A partir de pesquisas desenvolvidas no contexto da América Latina e Portugal que mapearam programas de atendimento a homens autores de violência contra mulheres, este artigo busca problematizar como homens autores de violência têm sido visibilizados pelas políticas públicas. São iniciativas de entidades não governamentais, em sua grande maioria, que desenvolvem programas para o atendimento ao homem, embora tenha crescido no Brasil intervenções governamentais depois da criação da Lei Maria da Penha. Em Portugal, dos quatro programas visitados, três deles estão vinculados a universidades e outro a um hospital. Ao esboçar alguns dos enfrentamentos para atender a demanda masculina, o êxito dos programas precisa ser salientado, ao propor atendimentos educativos reflexivos e/ou terapêuticos. Através da elaboração e fortalecimento de políticas públicas e de intervenções que deem visibilidade aos homens autores de violência amplia-se a possibilidade de promover mudanças neste cenário.
RESUMOLeis e políticas públicas dirigidas a assuntos relacionados à violência de gênero merecem reflexão no momento de aplicação e análise. Enquadradas em uma sociedade heterocentrista e patriarcal, sua aplicação não está isenta de dificuldades, armadilhas e lacunas. Este texto, tendo como base de análise a psicologia crítica, estudos de gênero pós-estruturalistas, teoria queer e criminologia crítica, pretende ser um convite a reflexão sobre como estas leis e políticas tem contribuído para construção e permanência de um estereótipo e antinomia homem-maltratador versus vítima-mulher. Para este fim, vemos necessária a ênfase aos processos desde onde os sujeitos produzem gênero. Nossa motivação é contribuir com ferramentas de análise que permitam abrir novas perspectivas para a intervenção jurídica e assistencial. Como reflexões conclusivas, ressaltamos a importância de liberar-se de um discurso dicotômico e linear, de estar atento a relações de poder e considerar diferenças e particularidades descentradas do normativo e de posicionamentos fixos heterocentrados.Palavras-chave: lei; políticas, gênero; violência. ABSTRACTLaws and public policies aimed at gender violence-related issues deserve to be reflected upon at the time of their application and analysis. In the context of a heterocentric and patriarcal society, their application is not free from difficulties, traps and lacunae. This text, grounded analytically on critical psychology, post-structuralist gender studies, queer theory, and critical criminology, intends to be an invitation to a reflection on how these laws and policies have contributed to building and maintaining a stereotype and antinomy of man-as-aggressor versus woman-as-victim. For such, it is necessary to focus on the processes whence the subjects produce gender. Our motivation is to contribute with analytical tools that enable opening new perspectives for legal and assistential intervention. As conclusions, we underline the importance of freedom from a linear, dichotomous discourse, of paying attention to power relations, and of taking into consideration normative-decentred differences and particularities, and from fixed heterocentred positions.Keywords: law; policies, gender; violence.A violência de gênero está em evidência na mídia espanhola e brasileira de maneira cotidiana, principalmente após a promulgação de leis protetoras a mulheres em ambos os países. Estas novas leis, frutos de la influência de acordos e conferências internacionais; assim como da análise e implicação de movimentos sociais nos respectivos países (Brasil e Espanha) deram maior visibilidade a esta problemática. No caso da Espanha, esta maior atenção midiática pode ser constatada em sites que fazem um rastreamento das principais notícias, como o Red Feminista (www. redfeminista.org) e Centro Reina Sofia (www.centroreinasofia.es) . Neste país, realiza-se uma contagem anual do número de vítimas de violência de gênero, que divulgada pela mídia, a nova morte, visa sensibilizar aos vários segmentos da sociedade.No contexto bra...
