"Que o número de nossos membros seja ilimitado", rezava uma das diretrizes da Sociedade Londrina de Correspondência. Ao citar essa conhecida passagem da Formação da classe operária inglesa, destacamos como importantes estudiosos -S. Chalhoub e J. S. Leite Lopes -a ela recorreram para se pronunciar a respeito da influência de E. P. Thompson na historiografia brasileira. Ao lado de outros como Castoriadis (1985), Genovese (1976), Perrot (1988) e Williams (19691979), também Hill e Hobsbawm têm sido fonte de inspiração e referência. A despeito disso, um desafio ainda persiste. Qual? Um inexistente diálogo entre os estudos de escravidão e pós-emancipação -as experiências urbanas e rurais de milhares de africanos e crioulos -e as investigações que analisaram a imigração européia, ou as experiências do trabalho livre: os mundos dos trabalhadores no fim do sé-culo XIX e no início do XX. Questionado e apontado desde a década de 1990, esse quase-hiato de reflexão historiográfica e o escasso investimento em pesquisa empírica vêm sendo superados por avanços que seguem seu curso. Utilizada para assaltar as massudas bibliografias que separavam o século XVIII do XIX (cf. Thompson, 1987, pp. 15, 111), a remissão à Sociedade Londrina de Correspondência tem servido, por aqui, para frisar a necessidade de uma escrita da história do trabalho não apenas pautada numa classe trabalhadora exclusivamente branca, fabril, de ascendência européia, masculina e urbana (cf.
Resumo O artigo coloca o cartão-postal em evidência como suporte de encontro entre o retrato e a ação de quem se pronuncia sobre ele com uma mensagem. São abordados quatro cartões que foram, ao longo do tempo, usados como fonte pelos estudos históricos. Absorvida pela prática da fotografia, a pesquisa colocou primeiro em evidência o retratista. Em seguida, mirou a atuação do modelo. A proposta agora é incorporar aos estudos históricos o remetente e sua comunicação. Ao fazê-lo, reconhece-se na superfície dessa mídia um espaço para a transparência de relações sociais vigentes no Brasil do início do século XX. O texto também sugere que Manuel Querino foi o primeiro intelectual a se valer de um cartão como fonte.
VISCARDI, Cláudia. O teatro das oligarquias: uma revisão da "política do café com leite". Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.Em seu livro O teatro das oligarquias, contestando a validade da tese do café com leite por meio do exame das articulações referentes às sucessões presidenciais -em que nota "os arranjos políticos mais importantes" (p. 25) -, Cláudia Viscardi demonstra como diversos atores se alinharam e desalinharam nas disputas ocorridas por ocasião da substituição dos mandatos presidenciais ocorridos entre Rodrigues Alves (1902)(1903)(1904)(1905)(1906)(1907)(1908) e Washington Luís (1926)(1927)(1928)(1929)(1930). Para tal, ela fez uso da hipótese da estabilidade do primeiro regime republicano ter sido fornecida pela "instabilidade" (p. 25) das alianças entre atores como o Exército, o Poder Executivo e os seis estados mais fortes (São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro).Viscardi consegue demonstrar que o predomí-nio dos vencedores nas sucessões não se eternizava à custa da marginalidade dos demais atores. No lugar disso, a expectativa do rodízio das forças ao término de cada mandato, os efeitos das disputas e o esforço dos competidores no sentido de impedir a monopolização do poder por um ou outro ator asseguravam a crença em campanhas futuras, inibiam o ressentimento de exclusão entre os perdedores e, nesse sentido, continham rupturas.Logo, São Paulo e Minas não fizeram (a despeito dos demais) o que bem entendiam. Ao contrário, havia intensa barganha entre os estados.É bom que se diga que não são desconsideradas as posições, na economia, bem como na política, de mineiros e paulistas. A autora igualmente não ignora que se coligaram e que ocuparam juntos a administração federal. No segundo capítulo é mostrado ao leitor que Minas Gerais, uma vez resolvidos seus problemas internos -na sucessão de Rodrigues Alves (a partir de 1905) -, conseguiu alçar-se ao primeiro plano da política (p. 72, 87), lugar já pertencente aos paulistas desde 1889 (em aliança com militares ou baianos). Ao mesmo tempo, o livro faz ver que os demais estados sabiam -todo o tempo -que uma aliança exclusivista entre Minas e São Paulo lhes seria prejudicial. Em segundo lugar, o Exército e o Executivo também agiam, tornando o processo e as redes que o compunham muito mais complexos e multifacetados. Logo, ante os planos situacionistas, houve, ao longo das sucessões, a composição de eixos alternativos de poder, com dose respeitá-vel de eficácia política. Ainda mais (e isto é absolutamente notável), não é apenas o fato de mineiros e paulistas não serem os únicos com voz e vez; é também o fato de inexistir permanente "aliança entre os dois". Na prática, afirma Viscardi, "mais se temiam do que se uniam" (p. 253). Sem negar as aproximações, a autora demonstra amplamente
Apesar de ter cabido à Bahia a segunda maior bancada do congresso republicano (menor apenas que a mineira, igual à dos paulistas; maior, portanto, que a dos gaúchos), a relevância de seu papel na Primeira República é comparada com sua situação privilegiada no império ou, além disto, é confrontada com o excepcionalismo dos paulistas: fazendeiros capitalistas, burgueses e industriais. A Bahia foi contudo um estado que, monarquista até a medula da escravatura, influiu os governos republicanos. Em 1908, na Exposição Nacional, suas elites conseguiram representar este papel com desenvoltura e eficácia.
