Pretende-se esclarecer a formulação lacaniana de que "a sublimação eleva um objeto à dignidade da Coisa". A hipótese de que das Ding, ou a Coisa, é o que permanece de irrepresentável na experiência de satisfação, o que padece do significante e pode ser remetido à pura falta, ao vazio, leva-nos a pensar a sublimação como a construção de um objeto que explicite essa opacidade. Este percurso argumentativo será ilustrado por análises da literatura de amor cortês e de algumas obras de arte referidas pelo próprio Lacan em suas considerações sobre a sublimação.
Este artigo faz uma pequena retomada do conceito de debilidade mental na história da psicanálise com o intuito de verificar como Lacan se apropriou dessa noção no escopo de sua teoria. Investigaremos a hipótese lacaniana de uma debilidade mental estrutural a qualquer sujeito ao mesmo tempo em que pode adquirir um aspecto patológico que exige o diagnóstico diferencial em relação à psicose, à psicossomática e à inibição intelectual. Por fim, proporemos um matema para a debilidade.
ArtigoO objetivo deste artigo é refletir sobre o uso dos objetos no tratamento psicanalítico da criança autista, na medida em que a relação com os objetos da realidade participa da constituição subjetiva de todo ser humano e é um instrumento importante para o diagnóstico diferencial de psicopatologias precoces graves, como o autismo.Atualmente, "a maior parte dos clínicos e dos educadores estão de acordo em considerar que a criança autista tem necessidade de apoiar seu pensamento em elementos concretos que lhe permitam organizá-lo progressivamente" (MALEVAL, 2009b, p. 225). Freud (1976[1908, p. 149-150, grifo nosso) mesmo já havia notado que toda criança necessita de "referentes materiais" para criar suas fantasias, de modo que elas atuam em suas brincadeiras o que os poetas têm a capacidade de fazer apenas com a sua imaginação:A antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o 'brincar' infantil do 'fantasiar'.Se a citação acima nos esclarece a respeito da diferença entre o brincar e o fantasiar, a decrescente importância da concretude dos objetos para o brincar/ fantasiar das crianças aparece na seguinte passagem: "a criança em crescimento, quando pára de brincar, só abdica do elo com os objetos reais; em vez de brincar, ela agora fantasia. Constrói castelos no ar e cria o que chamamos de devaneios" (FREUD, 1976(FREUD, [1908, p. 151, grifo nosso). Na clínica com crianças em geral, o uso de objetos concretos impõe-se como condição para a circulação da cadeia significante e a importância do brincar na literatura psicanalítica sobre a infância nunca deixa de ser lembrada. Nos relatos de casos de crianças autistas, mesmo que seja comum existir um determinado objeto que se destaca na relação deste sujeito com os outros e com a própria realidade, 1 a ausência do brincar parece obliterar os usos que podem ser feitos deste objeto no tratamento psicanalítico do autismo. Nesse aspecto, não podemos esquecer dos trabalhos de Frances Tustin a respeito do objeto autístico e do caso de Joey, de Bruno Bettelheim (1987[1967).Porém, antes de passarmos às especificidades da criança autista, façamos uma explicação da importância do objeto para a constituição subjetiva de um modo geral, pois essa discussão permitirá que, ao final do artigo, possamos dialogar com autores contemporâneos. O autista e a realidadeA característica mais marcante do autismo é a ausência de relações sociais. A criança autista tem dificuldade em interagir com outras crianças e até com seus parentes mais próximos, o que leva muitos observadores da primeira infância a dizerem que os autistas se fecham em si mesmos, sem se importarem com a realidade que os cerca. Essa afirmação aparentemente simples, do ponto de vista da psicanálise, coloca muitas interrogações: afinal, os autistas têm um "si mes...
A partir de afirmações, amiúde reiteradas por psicanalistas na atualidade, que circunscrevem o autismo exclusivamente no Real, coloca-se em discussão a articulação entre os três registros que compõem a realidade psíquica, mostrando a interdependência dos mesmos. Propõe-se a consideração do mecanismo da recusa no autismo como índice de presença, mesmo que restrita, também dos registros Simbólico e Imaginário, à luz de algumas observações depreendidas da obra de Jacques Lacan. Para isso, é indispensável pensar a relação do autista com o Outro e com os objetos que o circundam, de modo a também melhor delimitar uma possível intervenção psicanalítica nesses casos.
