Neste artigo, focaremos nos deslocamentos e nas percepções do espaço criados através do movimento de corpos que transitam pelos entre-lugares, marcando um (não) pertencimento, temática recorrente nos textos literários produzidos por mulheres negras. Considerando que algumas teóricas dos estudos sobre o espaço, como Massey (2008, p. 69), podem dialogar com o conceito de “erosão do espaço heterogêneo”, de Foucault (2013, s/p), ao ressaltar a afetação espacial que os corpos, socialmente marginalizados, sofrem nos contextos globais de poder (BHABHA, 1998, p. 292), investigaremos a representação de dois espaços nomeados, respectivamente, Buracão e Grota, presentes no romance “Becos da Memória” (2017) e no conto “Grota Funda” (2017), de Conceição Evaristo. Para tanto, nos basearemos nas discussões de Conceição Evaristo (2005), Nazareth Fonseca (2017), Simone Schmidt (2016), entre outros. Ademais, a hipótese que norteará este estudo é que, a representação do abismo no conto, tem sua gênese no romance, no Buracão da favela.