IntroduçãoNeste artigo, abordamos o acontecimento cidades e corpos medicalizados por uma rede bioeconômica, descrevendo e analisando suas zonas cinzentas, suas linhas constitutivas e a materialização da regulação da saúde, dos corpos e do espaço pelo biocapital. Enfatizamos o papel constitutivo do cálculo econômico de custo e benefício, na gestão pela medicalização enquanto racionalidade que se sustenta pelo biocapital e opera por ele, em uma economia política neoliberal. Estamos interessados, neste texto, em pensar as estratégias biopolíticas centradas na capitalização dos espaços e dos corpos, regulados enquanto empreendimentos neoliberais.Problematizamos a maneira como questões específicas da vida e da população foram postas no interior de tecnologias de governo que regem a conduta humana e performaram subjetivações cada vez mais precaucionárias, temerosas e caracterizadas pelo empresariamento de si e dos outros. Pensar a medicalização do espaço é relevante para as psicologias, em diferentes facetas, por exemplo, em termos dos efeitos, os quais forjam subjetividades medicalizadas e medicalizantes.Vertentes das Psicologias têm repensando as teorias e práticas subjetivas, considerando a subjetividade como uma figura histórica, social e política e propondo falar em "produção de subjetividade" como uma alternativa à problematização de identidades, que se esgota numa exaustão ao idêntico MARTINS, 2007).Como psicólogas, indagamos as naturalizações dos jogos de verdades que acionam processos de subjetivação característicos do mercado biomédico e médico-psicológico das populações e das cidades, em especial, pelo mercado e religião da saúde, hoje. Discutimos a capitalização da vida para problematizar as formas de subjetivações que emergem na comercialização dos corpos e na privatização das cidades, na atualidade.Mais especificamente, examinamos as estratégias biopolíticas, na contemporaneidade, as quais impulsionam uma capitalização da vida por segmentos empresariais, na esfera de sua gestão do espaço das cidades e dos corpos. Discorremos sobre os modos de subjetivação que emergem nesse cenário na imanência do cuidado em saúde, pautados na lógica do temor frente aos futuros riscos, de acordo com os cálculos liberais de segurança.
Cidades medicalizadas e empreendedoras: segurança e biocapitalA biopolítica, no século XXI, abre-se para dimensões nas quais as biotecnologias arregimentam novas formas de vida social e participação política (NOVAS, 2006;RABINOW, 1999). Política e ciência se cruzam com as biomedicinas, com o objetivo de proporcionar saúde e longevidade à população. Dessa maneira, a biopolítica atual está dirigida às exigências globais dos mercados internacionais, ao mesmo tempo em que está embutida nas políticas locais que regulam e reformatam os corpos e cidades, na direção de torná-los mais saudáveis e resistentes à depredação do tempo.Gómez (2004)