Resumo Este artigo opinião apresenta reflexões sobre masculinidades e construções de gênero - a partir do fenômeno global da pandemia do novo coronavírus -, produzidas por pesquisadores/as que integram a equipe nacional de uma pesquisa sobre política de atenção integral aos homens na saúde, no Brasil. A partir de leituras baseadas em gênero, o artigo argumenta que é preciso atentarmos que a socialização masculina cisheteronormativa se orienta a partir de três eixos: 1) a abjeção às práticas de cuidado de si e dos outros; 2) a rejeição às práticas preventivas em saúde, dada uma distorcida matriz de percepção de risco (e certo sentimento de “invulnerabilidade”); 3) a dinâmica doméstica marcada por posições de comando, ordenamento e honra. Essas dimensões da vida cotidiana foram profundamente provocadas nesta primeira fase da epidemia, em que o confinamento se tornou a alterativa mais recomendável. Esses eixos se configuram como repertórios recorrentes (embora não recentes) que reificam o modelo central de uma ordem masculina que precisa se tornar objeto de reflexão, na medida em que colocam em risco a saúde de homens e mulheres e mais amplamente dos pactos civilizatórios e da ordem social.
RESUMO: As Histórias em Quadrinhos de super-heróis ganham vida na imaginação dos leitores, estabelecendo fortes ligações com seu cotidiano. Um corpo musculoso e viril vem historicamente se tornando o referencial de corporeidade masculina, enquanto corpos que desviam desse modelo são comumente satirizados ou excluídos da mídia. Este ensaio objetiva discutir as formas de representação do corpo masculino nas HQs da DC Comics, especificamente nas histórias de Superman e de Batman, conforme a caracterização de personagens como "heróis", "vilões" ou "coadjuvantes". Nossa premissa é a de que estas caracterizações remetem a tendências distintas de representação dos corpos, (re)produzindo normas sociais e valores de estética sobre as corporeidades. PALAVRAS-CHAVE: Histórias em quadrinhos; masculinidades; corporeidade; mídia. GENDER AND SUPERHEROES: THE MASCULINE BODY TRACED BY THE NORMABSTRACT: Superhero comic books gain life in the reader's imagination, establishing strong connections to their daily life. A muscular and virile body has historically become the reference for male corporeality, while bodies that deviate from this are commonly satirized or excluded from the media. This essay intends to discuss the forms of representation of the male body in DC comic books, specifically Superman and Batman, according to the portrayal of characters as 'heroes', 'villains' or 'supporting characters'. Our premise is that these roles relate to distinct tendencies for the depiction of bodies, (re)producing social norms and aesthetic values upon corporealities. KEYWORDS: Comic books; masculinities; corporeality; media. PrelúdioAo mesmo tempo refletindo e construindo realidades, as Histórias em Quadrinhos de super-heróis ganham vida na imaginação de seus leitores, estabelecendo fortes ligações com o mundo cotidiano destes. A exemplo de outras mídias, as HQs freqüentemente se prestam a representar ideais, valores, normas e padrões de conduta da sociedade de consumo, que servem à manutenção dos poderes instituídos; ainda que, por vezes, também sirvam à denúncia destes mesmos mecanismos. A construção dessas narrativas está diretamente ligada à experiência concreta de seres humanos -seus autores e editores, em relação com a comunidade leitora -(re)produzindo determinadas formas de existir e funcionando como mediação do real.Um corpo musculoso, forte e viril (tirado de academias, imagens publicitárias e veículos de entretenimento) vem historicamente se tornando o referencial de corporeidade masculina, enquanto corpos que desviam deste padrão são comumente satirizados ou mesmo excluídos da mídia. Segundo padrões normativos da atualidade, mús-culos são indicativos de masculinidade (Glassner, 1989), atestando um ideal de força e virilidade, potencializado pela mídia sobre o imaginário de jovens homens. No caso das HQs de super-heróis, percebe-se uma heterogeneidade de representações corporais masculinas que demonstram variar de acordo com a caracterização do personagem.Considerando esse contexto, buscamos refletir sobre as diferentes forma...
