Este artigo se propõe a explorar a dinâmica do universo cultural da Argentina na primeira metade do século XX a partir da observação da circulação de distintas atitudes intelectuais. Isso significa analisar, em paralelo às disputas teóricas entre positivistas e espiritualistas e suas reverberações institucionais, os estilos de vida que informavam as discordâncias teóricas. Parto da emergência de um grupo de intelectuais nacionalistas argentinos que ganha espaço a partir da radicalização do discurso crítico dos anos 1920, no intuito de analisar a decadência da referência francesa – grande orientadora das expectativas da elite letrada argentina da virada do século – e a ascensão de referências alemãs e espanholas que viabilizavam não apenas a divulgação de ideias novas, como também, de um novo “sentido do jogo” para os intelectuais argentinos.
Este artigo revisa a trajetória intelectual de Victoria Ocampo à luz das reflexões de uma história intelectual sociologicamente orientada. Essa abordagem atenta ao papel de Ocampo como testemunha da constituição de um habitus cultivado, central para a composição do campo intelectual argentino. Proponho que três aspectos da autobiografia de Ocampo – o uso culto de línguas não maternas, a espacialidade urbana de sua criação e seu epistolário – elucidam dispositivos de consagração das atitudes intelectuais que estão na base da autoimagem da elite argentina do início do século xx e servem como paradigma para uma reflexão sobre a pertinência interdisciplinar do testemunho enquanto observatório de práticas sociais condensadas nos dispositivos de distinção cultural.
A proposta do presente estudo é analisar a relação entre duas modalidades de adquirir e professar a cultura que concorrem no universo intelectual argentino durante as primeiras décadas do século XX, a saber, a esfera privada de produção cultural e a universidade oficial, ligada ao Estado. Trata-se de compreender de que forma a ampla rede de revistas literárias que caracteriza a Buenos Aires desse contexto se desenvolveu em relação de tensão com a profissionalização da Universidade que se acentuou a partir da Reforma de Córdoba, em 1918. Ao fim, este artigo pretende lançar luz sobre a possibilidade de abordar o campo intelectual a partir da inspiração de Carl Schorske, em Viena Fim de Século, considerando que os fenômenos intelectuais e culturais não se sucedem ou se enfrentam apenas em si mesmos, como unidades temáticas consistentes (diacrônicas) mas, sim, que eles estão relacionados, também, de modo sincrônico, às demais manifestações culturais e políticas de seu tempo.
O artigo discute a emergência de um projeto educacional chamado “Singularity University”. Inicialmente criado no Vale do Silício, ele compreende um conjunto de pressupostos teóricos e procedimentais que, baseados na chamada “tecnologia exponencial” procuram criar um novo modelo de ensino superior, alinhado aos princípios do universo tecnológico. Abordo os principais componentes do ethos intelectual que compõe o projeto, as profecias de futuro que embasam a literatura sobre o tema e, finalmente, a vinda da Singularity para São Paulo, com atenção para os efeitos que essa vinda tem na vida intelectual da cidade e, sobretudo, para os impactos desse novo modelo educional no debate público sobre o papel da universidade e dos intelectuais.
Esse artigo se propõe a buscar, na formação do imaginário da Inteligência Artificial dos anos 1990 e 2000, as razões sociais da construção do otimismo em relação ao futuro, com a hipótese de que disciplinas como a Inteligência Artificial lançam-se à esfera pública como produtoras de imagens de futuro poderosas o suficiente para que se tornem, na linguagem popular, um tipo de consciência histórica adequada ao neoliberalismo, examinando o caso exemplar de Raymond Kurzweil. Inicialmente, serão abordados alguns pressupostos da cultura sci-fi na qual se formam esses discursos. Depois, será dada uma atenção à discussão da importância da biografia do profeta, Kurzweil, na intenção de analisar a importância do tema do guru fundador, do profeta, na construção social do otimismo com a tecnologia junto com a nova ideia de personalidade. Em seguida, serão analisados, a partir dos pressupostos anteriores, as modalidades de consciência histórica que se propagam através deles: o agenciamento de si no futurismo, a questão da tecnologia e o tipo de relação entre destino histórico e destino individual. Nossa hipótese é que os futuristas não são os profetas do futurismo, mas do atualismo, e de que a construção e a fortuna pública desse imaginário tem como coluna espinhal a ideia de que a biografia de um indivíduo exemplar é nada menos do que uma reprodução em micro escala da biografia do mundo.
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