Psicanálise e Saúde Coletiva: aproximações e possibilidades de contribuições

Abstract

Resumo: Este artigo discute possibilidades de contribuições da Psicanálise lacaniana para alguns impasses e dilemas vivenciados no campo de prática e pesquisa da Saúde Coletiva. Parte-se do pressuposto de que as formulações psicanalíticas potencializam transformações nas práticas em saúde relacionadas à desconstrução do paradigma biomédico, possibilitando uma abordagem mais complexa do processo saúde-adoecimento. Para isso, apresentase aspectos históricos, epistemológicos, teóricos, metodológicos e políticos através da problematização dos conceitos de inconsciente, sintoma, diagnóstico, transferência, trabalho interdisciplinar, produção do conhecimento e laço social. A reflexão pretende destacar a necessidade de se estimular reflexões criativas para além da mera prescrição de condutas, de forma a se operar em uma ética que foge da imposição de normas e valores. Propõe-se, assim, um alargamento da compreensão dos fenômenos, a identificação de novas dinâmicas e racionalidades, assim como a construção de novas formas de intervenção. Palavras-chave: Psicanálise; Saúde Coletiva; integralidade; pesquisa interdisciplinar.

A interiorização das políticas em saúde mental: Um relato de experiência sobre a implantação da RAPS no interior do Pernambuco

“…Observamos que alguns arranjos estratégicos foram pensados pelas referências técnicas do estado, arranjos esses valorizados na Saúde Coletiva e que facilitam o contato entre profissionais de diferentes áreas: as reuniões dos Colegiados, o estímulo para o matriciamento e a Educação Permanente pelo Fóruns para esse encontro do entre vários interdisciplinares (Di Ciaccia, 2005;Val et al, 2017). Em nenhum dos serviços CAPS, durante esses 4 anos de experiência, citou a supervisão como um desses arranjos de suporte ao trabalho das equipesapenas um serviço CAPS teve esse momento com um professor da Universidade de Pernambuco (UPE), mas apenas uma vez.…”

“…Da prática ao jurídico, essas dimensões do modelo psicossocial envolveram uma práxis que ressalta o protagonismo daquele que sofre através de um olhar sob variadas teorias humanizadas (Amarante,1995;Campos et al, 2013). Dentro dessa lógica, fora do modelo hegemônico hospitalar, o encontro entre vários (Di Ciaccia, 2005) perpassa a ideia de interdisciplinariedade como estratégia em Saúde Coletiva, apesar de sua difícil efetivação (Val et al, 2017).…”

“…Foi nesse entre vários tenso que os princípios do SUS perseveraram. Como observamos nos primórdios da Reforma Psiquiátrica no Brasil pelo movimento dos trabalhadores de Saúde Mental Nesses tensionamentos necessários, foi possível produzir um discurso cooperativo entre diversos saberes e atores sociais, sem hegemonia ou reducionismos (Val et al, 2017). A importância desses discursos circularem entre vários atores vem da importância de não se produzir lugares suposto-poderobservável nas práticas centralizadoras de gestores que retém as tomadas de decisão -mas na busca de construir elementos que constituam o território possível ao outro.…”

“…A construção e implementação de uma rede não encerra uma única versão (ou do gestor ou dos trabalhadores), ou em uma única verdade, mas se mantém em um processo contínuo de construção que pode ser real para o sujeito que dela precise em certo momento de sua existência (Val et al, 2017). A dimensão ética na construção da rede persevera na escuta dos sujeitos para podermos avançarmos nas ações em saúde e nas transformações no território (Fernandes, 2013;Amaral et al, 2021).…”

A Clínica Psicanalítica das Urgências Subjetivas no Hospital Universitário: Construção de um Caso Clínico

“…As dificuldades para sustentar essa posição de alteridade podem advir quando, a partir de uma formação que objetiva oferecer resposta para todas as questões, os profissionais interpretam o impossível como impotência, fazendo com que se protejam dos afetos, resguardando-se no lugar de mestria que a técnica visa sustentar por meio do discurso biomédico (Val et al, 2017). Assim, uma das contribuições da psicanálise para o manejo clínico nas instituições de saúde é transmitir, a partir da lógica de cada caso, que a relação estabelecida com o usuário Não se refere exclusivamente ao campo intersubjetivo que envolve apenas os dois, mas sim a uma relação que reflete como o sujeito se localiza no campo da alteridade.…”