Resumo A violência contra mulheres é considerada um grave problema de saúde pública, uma violação dos direitos em todo o mundo. Como parte das políticas de enfrentamento a esse tipo de violência, a Lei Maria da Penha prevê a participação de homens autores de violência (HAV) em programas de atenção cuja atuação principal é a realização de grupos reflexivos. Este artigo apresenta um mapeamento de programas para HAV no Brasil realizado entre 2015 e 2016. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva realizada em dois momentos. No primeiro, foram localizados 41 programas das cinco regiões do país, dos quais 26 responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas. Os dados foram analisados segundo quatro categorias: estrutura do programa, metodologia empregada, monitoramento e avaliação e resultados e desafios. No segundo momento, foram analisados outros mapeamentos de programas brasileiros e internacionais com HAV, além de documentos nacionais e internacionais que sugerem diretrizes para sua execução. Notou-se semelhanças entre os programas encontrados e os documentos analisados, como o vínculo das iniciativas com instâncias governamentais, fundamentação nas teorias de gênero e modalidade de intervenções em grupo. A partir do diálogo entre outros mapeamentos, estudos apresentados e resultados encontrados, sugere-se diretrizes mínimas para a realização de grupos reflexivos.
INTRODUÇÃOVivemos em um momento de crise, desemprego e intensa exclusão social. Homens e mulheres se tornaram descartáveis, como meras mercadorias de prateleiras de supermercados, no qual excluídos se tornam multidões. Em todo o mundo, crescem os protestos, em prol de alternativas para solucionar tais problemas. Buscam-se maneiras que possam garantir a sobrevivência das camadas mais atingidas da população, oferecendo oportunidade real de se re-inserir na economia por sua própria iniciativa; transformando, dessa forma, desempregados em microempresários ou operadores autônomos.Entre as estratégias de sobrevivência cabe destacar a ampliação e o desenvolvimento de organi-NOVOS CAMINHOS, COOPERAÇÃO E SOLIDARIEDADE: A PSICOLOGIA EM EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS 1 Maria Chalfin CoutinhoAdriano Beiras Dhiancarlos Picinin Gabriel Luiz Lückmann Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO: Cada vez mais se buscam alternativas para garantir a sobrevivência das camadas mais atingidas da população. Dentre as estratégias já realizadas, cabe destacar a ampliação e o desenvolvimento de organizações populares, fundadas nos princípios da solidariedade, constituindo, assim, alternativas de trabalho e geração de renda para trabalhadores excluídos do mercado de trabalho formal ou informal. Dentro deste contexto, este trabalho buscou evidenciar novas possibilidades de atuação da psicologia social e do trabalho junto a estas organizações fundadas nos princípios gerais da autogestão. Para isso propôs-se a realização de uma discussão sobre a economia solidária hoje e a delimitação do papel da psicologia neste setor. Assim, efetuou-se um breve levantamento sobre o significado e os conceitos de economia solidária, autogestão, cooperativas e associativismo, e sua historia no Brasil de forma a integrar este conhecimento com a psicologia visando evidenciar possibilidades de um novo campo de atuação. PALAVRAS-CHAVE: Economia solidária, cooperativismo, psicologia social do trabalho NEW PATHS, COOPERATION AND SOLIDARITY -THE PSYCHOLOGY IN SOLIDARY ENTERPRISESABSTRACT: More and more often, alternatives to provide the survival of the most needy part of the Brazilian population have been searched. Amongst these strategies, solidary organizations accomplish an outstanding work. Recently, these organizations have been developing and increasing in popularity, as well as providing alternatives in employment and income for workers excluded from the formal and the informal labour market. Given this scenario, there are contributions which social and occupational psychology can make to these selfmanaging organizations. This article begins proposing a discussion about the current situation of solidary economies and the definition of the psychologist's role in this sector. This discussion is based on a research regarding the history of solidary economies in Brazil, its meaning and related concepts, such as self-management, cooperatives and associative organizations. The combination of the knowledge acquired through the research and the psychology provides a n...
Resumo: Internacionalmente, tem crescido o entendimento de que, para prevenir as violências de gênero, é necessário trabalhar e envolver os homens. Após a promulgação da Lei 11.340/06, que trouxe previsão legal para as intervenções com autores de violência doméstica e familiar no Brasil, o debate acadêmico tem avançado significativamente. Contudo, o tema carece de revisão crítica com vistas a articular os estudos nacionais. Diante desse quadro, o objetivo deste artigo é analisar a produção acadêmica nacional sobre o tema a partir da literatura especializada e relatórios nacionais. A sistematização da produção acadêmica nacional sugere a possibilidade de transformações nas relações, entretanto, traz à tona fragilidades na estruturação das políticas de enfrentamento à violência como um todo.
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