Resumo Este trabalho objetivou estudar a flora comestível do Brasil nos séculos XVI e XVII a partir dos textos de 18 autores que estiveram no país durante este período. As plantas citadas foram identificadas por similaridade a partir das descrições textuais e imagens disponíveis nas obras estudadas, considerando a origem, área de ocorrência e nome popular, além da análise de outros estudos botânicos. Ao todo foram levantadas 827 citações de plantas alimentícias nas obras estudadas, das quais foi possível identificar 183 espécies pertencentes a 61 famílias botânicas diferentes. De 37 espécies não foi possível chegar a nenhuma aproximação botânica. Das plantas identificadas, 55% são nativas das Américas, incluindo as do território brasileiro e de outros países americanos, 8% são endêmicas e só ocorriam no Brasil, 37% são exóticas das Américas e duas plantas não tiveram sua origem definida. A partir deste trabalho foi possível observar que havia, durante os séculos XVI e XVII, o uso de uma grande diversidade de espécies na alimentação dos brasileiros, com destaque para a mandioca, abacaxi, jenipapo, batata-doce e milho. A presença de espécies nativas das Américas, mas exóticas do Brasil, como o milho e a batata-doce, evidencia a troca de germoplasma que já existia entre populações indígenas. Nos séculos XVI e XVII ocorreu uma rápida e intensa troca de plantas com outras regiões do mundo promovida pelos europeus, que resultou na introdução de uma grande quantidade de espécies exóticas as quais acabaram ganhando grande importância na dieta dos brasileiros. Por fim, observamos que muitas das plantas citadas estão em desuso até os dias de hoje.
The middle Rio Negro region is an interesting place to seek novel antimalarial compounds because of the traditional knowledge of the Amazon population in conjunction with the high biodiversity of the region. The objective of this work was to study the use of antimalarial plants in Barcelos, state of Amazonas, Brazil. Fifty-two local specialists from eight different communities were interviewed over one year. The identified plants were collected with the assistance of local specialists, classified to species level and deposited in herbarium. In total, 55 antimalarial plants were identified in use in the region, of which 16 had not been previously reported in other published studies. Many factors could be involved with the use of antimalarial plants by the Barcelos population, such as the accessibility of these medicinal plants, efficiency and safety of using these plants, the accessibility to drugs or other medical treatments, plant bitterness, and the gender of the interviewees. Our results indicate that the population of Barcelos possesses an extensive knowledge on the use of a diverse array of antimalarial plants, and may contribute to the development of novel antimalarial compounds. KEYWORDS: malaria, ethnobotany, Amazonia, medicinal plants, traditional knowledge Etnobotânica de plantas antimaláricas no médio Rio Negro, Amazonas, Brasil RESUMOO conhecimento tradicional da população amazônica, associado à grande biodiversidade da região, faz do médio Rio Negro um lugar propício para a pesquisa de novos remédios antimaláricos. O objetivo deste trabalho foi estudar o uso de plantas antimaláricas no município de Barcelos, Amazonas, Brasil. Ao longo de um ano foram entrevistados 52 especialistas de oito comunidades de Barcelos. As plantas indicadas foram coletadas com o auxilio dos especialistas, identificadas e depositadas em herbário. Foram mencionadas 55 plantas antimaláricas, das quais 16 nunca foram citadas em outros trabalhos previamente publicados. Muitos fatores podem estar associados ao uso destas plantas antimaláricas, tais quais o acesso a estas plantas, sua eficiência e segurança, o acesso a outros tratamentos médicos, o amargor das plantas e o gênero das pessoas entrevistadas. Nossos resultados indicam que a população de Barcelos é detentora de um rico conhecimento sobre o uso de plantas medicinais antimaláricas e pode contribuir para o desenvolvimento de novas drogas antimaláricas. PALAVRAS-CHAVE: malária, etnobotânica, Amazônia, plantas medicinais, conhecimento tradicional
The Amazon region has a large sociobiodiversity, where lives people with traditional knowledge about the uses of its natural resources. The Convention on Biological Diversity (CBD) in 1992 recognized the autonomy of each nation over its genetic resources and the rights of traditional populations about the knowledge of the use of these natural resources. In 2001 it was published the law M.P. 2.186-16/2001 which created the Conselho Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) and the first rules about access to genetic resources and associated traditional knowledge in Brazil. Since his creation, the actions of CGEN have received criticism from various sectors, both private and public, and, unlike its initial proposal, has become one of the main obstacles of ethnobotanical studies, the bureaucracy, the long process analysis and communication difficulties with this organ.
