A formação em Psicologia no Brasil tem sido amplamente estudada e discutida em ambientes acadêmicos, desde antes da sua institucionalização em universidades e faculdades. Diante da escassez de estudos críticos acerca da educação superior nacional, este estudo propõe examinar a formação em Psicologia como consequência da constituição peculiar da educação superior no Brasil, visando à sua caracterização por meio de uma abordagem comparativa. Mediante um estudo de casos múltiplos, buscou-se analisar a formação em psicologia, no nível de graduação. Os principais resultados apontam para uma estrutura de formação anacrônica, não condizente com as especificidades ontológicas da Psicologia e apartada das expectativas acerca do papel da educação superior na formação cidadã crítica e profissional. Acredita-se, portanto, que a formação em Psicologia deve ser revista em todas as dimensões, desde seus marcos normativos aos tipos de componentes curriculares. Aponta-se uma desejável revisão da arquitetura acadêmica, substituindo o tradicional arranjo linear pelo regime de ciclos. Desse modo, toda a formação inicial estaria assentada em uma etapa propedêutica, sendo complementada numa segunda etapa que ofereceria conteúdos estruturantes do campo psicológico e habilitaria à utilização de instrumentos e técnicas psicológicos indispensáveis à atuação profissional. Por fim, uma profissionalização mais efetiva dar-se-ia num terceiro ciclo de formação especializada, conforme áreas de especialidade e atuação ou orientações teórico-metodológicas, em programas de residência e/ou mestrado ou doutorado profissional.
No âmbito do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) é uma das principais ferramentas de avaliação do ensino superior. O objetivo deste artigo é justamente analisar o desempenho dos estudantes de Psicologia no exame realizado em 2015, apresentando um recorte geográfico circunscrito ao estado da Bahia. Foi realizado um estudo quantitativo, com base nos dados do ENADE 2015 disponibilizados no Portal do INEP. Os cursos foram identificados pelo nome da instituição e município. Foram consideradas na análise as variáveis: organização acadêmica, categoria administrativa, indicadores do desempenho dos estudantes. Os resultados apontam para um processo de interiorização da formação do psicólogo, capitaneada pela rede particular de ensino. De modo geral, verificou-se também que não houve um desempenho significativamente distinto dos cursos no interior em relação aos cursos da capital, todos eles com desempenho mediano ou fraco, compatível com a média nacional. Universidades públicas apresentaram desempenho significativamente superior em relação a faculdades e centros universitários privados. Embora não tenha sido possível estabelecer se as diferenças significativas no desempenho se deveram à organização acadêmica ou à categoria administrativa, a predominância do setor privado, majoritariamente estruturado em faculdades e centros, indica um cenário de precarização do ensino no estado. É, portanto, preocupante o cenário de formação em Psicologia na Bahia, com um perverso processo de interiorização marcado pela presença do mercado, sem a devida garantia da qualidade do ensino, e cujo impacto na atuação profissional merece ser avaliado.
Já consagrada na educação médica, a residência tem ampliado seu nicho e se constituído, nos últimos anos, como uma alternativa de treinamento especializado para todo o espectro de profissões da saúde, proporcionando uma rica experiência profissional vinculada a um aprofundamento teórico. Resultado da sua aproximação com o setor público de saúde, o campo da Psicologia, não tem fugido a esse fenômeno, assinalando o surgimento de cada vez mais possibilidades de residência para os profissionais que buscam se aproximar das mais diversas áreas e temas de atuação na saúde, como a saúde da família, saúde do idoso, saúde mental, urgências, nutrição clínica, oncologia e outros mais. Nesse sentido, o estudo apresenta, através de uma revisão integrativa da literatura, o estado da arte acerca da formação do psicólogo em programas de residência. Para tanto, o levantamento abrange publicações indexadas nas bases de dados Lilacs, SciELO e PePSIC, identificando as primeiras experiências de residência, bem como registrando sua evolução até os dias atuais em programas de caráter multiprofissional. Observa-se, ao fim e ao cabo, que a formação do psicólogo em programas de residência constitui uma experiência privilegiada, ampliando a sua inserção no setor saúde, em especial no Sistema Único de Saúde. No entanto, este ainda é um tema bastante incipiente, que não é priorizado na literatura mais ampla sobre a formação, carecendo de reflexões educacionais mais sólidas, de aportes teóricos e de estudos empíricos que possam dar conta da complexidade do fenômeno formativo.
