Este artigo analisa a problemática da produção independente, experiência de maternidade que surgiu com esta denominação nos anos sessenta e setenta no Brasil. Para este efeito entrevistamos mulheres que assim denominaram sua experiência de mães, procurando analisar, através dos seus discursos, alguns aspectos que dizem respeito às construções do feminino, como destacamos no título.Consideramos, portanto, a produção independente na perspectiva de uma construção, um acontecimento, dentre outros, que se inscreve no interior das mudanças subjetivas em curso nas sociedades ocidentais modernas, particularmente as que surgiram a partir da segunda Resumo Este trabalho examina a representação do feminino nos discrusos sobre a maternidade através de entrevistas feitas em um grupo de cinco mulheres pertencentes aos extratos médios urbanos e que relataram ter tido seus filhos como produção independente. As entrevistadas eram profissionais de nível superior, entre quarenta e cinqüenta anos de idade, tiveram seus filhos na década de oitenta, e viveram, como experiência geracional, as discussões de cunho libertário e feminista dos anos sessenta. Os resultados mostraram que as entrevistadas partilham de um mesmo ethos, apresentando os mesmos valores e crenças quanto à independência e à liberdade, e quanto ao lugar tradicionalmente destinado à mulher na maternidade. A produção independente revelou-se uma tentativa de construção de um novo lugar para a mulher, a partir do reconhecimento da maternidade como questão feminina, submetida, entretanto, ao universo dos valores do individualismo moderno. Palavras-chave: Feminino; produção independente; individualismo; desejo de filho; procriação. AbstractThis article examined the feminine representation through the speeches of five middle class, urban women about motherhood. All the subjects interviewed were between forty and fifty years old, were professionals, had university degrees and reported having had their children as single mothers in the eighties. Their generation experienced the discussions of liberation and feminism of the sixties. The results showed that the subjects shared the same ethos and presented similar values and beliefs concerning independence, freedom and the place traditionally assigned to women as mothers. The option to become a single mother appeared as an attempt to build a new place for women, starting from the acknowledge of motherhood as a feminine issue subjected, however, to the universe of modern individualism values. Keywords: Feminine; optional single motherhood; individualism; desire to have a child; procreation. Feminine Constructions after The Sixties: The Issue of Optional Single Motherhoodmetade do século XX. Estas mudanças têm produzido uma inflexão profunda nos valores ligados à idéia de liberdade e de autonomia dos indivíduos.Dentre as mais recentes e importantes transformações nas mentalidades da sociedade moderna, que vêm colocando em questão alguns valores axiais e constitutivos do indivíduo, devemos destacar a defesa intransigente da igualda...
Este artigo relata um estudo feito com pessoas que vivem em situação de sorodiscordância - caracterizada pela parceria entre uma pessoa soropositiva para o HIV e outra não - e busca compreender de que modo elas convivem com essa condição que pode se apresentar como uma constante prática de risco. Foram realizadas, no Centro de Testagem e Aconselhamento do Hospital Escola São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quinze entrevistas com usuários que vivem em situação de sorodiscordância. O temor de transmitir o vírus HIV ao (à) parceiro (a) soronegativo (a) apareceu como uma constante. Além do medo, dificuldades para conversar sobre o assunto, planejar o futuro e manter uma vida sexual considerada satisfatória também se destacaram. O uso do preservativo não aparece como algo adotado facilmente. Os entrevistados apontam outros fatores em jogo no exercício das práticas sexuais com prevenção efetiva - para além do conhecimento sobre as formas de infecção pelo vírus. Tais fatores parecem depender mais diretamente das possibilidades de cada um dos parceiros em construir uma identidade do casal diante de uma nova realidade que traz risco. Paradoxalmente, o risco de infecção que está sempre num outro, neste caso, está num outro muito próximo, do qual depende, inclusive, a permanência do casal.
