superação das heranças autoritárias segue sendo um desafio comum aos países do Cone Sul e da América Latina em geral.Não por acaso, enquanto nos últimos anos é possível ver o fortalecimento da causa dos direitos humanos em alguns países, tendo sido instaladas Comissões da Verdade, concedidas reparações (pecuniárias e simbólicas) às vítimas da repressão e levados a julgamento os responsáveis pelas violações praticadas por esses regimes, vemos, por outro lado, as dificuldades que persistem, em outros casos, para tratar das demandas por memória, verdade e justiça, bem como para aperfeiçoar práticas e instituições democráticas.Questionar "O que resta das ditaduras?", nesse sentido, mais do que um incentivo à reflexão a respeito do passado recente de países como o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Chile, que passaram por ditaduras civis-militares alinhadas aos preceitos da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), torna-se um ponto de partida interessante para a formulação de 1 Professor do PPG em Ciência Política da UFRGS.