<p>Este debate entre editores de revistas científicas que publicam trabalhos nas áreas de etnobiologia e etnoecologia foi proposto para fomentar uma discussão a fim de compreender aspectos relacionados ao processo editorial e às tendências dentro das respectivas áreas. Participaram editores das revistas Ethnoscientia, Ethnobiology Letters, Etnobiología e Amazônica: revista de antropologia, que redigiram perguntas norteadoras aos demais colegas. A partir deste debate observamos que todos os quatro editores possuem posicionamentos semelhantes sobre diversos temas acerca da publicação de trabalhos científicos nas áreas de etnobiologia e etnoecologia. Fica claro que estas revistas não impõe nenhuma linha restritiva quanto aos tipos trabalhos publicados e compartilham grande preocupação quanto à qualidade geral dos trabalhos publicados, às questões éticas atreladas a eles, bem como o respeito à diversidade, autonomia e a participação ativa dos povos e comunidades tradicionais colaboradoras. Outro fator comum a estas publicações é a preocupação com a democratização e acessibilidade às revistas, questão que as fazem buscar diferentes estratégias para viabilizar o acesso dos autores e também dos leitores. </p>
Este debate entre editores de revistas científicas que publicam trabalhos nas áreas de etnobiologia e etnoecologia foi proposto para fomentar uma discussão a fim de compreender aspectos relacionados ao processo editorial e às tendências dentro das respectivas áreas. Participaram editores das revistas Ethnoscientia, Ethnobiology Letters, Etnobiología e Amazônica: revista de antropologia, que redigiram perguntas norteadoras aos demais colegas. A partir deste debate observamos que todos os quatro editores possuem posicionamentos semelhantes sobre diversos temas acerca da publicação de trabalhos científicos nas áreas de etnobiologia e etnoecologia. Fica claro que estas revistas não impõe nenhuma linha restritiva quanto aos tipos trabalhos publicados e compartilham grande preocupação quanto à qualidade geral dos trabalhos publicados, às questões éticas atreladas a eles, bem como o respeito à diversidade, autonomia e a participação ativa dos povos e comunidades tradicionais colaboradoras. Outro fator comum a estas publicações é a preocupação com a democratização e acessibilidade às revistas, questão que as fazem buscar diferentes estratégias para viabilizar o acesso dos autores e também dos leitores.
