A última década do século XX esteve atravessada por dois debates que guiaram grande parte da produção intelectual e das polêmicas promovidas em diversos círculos acadêmicos do mundo. Os dois debates, e seus múltiplos desdobramentos, estavam imbricados entre si, em aspectos e posturas que dependiam dos locais e das situações particulares em que eram enunciados e re-enunciados, e dos modos em que se adequavam a cada contexto específico, marcado por urgências, necessidades e posicionamentos divergentes, que favoreciam uma constante multiplicação de ecos e reformulações, de traduções, de apropriações e de réplicas. Cronologicamente, o primeiro desses debates girava em torno dos possíveis sentidos a serem atribuídos a uma hipotética era -a pós-modernidade -e a um concomitante adjetivo ou condição -o pós-moderno. Já o segundo, que haverá de se intensificar na segunda metade daquela década, tinha a ver com as propriedades, as tradições, os objetos e as funções de um emergente campo de saber e/ou de atuação -os estudos culturais.Em um mundo moldado pela queda do muro de Berlim, assim como pela desintegração das dicotomias instauradas pela Guerra Fria, pela intensificação dos processos de transnacionalização do capital, pela revolução tecnológica e pela mundialização sob a égide da hegemonia neoliberal, discutiam-se os significados do prefixo "pós", ora visto como índice de uma continuação ou como evidência de uma falência definitiva do projeto inacabado da modernidade; como expressão de uma cultura global de massas que havia perdido as esperanças mobilizadas pelos anseios modernos e transformava o pastiche e a citação em recursos inefáveis, ou como o sintoma de um tempo posterior, que vinha a anunciar a superação de antigos dilemas. Os tempos pareciam favorecer os prognósticos acerca do inevitável fim (das ideologias, das utopias, do socialismo, do Estado, dos grandes relatos, da História) e incautos augúrios de futuras felicidades ou certezas (a teoria do derrame e as benesses das "leis" do mercado e do 1 Doutor em estudos hispânicos e latino-americanos e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil.