IComo tantas outras categorias fundamentais de nossa cultura, o termo "romantismo" padeceu de uma enorme extensão e banalização desde seu surgimento, entre os séculos XVIII e XIX. Muito já se escreveu sobre os meandros dessa história, cheia de revelações sobre nossa estrutura ideoló-gica. Há uma obra canônica de Isaiah Berlin, que perscruta de modo bem cuidadoso e empirista essa polissemia desafiadora (cf. Berlin, 2001).Minha posição aqui será -pelo contrário -bem dedutiva. Proponho de início um conceito claramente definido do que considero ser o "romantismo". Apresentarei um quadro geral das derivações ideológicas desse fenômeno ao longo do século XIX e apontarei muito sumariamente como a emergência e a evolução das ciências humanas ocidentais nele se inserem -sublinhando os pontos de continuidade e divergência.A posição sobre a qual se sustenta a presente proposta é a de um antropólogo, ou seja, de alguém que procura compreender a experiência humana do ponto de vista do seu sentido ou significado através das "culturas", de maneira comparada. Isso implica, em primeiro lugar, atribuir uma qualidade estruturante -e não apenas residual -à idéia de que a antropologia foi concebida e é cultivada dentro de uma cultura específica a que se pode chamar de ocidental moderna, já que esse epíteto envolve duas qualidades costumeiramente prezadas pelos seus nativos como parte da própria visão de mundo.