Asian populations, as well as other traditional peoples and communities who settled in the region, such as fishermen, riverside dwellers, rubber tappers, Brazil nut pickers, babassu coconut breakers, extractivists, and small farmers among others. Given this complex sociocultural and environmental diversity, it is impossible to identify a single Amazonian dietary culture.The isolated study of edible plants is not enough to construct an overview on the Amazonian dietary culture, as it is related to other foods of animal and mineral extraction; objects used for farming, hunting, and preparing food; and mythologies, in addition to cultural and social practices. The traditional agricultural system of the Rio Negro, declared a cultural heritage of Brazil, demonstrates how complex these dietary practices are and how they involve several social, cultural, and environmental factors (Emperaire 2010).For a long time, Amazonian biodiversity has been exploited with an extractive approach, as in the economic cycles of the sertão drugs, or the Brazil nut and rubber trees. These Amazônia was known through a fetishized or exotic lens by the rest of the world through the eyes of the foreign travellers and naturalists. In addition to the domesticated and cultivated Amazon species that have been brought to the rest of the world, many edible Amazon species are used only by local populations and remain unknown to the rest of the world.Open markets in small and large Amazonian cities are an important showcase to know this edible biodiversity and constitute an important center for agricultural diversity and exchange of germplasm among the local population (Emperaire and Eloy 2008). Some of the most noteworthy markets are the Ver-o-Peso and the market of the 25 de Setembro street in Belém, Pará; the Elias Mansur Market in Rio Branco, Acre; the Adolpho Lisboa Market; the fruit stands near the airport; and the Laranjeiras Market in Manaus, Amazonas, or the weekend fairs in São Gabriel da Cachoeira or Tabatinga, in the state of Amazonas.The appreciation of traditional food plants or "unconventional food plants" (plantas alimentícias não convencionais, PANC) by the fine cuisine circuit and by movements aimed at valorize sociobiodiversity, such as Slow Food, brought a new stimulus to the study of Amazonian food plants.However, there is yet much to be studied, considering that between 10% and 20% of the world flora has current or potential nutritional use to humans (Kinupp 2007; Kinupp and Lorenzi 2014), which means that, just in the Amazon, from 1.6 to 3.2 thousand plants are edible. Most of the studies carried out in the Amazon region, so far, have been restricted to ethnobotanical research on a specific species, region, or ethnic group, without pursuing research on the nutritional properties and botanical or agronomic aspects. This occur partly due to the bureaucracy for carrying out these researches within the Brazilian legislation (Tomchinsky et al. 2013) but also due to the lack of human and financial resources in research institutions i...
<p>As plantas indicadoras são espécies adaptadas a determinados ambientes que podem ser utilizadas pelas populações humanas para a classificação destas paisagens de acordo com as suas caraterísticas ou potenciais usos. Entre estas plantas, algumas são utilizadas como indicadoras geobotânicas por estarem relacionadas à presença de determinados minerais ou propriedades do solo. Este trabalho faz um levantamento de espécies consideradas indicadores de diamantes no Brasil. A partir de ampla revisão de literatura foram identificadas cinco espécies vegetais relacionadas com a ocorrência de diamantes no país (<em>Babarcenia</em> sp., <em>Vellozia</em> sp., <em>Lageonocarpus</em> <em>adamantinus</em>, <em>Schwartzia adamantium</em> e <em>Norante guianensis</em>). Destas, três foram analisadas quanto as suas distribuições e comparadas com os locais com registro de ocorrência de diamantes no país. Existe uma sobreposição entre as áreas onde estas plantas ocorrem e locais diamantíferos. É provável que as espécies de ocorrência mais restrita (<em>L. adamantinus e S. adamantium</em>) são melhores indicadoras ambientais para a ocorrência de diamantes. Entretanto, com os dados obtidos neste trabalho, apenas a ocorrência destas plantas não é suficiente como indicador da presença de diamantes e são necessários outros estudos para a prospecção geológica de corpos kimberlíticos e de gemas de diamantes em fontes secundárias onde estas espécies ocorrem para confirmar esta correlação.</p>
As relações humanas com a natureza são elementares para problematizarmos os caminhos que queremos seguir enquanto sociedade e se nos consideramos ou não parte da natureza. A sobreposição ser humano-natureza na cultura ocidental, diferentes dos povos da floresta com seus saberes tradicionais e suas matrizes culturais, arrastaram a sociedade moderna para crises atrás de crises, no meio ambiente e nas relações socioeconômicas, com um modelo social hegemônico, que produz desordens como a doença Covid-19, favorecedor de sua rápida disseminação, tornando-a uma pandemia. A Amazônia, com sua biodiversidade, possibilitou aos povos tradicionais que nela vivem integrarem-se e, assim, eles se enxergam nos processos complexos desse grande sistema. Os saberes locais e tradicionais produzidos nesta interação biodiversa possibilitaram modos de vida, onde a floresta e as economias são reflexos, mesmo que em microcosmos econômicos, da diversidade intrÃnseca da Amazônia. Em um perÃodo de reflexão sobre o que nos trouxe até aqui, como os saberes amazônicos podem nos ajudar a pensar o antigo e o novo, em meio à pandemia da Covid-19? É o que discutiremos nesta obra.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.