RESUMO -O artigo apresenta a leitura que Jacques Lacan faz do caso Dick, de Melanie Klein. Para tanto, a discussão com o filósofo Jean Hyppolite é retomada com o objetivo de explicitarmos como os mecanismos de Ausstossung [expulsão], Verneinung [negação] e Bejahung [afirmação], descritos por Freud em 1925, podem contribuir para a compreensão da constituição psíquica sob uma perspectiva lacaniana. Em seguida, expomos o caso, tanto para apreendermos clinicamente o que foi exposto na teoria, quanto para evidenciarmos como Lacan se distancia da concepção de fantasia de M. Klein. O tema do diagnóstico, no entanto, aparece em ambos ligado a uma forma de organização subjetiva ainda em constituição na infância, o que traz elementos para refletirmos sobre essa questão na atualidade. Palavras-chave:Lacan, Jacques-Marie Émile, 1901-1981, Klein, Melanie, 1882-1960 , na medida em que, com eles, seria possível abordar como se forma o pensamento, de forma não dissociada da constituição psíquica: afeto e representação, cognição e subjetividade, para a psicanálise, não são campos separados. Assim, depois de elucidar esses conceitos, localizaremos, na clínica psicanalítica kleiniana, elementos que auxiliam a esclarecê-los e a problematizá-los. Retomando considerações lacanianas que versam sobre a função essencial da linguagem, bem como sobre a tripartição da realidade psíquica por meio das categorias do real, do simbólico e do imaginário, analisa-se o que estaria em jogo tanto na análise empreendida por Melanie Klein quanto na constituição psíquica. Buscando afastar-se de explicações psicanalíticas calcadas em fantasias infantis supostas, Lacan (1953Lacan ( -54/1979) se detém em operadores clínicos que permitiriam correlacionar manifestações do funcionamento psíquico e determinações estruturais. A problematização do diagnóstico comparece, aqui, ligada à questão das estruturas clínicas de modo pungente quando tratamos da infância. Afinal, em que medida um diagnóstico pode selar o destino de uma criança, fazendo de seu comportamento algo que, simplesmente, corresponde univocamente a uma sintomatologia prevista? Considerando que o diagnóstico de autismo vem sendo definido cada vez mais cedo a partir de catálogos de sinais, os comentários de Klein e de Lacan sobre o diagnóstico na infância podem ser bastante esclarecedores, por focalizarem um tempo da constituição subjetiva que antecede a possibilidade de fixação, por especialistas, de um quadro clínico definitivo. Ao situarem, na criança, a abertura a mudanças e intervenções, os autores nos conduzem a interrogar a precocidade de diagnósticos que, longe de tratar o sofrimento da criança, podem operar como profecias autorrealizáveis. Ausstossung, Verneinung e BejahungA partir do diálogo estabelecido com Jean Hyppolite no contexto de seu Seminário 1, Lacan (1953Lacan ( -54/1979) nos
A partir de afirmações, amiúde reiteradas por psicanalistas na atualidade, que circunscrevem o autismo exclusivamente no Real, coloca-se em discussão a articulação entre os três registros que compõem a realidade psíquica, mostrando a interdependência dos mesmos. Propõe-se a consideração do mecanismo da recusa no autismo como índice de presença, mesmo que restrita, também dos registros Simbólico e Imaginário, à luz de algumas observações depreendidas da obra de Jacques Lacan. Para isso, é indispensável pensar a relação do autista com o Outro e com os objetos que o circundam, de modo a também melhor delimitar uma possível intervenção psicanalítica nesses casos.
O artigo pretende retomar a leitura que Jacques Lacan faz da teoria kleiniana. Partiremos da crítica ao seio como primeiro objeto das relações objetais até chegarmos ao falo intervindo desde o início nas relações da mãe com a criança. Procuraremos mostrar como a tese lacaniana a respeito do significante fálico encontra suporte nas observações de Melanie Klein, que fornecem elementos para pensar no pênis do pai como primeiro substituto do seio materno, atuando, desde o princípio, no interior do corpo materno. A precocidade do complexo de Édipo é, então, abordada em ambos os autores, com o intuito de evidenciar a ação do significante nos primórdios da constituição subjetiva. O que nos leva a interrogar, por fim, se a substituição da relação de objeto pela incidência do significante esgota a questão do objeto na psicanálise.
Resumo Este artigo visa apresentar os resultados de uma pesquisa sobre o uso de objetos no tratamento psicanalítico do autismo, que envolveu a realização de um atendimento em grupo de crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em uma instituição pública de saúde mental. O registro audiovisual dos atendimentos mostrou-se um componente indispensável desta abordagem, em especial nas reuniões com os pais e nas supervisões, convidando a uma reflexão acerca de seu estatuto. A questão da constituição subjetiva e o problema do diagnóstico na infância permearam as discussões aqui propostas.
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