Trajetos escolares e destinos profissionais: o caso das ciências sociais no Brasil

Abstract

O presente texto focaliza as relações entre trajeto escolar e destinos profissionais nas ciências sociais brasileiras. Trata-se de uma primeira exploração de uma base de dados composta pelo conjunto dos professores vinculados aos programas de pós-graduação nas áreas de antropologia e arqueologia, ciência política e relações internacionais e sociologia. A hipótese geral que orienta a pesquisa é que as diferentes modalidades de trajeto escolar conectam-se às hierarquias dos cursos e instituições de destino. O objetivo é dimensionar o modo como a estrutura dos cursos de pós-graduação em ciências sociais diferencia modalidades de investimento escolar e impacta no perfil do corpo professoral. Para tanto, foi conduzida uma análise de correspondência múltipla (ACM), tomando a instituição escolar de origem, a data de fundação dos cursos, os conceitos de avaliação e o ponto de chegada em termos de vínculo profissional. Os resultados indicam que as conexões entre instituições de origem e de destino são dependentes das relações entre centro e periferia em nível nacional e internacional, impactando de modo diferencial nas chances de acesso às carreiras e de afirmação no campo das ciências sociais.

Entre “Espírito de corpo” e unidade do direito: definições de excelência e recrutamento social de duas faculdades tradicionais de São Paulo

“…29 Na realidade, este caráter endógeno não é específico da São Francisco, pois aparece também em outros cursos da USP, como as ciências sociais (BORDIGNON, 2018).…”

Os cientistas sociais no topo da hierarquia acadêmica

“…Essa distribuição transparece como o processo de afirmação de determinadas instituições no campo na posição dominante se dá não apenas pelo fato de possuírem mais bolsistas nas posições mais altas da hierarquia acadêmica, como também por mostrarem-se como importantes instituições formadoras de pesquisadores situados em outras instituições e que também atingiram a mesma posição nessa hierarquia. Claro que, em parte, este cenário é mantido pela própria endogenia existente nestes programas, como demonstram os dados apresentados por Bordignon (2019), algo que é relativamente recorrente nas instituições situadas no topo dos rankings acadêmicos (WEEBER, 2006). Mais uma vez, chama a atenção da UFRGS, na qual todos os seus 6 bolsistas 1A foram titulados no exterior, o que pode indicar uma distinta estratégia de legitimação dessa instituição no campo acadêmico.…”

“…Em que pese a relevância que o exercício de autorreflexão ocupa nas Ciências Sociais brasileiras 1 , que continuamente se propõem a pensar o próprio campo, como atesta o crescimento da literatura nos últimos anos (Forjaz, 1997;Vianna et al, 1998;Peirano, 2000;Lessa, 2010;Dwyer, Barbosa, Fraga, 2013;Lima, Cortes, 2013;Feldman-Bianco, 2013;Avritzer, Milani, Braga, 2016;Melo, Bernardo, Gomes, 2018;Lima, 2019;Bordignon, 2019;Marenco, 2019, Oliveira et al, 2021Oliveira et al, 2022), boa parte dos estudos ainda se centram na relação entre as disciplinas, sua institucionalização e nos pioneiros das Ciências Sociais (Maia, 2019).…”

O perfil dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq em Sociologia

“…Ao comparar com os dados da seção anterior, observase que a presença de pesquisadores PQ com formação no Sudeste se torna ainda mais significativa nesse grupo, uma vez que todos os pesquisadores formados no Brasil realizaram seus estudos nessa região. Entretanto, há de se considerar também o caráter bastante endógeno dos programas dessa região, com destaque para a USP (Bordignon, 2019), o que difere do perfil encontrado nos centros mais afastados desse eixo geopolítico: entre os cinco bolsistas PQ 1A que estão situados fora do Sudeste, quatro realizaram seus doutorados no exterior, e apenas um no Brasil (USP).…”

“…4 O agrupamento e o relacionamento institucional entre as três Ciências Sociais no Brasil reflete, portanto, o percurso socio-histórico que essas ciências assumiram no país. Apesar de se poder apontar que a gênese 2 Em termos de pós-graduação, atualmente, a área de Sociologia é responsável não apenas pela avaliação dos cursos de Sociologia no sentido estrito, como também de Ciências Sociais (que devem abarcar as áreas de Antropologia, Ciência Política e Sociologia) e aqueles híbridos que existem articulando as áreas de Antropologia e Sociologia e de Sociologia e Ciência Política. 3 dessa configuração se encontra na criação dos cursos de Ciências Sociais na década de 1930, esse termo implicava uma concepção mais ampliada do que a atual, como bem pode atestar a divisão de estudos pós-graduados da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, criada na década de 1940.…”