ResumoO conceito de Promoção da Saúde vem sendo trabalhado por diferentes atores sociais ao longo dos últimos vinte anos e publicações teóricas e pesquisas têm contribuído para proceder à delimitação dos conceitos e práticas nesta área; em alguns casos, partindo de um ponto de vista crítico com relação ao seu arcabouço teórico-conceitual. Este artigo analisa o discurso sanitário contemporâneo no contexto das políticas de promoção da saúde; identificando essas políticas como estratégias reguladas, sobretudo, pela manutenção do projeto biopolítico de controle social dos corpos. Reconhecemos, então, o atual discurso da Promoção da Saúde como um dispositivo de regulação da vida que se define, de certo modo, pela continuidade do projeto biopolítico moderno tal como descrito por Foucault. Porém, mais do que isso, a promoção da saúde apresenta-se como uma forma de controle e regulação dos corpos através de uma inflexão sobre a responsabilidade individual na administração da vida. Desta forma, o discurso da promoção da saúde ajusta-se à perspectiva das doutrinas do fim do Estado de Bem-Estar Social; constituindo-se como um projeto de autonomização dos indivíduos através da atribuição de responsabilidade sobre seus próprios cuidados. Nosso olhar sobre o quadro conceitual da promoção da saúde busca, assim, inserir-se no atual debate travado no campo da saúde coletiva, sublinhando as transformações nas concepções de saúde e doença, seu compromisso com o fim do Estado de proteção e seus efeitos nas sociabilidades.
RESUMOEste artigo propõe uma reflexão sobre o ideal de juventude no mundo atual a partir da emergência da nova forma-sujeito na contemporaneidade: o sujeito "causa de si mesmo", marcado pela maximização dos valores de autonomia e de liberdade. Essa forma-sujeito se constitui na ausência de um enunciador coletivo, revelando, aparentemente, uma condição de autossuficiência que, entretanto, oculta um estado de desproteção e de desamparo. Nesse cenário, esse novo sujeito acredita ser naturalmente voltado a viver livre de determinações, aberto a todas as direções e sempre disposto a recomeçar. Diante da imposição social de múltiplas performances e de flexibilidade, características da contemporaneidade, alcançar a maturidade deixou de ser um ideal a atingir, e permanecer jovem tornou-se a fórmula que melhor corresponde a essa capacidade de constante reinvenção de si. Nessa perspectiva, no mundo atual onde se deve tudo experimentar sem se fixar, ser jovem tornou-se um estilo de vida.Palavras-chave: juventude; pós-modernidade; transmissão; estilo de vida. ABSTRACTThis article proposes a reflection on the youth ideal in the present world from the emergence of the new subjectform in the contemporaneity: "cause of itself", marked by the maximization of the autonomy and freedom values. This subject-form makes itself without a collective enunciator, what point to an apparent self-sufficient condition. However, this new subject also hides a state of helplessness and abandonment. In this context, the new subject believes to be free from determinations, open to all ways and always willing to start over. Faced with the social imposition of multiple performances and flexibility, characteristics of contemporaneity, reaching maturity is no longer an ideal to attain, and remain young became the way that best answers to the constant capacity to reinvention of itself. thus, in the current world in which everything can be tried at the same time as nothing should be permanent, being young has become a lifestyle.Keywords: youthfulness; post-modernity; transmission; way of life. A atualidade da juventude numa sociedade de indivíduosMarcada por inúmeras transformações, a juventude vem assumindo hoje um sentido bastante diverso do que assim se compreendia há apenas algumas décadas atrás. Os jovens pertencem a um mundo cujo valor maior e mais fundamental é hoje o valor da liberdade. Este artigo propõe uma discussão sobre o lugar da juventude na sociedade contemporânea, tomando como referência as mudanças subjetivas em curso principalmente a partir das últimas três décadas do século XX, mudanças que caracterizamos como o surgimento de uma pós-modernidade (lyotard, 1979). Na sua análise sobre o que acontece nos dias atuais nas nossas sociedades ocidentais nesta era pós-industrial, lyotard (1979) chama a atenção para modificações substantivas quanto ao estatuto do saber e quanto à natureza da ciência. Há, hoje, diagnostica lyotard (1979), uma crise dos conceitos fundamentais à modernidade, tais como o de sujeito, de razão, de verdade e de progr...
This article analyses the National Health Promotion Policy discourse and the conception of autonomy in this document, raising questions about its social effects, especially in what concerns the individual responsibility towards health care. The official document was examined and three main ideas were defined for its analysis: individual responsibility; focus on personal choices and everyday habits; subjectification processes. We consider that the discourse of promotional health determines a standardization of life styles that are considered to be healthy, highlighting the responsibility of each individual of preserving their personal health. Such object is justified because it is essential to reflect on how the health care models are formulated, that power relations they are at the service and what are the discursive production processes that allow the enunciation of a given model of public health policy. We intend to contribute with this research to the debate within the public health field, regarding the conceptual formulations under the Health Promotion, to propose reflections aimed to transform the way they think and intervene in Brazilian population's health.
