A Psicologia do Trabalho e das Organizações é um campo de conhecimento e de atuação profissional que historicamente tem sido motivo de muitas polêmicas no Brasil, seja por razões ideológicas, seja por razões teórico-metodológicas. Apresenta, também, um crescimento com descontinuidades, tanto em termos da produção de conhecimento quanto em termos dos investimentos dos psicólogos na sua formação. Os relatos sobre história da Psicologia no Brasil (por exemplo, Bastos, 1990;Pessotti, 1988;Zanelli & Bastos, 2004) desde a primeira metade do século XX, passando pelo processo da regulamentação da profissão na década de 1960, incluem fatos, eventos e conteúdos que mencionam a Psicologia do Trabalho e das Organizações. Mas, houve momentos em que a produção na área e os investimentos na formação quase desapareceram. Nas décadas de 1970 e 1980, esse campo de conhecimento e de atuação profissional, aos olhos de muitos (por exemplo, Codo, 1984;Moura, 1988), representava compromissos com setores ideologicamente muito conservadores e/ou a aliança da Psicologia com a manutenção do status quo, como se houvesse homogeneidade de visões de mundo entre aqueles implicados com um campo do saber e de atuação profissional. Esse modo de ver, entre outras razões, afastou profissionais e pesquisadores. As publicações em tal período eram raras e, nos cursos de graduação em todo o país, usavam-se repetidamente uns poucos livros, que eram traduções de publicações de autores de outros países. Além da limitação de referências, o campo sofria produzindo poucos conhecimentos contextualizados para a realidade nacional e a comunidade de pesquisadores era restrita (Bastos, 2003 Tal florescimento não emerge abandonando a tendência à polêmica, característica própria do campo. Assim, esta ocorre em um contínuo processo de questionamento crítico de modo que, paradoxalmente ao visível florescimento, o ano de 2010 foi palco do desabrochar das dúvidas sobre a realidade e natureza do campo: é mesmo um campo do saber? Qual seu objeto principal? O que lhe torna uno? Que divergências persistem? A quem seus profissionais servem? Tais questionamentos básicos e profundos atravessam e ultrapassam a discussão epistemológica sobre o campo, adentrando pelas visões de mundo de cada pesquisador e de cada profissional. Tais questionamentos aqueceram, durante o ano, a organização de eventos e da natureza das atividades neles desenvolvidas, e o lançamento de livros. As respostas e posições teóricas e ideológicas sobre essas questões variam entre muitos segmentos de pesquisadores e profissionais. Esse editorial não tentará abarcar a diversidade dessas respostas, apenas quer situar o contexto em que esse dossiê foi preparado. O pequeno conjunto de artigos que reúne não é, obviamente, representativo da multiplicidade paradigmática e temática do campo. Mas, certamente, é um bom exemplo do processo de florescimento descrito alhures.Não houve, sem dúvida, tentativa dos autores em responder às citadas questões, mas o seu primeiro artigo, intitulado Paradigmas, eixos temáticos e ...