Questões De Gênero No Mundo Rural E Na Extensão Rural Brasileira

Abstract

Os movimentos feministas têm avançado na busca pela garantia de direitos iguais aos do homem. As características biológicas de homens e mulheres são herdadas, enquanto as diferenças de gênero são construídas socialmente e por isso podem variar no tempo e no espaço e são sujeitas às mudanças. Assim, considerando o meio rural observa-se que o trabalho realizado pela mulher agricultora não é visto, e tão pouco reconhecido como um trabalho, sofrendo diferentes preconceitos e se estende para as atividades de extensão rural no Brasil. Nesse sentido, este estudo analisou algumas conexões entre o movimento feminista e a construção da categoria gênero, dando ênfase ao meio rural e a extensão rural brasileira. Dessa forma, esse estudo permitiu abordar que o feminismo está longe de ser um consenso na sociedade como um todo, inclusive na brasileira. Além disso, quando se discute as questões de gênero no meio rural e na extensão rural nota-se que essas relações estão ainda menos presentes nesse contexto. As perspectivas são de que sejam revistas as políticas públicas, mesmo existindo ainda um conflito entre as mulheres rurais e o mundo rural contemporâneo, necessitando de um avanço nas discussões da extensão rural e do desenvolvimento rural do país.

Jovens mulheres rurais estudantes das ciências agrárias: não querem ou não têm oportunidade de serem sucessoras?

“…As jovens mulheres rurais, que já são consideradas pela sociedade em geral como em formação e sob tutela, ainda enfrentam a cultura patriarcal da comunidade agrícola que condiciona as relações de gênero (Troian & Breitenbach, 2018). A diferenciação de gênero gera conflitos de interesses que desencadeiam distintas funções entre homens e mulheres dentro das propriedades rurais, à exemplo das tarefas de cuidados do lar e da família, executadas predominantemente pelas mulheres, somadas às atividades agropecuárias com menor potencial econômico (Villwock et al, 2016;Suess-Reyes & Fuetsch, 2016;Breitenbach & Corazza, 2021). As mulheres têm dupla jornada de trabalho e efetuam o trabalho doméstico, atividade não geradora de renda, tida como leve, bem como participam do trabalho agropecuário e, mesmo assim, são vistas como ajudantes dos maridos, pais e irmãos (Filipak, 2021;Carneiro, 2001).…”

“…Nesse contexto, emerge a problemática das relações desiguais entre gêneros no campo e a divisão sexual do trabalho (Silva, 2019). O trabalho da mulher rural é pouco reconhecido e elas enfrentam preconceitos, os quais se estendem às profissionais de extensão rural no Brasil (Villwock et al, 2016). Isto é consequência, dentre outros fatores, do caráter familiar patriarcal, e culmina na baixa consideração das jovens mulheres como possíveis sucessoras das propriedades rurais (Kessler, 2006).…”

Inserção e atuação profissional das engenheiras agrônomas: desafios e estratégias

“…Essas profissionais enfrentam maiores dificuldades para conquistar reconhecimento, em uma realidade marcada por preconceitos de agricultores, instituições e/ou colegas de trabalho, que na maioria das vezes as veem como profissionais inferiores, tendo seus trabalhos desvalorizados e diminuídos em importância (Villwock, Germani & Roncato, 2016).…”

Gestão De Propriedades Rurais Familiares: Dificuldades, Desafios E Sucessão

“…A administração rural se caracteriza pelas funções administrativas de todas as atividades que envolvem os recursos da propriedade rural (Queiroz, 2014). Como em qualquer tipo organizacional, a gestão de propriedades rurais envolve conhecimento técnico, controles de gestão, apuração de resultados econômicos e financeiros, políticas e práticas de gestão de pessoas, compreensão e reconhecimento da interligação das partes que compõem o sistema agropecuário (Silva, 2009) e da complexidade que envolve o meio rural (Schneider & Freitas, 2013;Villwock, Germani & Roncato, 2016).…”

“…Essas questões foram discutidas por Villwock, Germani e Roncato (2016) na perspectiva socialmente construída no que se refere às diferenças de gênero e a masculinização do espaço rural enraizada na história da sociedade brasileira(Andrade et al, 2009). Novas possibilidades de inserção das mulheres nas atividades agrícolas de forma homogênea são possíveis (Graziano daSilva, 1997;Villwock, Germani & Roncato, 2016).Nesse sentido, apoiando-se em diferentes autores(Deponti et al, 2018;Bianchi et al, 2019;Berk, Güney & Sangün, 2022), afirmamos que a eficiência técnica na produção de grãos depende da experiência no processo de plantio e colheita, do número de tratores/colheitadeiras e extensão de terra, mas a escolaridade dos participantes da decisão, a apropriação das tecnologias de gestão e as planilhas de custos qualificam a decisão. Na gestão da propriedade, a família Santos conta com o apoio da Cooperativa Agrícola Alfa, da qual são sócios fundadores.…”