A escolha profissional é um fenômeno complexo, que virtualmente envolve todos os sujeitos nas sociedades contemporâneas, dada a centralidade do trabalho na constituição da subjetividade e identidade. O ensaio objetiva apresentar a escolha, no contexto nacional, como fenômeno cujo significado é social e culturalmente construído, balizado por fatores que remetem à própria constituição da sociedade brasileira. Para tanto, oferece-se primeiramente algumas considerações teóricas sobre a noção de profissão. Adicionalmente, busca-se analisar o fenômeno profissional no Brasil e sua articulação com o sistema de ensino superior e com a própria estrutura social no país, marcada pela desigualdade. Em suma, especula-se que a escolha profissional esteja condicionada a fatores macrossociais, inserida num processo de reprodução social, em que portadores de capital econômico e cultural se apresentam em condição de mobilizar recursos para a tomada de decisão, ao passo que os menos abastados têm essa possibilidade cerceada.
O que hoje conhecemos como Ensino Superior é o resultado de um processo histórico de institucionalização do conhecimento, que teve início por volta dos séculos XI a XIII, quando começam a surgir as primeiras corporações de professores e estudantes na Europa. Esses grupos, dos quais tradicionalmente são citados como pioneiros os de Bolonha e Paris, evoluíram ao longo dos últimos séculos da Idade Média até adquirirem a forma universitária com que persistem, salvaguardadas algumas reformulações, até os dias de hoje. O presente artigo busca apresentar as transformações por que passou a universidade até os dias atuais, com foco na evolução de sua missão. Realizou-se um resgate histórico acerca da constituição da universidade na era medieval, seu desenvolvimento e reviravoltas durante as Idades Moderna e Contemporânea, apoiando-se na visão de importantes pensadores da temática universitária. Busca expor, portanto, a superação do exclusivo ideal medieval de ensino, com o aporte da pesquisa, da extensão, oferta de serviços e abertura à comunidade, num movimento de convergências e contradições que conformam o espaço da educação superior numa era globalizada, evidenciando os principais pontos de discussão acerca desse processo.
Nos últimos 30 anos, o ensino superior brasileiro cresceu vertiginosamente, e cursos de Psicologia apresentaram um dos maiores crescimentos de matrículas. Este artigo objetivou analisar a disponibilidade on-line de informações pedagógicas sobre cursos de Psicologia. Trata-se de estudo exploratório, documental, que analisou estatisticamente as taxas de disponibilidade das informações pesquisadas nos sites das respectivas Instituições de Ensino Superior. Os resultados apontam que cursos públicos e privados incorreram em omissão na publicização de informações relevantes, em desacordo com as noções de transparência e accountability e contrariando disposições legais.
Resumo Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) são dispositivos implantados no âmbito da Reforma Psiquiátrica brasileira para apoiar a desinstitucionalização psiquiátrica. Esta pesquisa objetivou comparar as formas de autonomia desenvolvidas por moradores de SRTs de dois municípios da Bahia, analisando sua relação com as estratégias de desinstitucionalização construídas em cada território. Participaram 19 indivíduos dos municípios referidos pelos pseudônimos Paulo Delgado (PD) e Franco Basaglia (FB). Foram realizadas visitas para observação participante e entrevistas com cinco gestores e profissionais das redes de atenção psicossocial. Registros em diários de campo e transcrições de entrevistas subsidiaram a construção de narrativas. Todos os participantes ampliaram o grau de autonomia em relação ao período em que saíram das instituições asilares. As formas de organização dos SRTs nos dois municípios produziram diferentes modos de exercer autonomia: em PD predominou a autonomia no habitar, enquanto em FB predominou a autonomia no transitar pelo território. Em ambos, a autonomia na administração de recursos financeiros foi limitada. Consideramos que as políticas públicas para desinstitucionalização foram efetivas, embora sua operacionalização possa ser aprimorada.
O contexto pandêmico tem provocado diversos problemas psicológicos, dos quais situamos aqueles relacionados ao comportamento alimentar. Essa realidade tem ensejado a (re)organização de variados serviços de atendimento psicológico, dos quais situamos o plantão psicológico online. Objetivamos analisar os diários de campo de plantonistas que realizaram atendimentos online sobre demandas de comportamento alimentar, durante a pandemia do COVID-19. Empregamos uma análise documental sobre sete diários de campo. Sintetizamos os seguintes temas: perfil das clientes atendidas; comportamento alimentar no contexto do COVID-19; caracterização dos atendimentos e intervenções. Todas as clientes foram mulheres, a maioria solteira, estudantes e com ensino-superior. As queixas emergiram, na maioria dos casos, associadas a outros sintomas psicológicos, principalmente a ansiedade. O comportamento alimentar foi associado a questões prévias potencializadas pelas adversidades decorrentes da pandemia. As principais intervenções foram validação de emoções, acolhimento, questionamento reflexivo, estímulo ao autocuidado, orientação psicológica e psicoeducação. Concluímos que foi possível notar a influência da pandemia na dinâmica de vida, nas relações interpessoais, no exercício de papeis sociais e na redução de comportamentos de autocuidado, o que culminou em alterações na qualidade alimentar, no peso e na imagem corporal.
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