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com crianças e adolescentes com condições crônicas complexas internados em um hospital de referência localizado no município do Rio de Janeiro. O objetivo do estudo foi investigar os sentidos atribuídos por estas crianças e adolescentes à ideia de saúde. Como metodologia foi utilizada a perspectiva etnográfica. A observação participante e diferentes abordagens lúdicas foram utilizadas de modo a possibilitar a expressão das crianças e dos adolescentes garantindo, assim, o protagonismo deles como sujeitos da pesquisa.Ao longo do estudo ressaltou-se nas crianças sobretudo a capacidade normativa destas, capacidade a que se refere à Georges Canguilhem (1978) em sua obra “ O Normal e o Patológico” que encontramos presente em todas as circunstâncias do adoecimento como modos de lidar com as difíceis situações de sofrimento inerentes às condições crônicas.
Este artigo examina os efeitos sobre o sujeito e sobre o fazer sociedade causados pela hegemonia da racionalidade tecnocientífica no contexto do ideário liberal das sociedades contemporâneas. Propondo uma clínica da pós-modernidade, destaca-se a emergência de um olhar objetivante sobre a condição humana, olhar que subtrai a singularidade que a constitui como ser da linguagem e da cultura. Predomina, deste modo, o discurso de que tudo é possível. Analisa-se, neste sentido, o surgimento de uma novilingua pós-moderna como dispositivo de constituição de uma visão pragmática e totalizante do homem e da vida coletiva.
HERDEIRA DE UM MOVIMENTO DE TRABALHADORES DE SAÚDE MENTAL (MTSM), que como tantos outros movimentos sociais se anteciparam aos partidos políticos em reivindicações de grupamentos específicos, quando a ditadura militar dava sinais de esgotamento, a Reforma Psiquiátrica Brasileira impôs uma nova prática em saúde mental. Desde o seu início, ela questionou o manicômio para se firmar como uma nova proposta de cuidados em saúde mental tendo por base um tripé que reivindicava direitos, ética e tratamento comunitário. Reivindicou o direito da pessoa com transtornos mentais no campo dos direitos humanos; propôs uma ética inclusiva à sociedade em relação à loucura; e apresentou uma alternativa de serviços comunitários e substitutivos em oposição ao manicômio. Portanto, essa sustentação foi construída como resposta possível ao lema ainda utópico do MTSM: 'Por uma sociedade sem manicômios'.O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo da eclosão do 'Movimento Sanitário', nos anos setenta, em favor da mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. Contudo, se a Reforma Psiquiátrica é contemporânea da Reforma Sanitária, ela tem uma história própria ligada ao movimento internacional para a superação da violência asilar. O MTSM, fundado ainda na ditadura e no seu II Encontro, conhecido como Congresso de Bauru, lançou a utopia reformista 'Por uma Sociedade sem Manicômios' o que significava construir uma nova forma social e cultural de lidar com a loucura.Desinstitucionalizar o louco. Não porque se almejasse sua cura, mas, ao contrário, abrir as condições de possibilidade de produção de vida, como Rotelli 1 ressaltava. Desinstitucionalizar era, neste sentido, acreditar que era possível ao louco inventar seus modos de andar a vida fora dos muros do manicômio. Era necessário sustentar uma política de grande fôlego que, naqueles idos da década de oitenta de fim do século XX, tendo como referência a reforma psiquiátrica italiana e acompanhado do olhar de otimismo para o processo de reconstrução democrática no Brasil, buscava-se criar as condições necessárias para, ao fim, podermos sepultar toda a lógica fundadora da tecnologia alienista pineliana.Este era o cenário no qual, em 1987, fundou-se, em São Paulo, o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps Luís Cerqueira), possibilitando discussões que iriam finalmente propor uma assistência comunitária, o que veio a caracterizar a nossa Reforma Psiquiátrica. Ainda nesse mesmo ano, a I Conferência de Saúde Mental propôs a inserção da Reforma Brasileira no Sistema Único de Saúde (SUS), o que aconteceria no ano seguinte com a promulgação de nossa Constituição, considerada e nomeada a Constituição-Cidadã, dado que nela se afirmava
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