e as lutas por reconhecimento na teoria política contemporânea **
From theory to praxis: Axel Honneth and the struggles for recognition in contemporary political theoryA entrada da categoria do "reconhecimento" no vocabulário da teoria política contemporânea pode ser compreendida segundo duas razões principais. A primeira, de ordem "negativa", remete ao enfraquecimento das grandes narrativas (teoria da luta de classes, contradição entre capital e trabalho, relação entre base econômica material e superestrutura política, utopia da sociedade do trabalho) para produzir um diagnóstico adequado sobre a dinâmica dos conflitos sociais em condições de capitalismo tardio (com intervenção do Estado, democracia de massas e bem-estar social). A segunda, de ordem mais propositiva, remete ao engajamento da sociedade civil e à ampliação da agenda política que acompanhou as reivindicações plurais dos novos movimentos sociais 1 .Assim, no lugar dos conflitos tradicionalmente concentrados em torno da propriedade, da redistribuição, do salário ou do emprego, os novos conflitos * É professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP) e pesquisador do CEBRAP. E-mail: rurion@usp.br. ** Uma versão reduzida deste texto foi apresentada na 37ª ANPOCS, em outubro de 2013. Agradeço aos participantes do Seminário Temático de Teoria Política, coordenado pelos professores Cícero Araújo e Christian E. C. Lynch, especialmente aos professores Luiz Carlos Bresser Pereira e Sérgio Costa pelas críticas e sugestões. 1 Praticamente todos os principais autores que se apropriam do conceito de "reconhecimento" remetem a essa configuração comum, ou seja, são conscientes de que as lutas por reconhecimento se referem tanto à pluralidade cultural quanto ao fim das "grandes narrativas". Cf. principalmente Young, 1990;Taylor, 2000; Habermas, 2002; Honneth, 2003; Fraser, 2001; Benhabib, 2002. Para uma recente exposição de conjunto em relação à atualidade e transformações do conceito, ver Honneth, 2013a; e Honneth e Stahl, 2013.Revista Brasileira de Ciência Política, nº15. Brasília, setembro -dezembro de 2014, pp. 17-36.