Esse artigo se propõe a buscar, na formação do imaginário da Inteligência Artificial dos anos 1990 e 2000, as razões sociais da construção do otimismo em relação ao futuro, com a hipótese de que disciplinas como a Inteligência Artificial lançam-se à esfera pública como produtoras de imagens de futuro poderosas o suficiente para que se tornem, na linguagem popular, um tipo de consciência histórica adequada ao neoliberalismo, examinando o caso exemplar de Raymond Kurzweil. Inicialmente, serão abordados alguns pressupostos da cultura sci-fi na qual se formam esses discursos. Depois, será dada uma atenção à discussão da importância da biografia do profeta, Kurzweil, na intenção de analisar a importância do tema do guru fundador, do profeta, na construção social do otimismo com a tecnologia junto com a nova ideia de personalidade. Em seguida, serão analisados, a partir dos pressupostos anteriores, as modalidades de consciência histórica que se propagam através deles: o agenciamento de si no futurismo, a questão da tecnologia e o tipo de relação entre destino histórico e destino individual. Nossa hipótese é que os futuristas não são os profetas do futurismo, mas do atualismo, e de que a construção e a fortuna pública desse imaginário tem como coluna espinhal a ideia de que a biografia de um indivíduo exemplar é nada menos do que uma reprodução em micro escala da biografia do mundo.