Resumo: O ensaio é um gênero literário extremamente heterogêneo e tal característica se deve fundamentalmente ao comportamento inconstante do ensaísta, "visionário do pensamento e dialético da metáfora", que faz do ensaio "o gênero da mistura e da contaminação", como bem lembra o crítico italiano Alfonso Berardinelli. Ao analisarmos a produção não ficcional de Italo Calvino, notamos como é diversificado o conjunto de textos do escritor. Não se trata apenas de uma variação de conteúdo, inevitável na escrita ensaística, mas de uma grande diversificação no plano da forma e da estrutura argumentativa dos textos, que mostra como Calvino percebe plenamente a vocação de abertura e de inventividade lingüística do ensaio.
Palavras-chave:Literatura italiana, Italo Calvino, ensaio.Abstract: As a literary form, the essay is widely heterogeneous and this characteristic is principally due to the irregular behaviour of the essayist, "a visionary of thought and dialectic of metaphor", who makes an essay "a genre of mixture and contamination", as the Italian critic Alfonso Berardinelli has stated. On analysis of the non-fictional work of Italo Calvino, one can see how diverse the author's texts are. This is not only through the variety of content, inevitable in essays, but also through the wide variety of forms and the discoursive structure of the texts, which shows Calvino's patent understanding of the enlightening nature and linguistic inventiveness of the essay.Italo Calvino é hoje um dos pontos de referência da literatura contemporânea e isso ele conquistou por meio de uma prática literária não-ortodoxa, sempre aberta às mudanças, e por sua atividade de crítico, ensaísta e intelectual. Essas são as duas áreas, para Calvino muito próximas, em que ele consolidou seu nome. Na produção narrativa de Calvino pressente-se, já nos primeiros experimentos neorrealistas, uma desconfiança patente em relação às formas de representação do romance tradicional e, consequentemente, um interesse inato pela descontinuidade, pela estilização e pela transmutação, que explica o fascínio do escritor pelas formas pré-modernas e pósmodernas de narração, como a fábula, o romance fantástico, a alegoria, o conto filosófico e o meta-romance, pesquisadas e aprimoradas sobretudo a partir do estudo de autores clássicos como Ludovico Ariosto, Giacomo Leopardi 1 e Galileo Galilei.Calvino, como sabemos, não é um escritor instintivo, mas um escritor teórico que estuda profundamente a matéria com a qual trabalha. Se examinarmos a prosa italiana e suas várias manifestações ao longo de sua história, veremos que ela conserva certa autonomia em relação ao cânone narrativo e apresenta, em confronto a outras literaturas européias, tradição menos forte no romance. Trata-se, como já observara o próprio Calvino, de uma prosa em que o romance e a narrativa nunca foram dominantes ou, em suas palavras, de:[...] uma literatura na qual, em seu conjunto, além do uso do verso e da prosa, prevalece uma atitude cognitiva, descritiva, enciclopédica e visionária, pictórica e discur...