His tó ria da so ci e da de bra si le i ra após o gol pe de 64: o en vol vi men to dos ci vis no apo io à di ta du ra e mes mo na sua ges tão. Com seus mi lha res de ele i to res, adep tos, ca bos ele i to ra is, che fes lo ca is e li de ran ças, a Are na foi um par ti do ini ci al men te in te gra do por uma ta rim ba da ge ra ção de po lí ti cos que se en car re gou, in clu si ve, de for mar no vos di ri gen tes. Esses qua dros não só atu a ram nos anos 1970, como tam bém mar ca ram pre sen ça no Bra sil de mo crá ti co da Cons ti tu i ção de 1988.Ao con tor nar um qua dro his to ri o grá fi co qua se sa tu ra do de pes qui sas sobre a es quer da, a au to ra em pre en deu uma in ves ti ga ção com pre en si va, sen sí vel e com bom hu mor, abor dan do tema gra ve e trom bu do: um par ti do de di re i ta, es teio de um re gi me di ta to ri al e san gui ná rio (mas que não dis pen sou, to tal men te, a exis tên cia de ele i ções, par ti dos -si tu a ção e opo si ção -e, por con se guin te, do Poder Le gis la ti vo). Logo, o que Lu cia Grin berg dá ao le i tor é um li vro que alia pesqui sa ri go ro sa a uma ob ser va ção que per ce be a in cer te za, a di ver si da de, o jogo de for ças, e a he te ro ge ne i da de do pro ces so histórico.Ele gen do para epí gra fe do ca pí tu lo 1 "a Are na é a fi lha da UDN que caiu na zona", a au to ra foi fe liz em in di car que seu li vro in ci de so bre um pe río do es tendi do en tre o pré-64 -note-se a men ção à União De mo crá ti ca Na ci o nal -e os anos 1980, quan do a Are na é ela bo ra da, na me mó ria e nas pá gi nas do hu mor po lí ti co, como uma mu lher mal di ta, alvo de ape dre ja men tos, mo ti va dos, em sua ma i or parte, é ló gi co, pela ra i va con tra a di ta du ra. Como Grin berg ar gu men ta que, "en quanto os mi li ta res e o go ver no não po di am ser ata ca dos de fren te, a Are na po dia" (p. 284), cabe, as sim, se guir sua per cep ção: de um lado, uma mu lher ri di cu la ri za da (a pró pria Are na); de ou tro, go ri las vi ris e bru ta mon tes (os mi li ta res).Entre os seus mais in te res san tes re sul ta dos, o li vro mos tra a im por tância do Par ti do So ci al De mo crá ti co (PSD) no fun ci o na men to da Are na e de como esse par ti do ge tu lis ta era vis to pe los are nis tas como "o mo de lo por ex ce lên cia de par ti do go ver nis ta e ma jo ri tá rio", cuja si gla ca be ria à Are na re cu pe rar em caso de even tu al dis so lu ção. Em 1979, isso era, com cer te za, uma "al ter na ti va ines pera da", em par ti cu lar quan do "con tras ta da com a me mó ria cons tru í da so bre a Are na como a gran de her de i ra da UDN" (p. 221). Se a as so ci a ção en tre Are na e PSD foi mais re cor ren te do que o es pe ra do, isso cor ro bo ra que o tra ba lhis mo foi a par te mais in di ges ta da con tro ver sa he ran ça de Var gas. No fi nal, va leu foi o re alis mo, pois re e di tar a si gla do PSD po de ria ofen der con vic ções ude nis tas -an tige tu lis tas -so bre vi ven tes na Are na. Nota a au to ra que a si gla PDS, de Par ti do De mo cr...
Enfim traduzido, o livro de Edward Baptist vem para estimular o conhecimento do passado e a compreensão do mundo contemporâneo. O autor propõe trazer a lume a metade da História nunca contada: a escravidão estadunidense fazendo par com o capitalismo industrial britânico, e, também, o seu papel na formação do capitalismo estadunidense, de 1790 a 1860. Debruçada sobre essa aliança entre lavoura escravista e Revolução Industrial no Atlântico Norte, a obra também faz ver a experiência de homens e mulheres escravizados, africanos ou afrodescendentes. Com cenas vívidas, ampla e minuciosa pesquisa, reconstitui a experiência e a ação -agency -dos trabalhadores. O livro de Baptist comprova, novamente, o "impacto dos em tese impotentes sobre os poderosos em termos econômicos e políticos" (Greenidge, 2020).O autor Edward Baptist é professor da Universidade de Cornell e historiador dos Estados Unidos, tendo o século XIX como recorte cronológico. Estuda a vida de homens e mulheres escravizados no Sul, região que é cenário de uma maciça expansão da escravatura, devido à lucratividade do algodão (o que terminou por precipitar a Guerra Civil em 1861). O público a que o livro se destina é aquele que deseja conhecer melhor a força da escravidão, por um lado, e, por outro, também a força dos escravizados. Também mata a sede de quem quer entender o contemporâneo apego dos estadunidenses ao lado perdedor da guerra, o sulista, que quis se separar do país para fundar um outro, a fim de manter a escravidão. Os efeitos duradouros desse apego podem ser
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