Rômulo Almeida e o Brasil desenvolvimentista (1946-1964): ensaio de reinterpretação

Abstract

Este artigo empreende um esforço de reintrepretação sobre o desenvolvimentismo no Brasil. Procura repensá-lo a partir da tríade estruturante que lhe confere sentido: um consenso ideológico sobre as potencialidades nacionais, um estilo de reflexão sobre o país e uma aposta no planejamento democrático e descentralizado. A política econômica é encarada mais como ferramenta do que um fim em si mesmo. Para tanto, acompanhou-se a trajetória Rômulo Almeida, de modo a traçar o pano de fundo do Brasil desenvolvimentista entre 1946 e 1964. Um esforço de coleta de material inédito produzido pelo economista baiano ao longo dos anos 1970 permitiu mostrar como ele revê sua rica trajetória de servidor público e oferece uma crítica à política econômica da ditadura militar, partindo de um pensamento sistêmico e de uma dialética planejadora. Ao final, são tecidas algumas considerações acerca das possibilidades de emergência de uma nova perspectiva desenvolvimentista para o país no contexto atual.

Meritocracia de laços: gênese e reconfigurações do espaço dos economistas no Brasil

“…Mudou-se para o Acre em 1940 onde trabalhou no escritório de advocacia de San Thiago Dantas de 1941 a 1945 e (item 2.1) (ALMEIDA, 1988, pp. 1-4;BARBOSA e KOURY, 2012, pp. 1077-1081BARBOSA, 2014, pp.…”

“…Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Roberto Cochrane Simonsen, apresentou ao Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (CNPIC) (item 4.1). Logo tornou-se assessor pessoal de Roberto Simonsen e, por indicação dele, passou a ser o economista responsável pela organização do departamento econômico da Confederação Nacional da Indústria (CNI), função que exerceu de 1945 a 1950 41 (BARBOSA e KOURY, 2012, pp. 1077-1081BARBOSA, 2014, pp.…”

“…A Assessoria esteve envolvida na elaboração da política para o setor energético que deu origem à Petrobrás, ao Fundo de Eletrificação, à Eletrobrás e ao Plano Nacional do Carvão e participou do desenho da indústria automobilística, que ganharia força no governo Juscelino Kubitschek. Formulou também políticas agrárias e de crédito rural, criou o Banco do Nordeste, além de outras iniciativas, todas destinadas a acelerar o crescimento brasileiro e viabilizar a ascendente industrialização (BARBOSA e KOURY, 2012KOURY, , p. 1078D'ARAUJO, 1992, p. 152;GOUVÊA, 1994, p. 118;LEOPOLDI, 1992, pp. 87-88;MOTTA, 2005;SOLA, 1998, p. 99).…”

“…Soares Pereira inseriu-se na capital com ajuda de seus colegas positivistas e Ignácio Rangel foi trabalhar com seu primo Ewaldo Correa Lima e Rômulo de Almeida na CNI. Quando Rômulo foi convidado para montar a Assessoria, ele compôs sua equipe recrutando esses homens que tinham vínculos familiares e de amizade uns com os outros e trajetórias sociais e experiências de migração bastante semelhantes (BARBOSA e KOURY, 2012, pp. 1079-1080LOUREIRO, 1997a, p. 47).…”

“…110 O termo desenvolvimentistas foi cunhado pelos analistas, não sendo nativo do vocabulário dos economistas da geração de cinquenta. "Celso Furtado, Ignácio Rangel e até mesmo o Roberto Campos da primeira metade dos anos 1950 não se diziam desenvolvimentistas, mas sim, nacionalistas" (BARBOSA e KOURY, 2012KOURY, , p. 1076. 111 O termo cosmopolita, tal qual empregado por Lourdes Sola, refere-se a um grupo de especialistas em economia que mantinha laços fortes com os Estados Unidos, visível na rede do Primeiro Movimento (item 2.6).…”