Partidos, campanhas e voto: como o eleitor decide nas municipais

Abstract

A eleição para prefeito na capital mineira em 2008 se deu em contexto complexo, marcado pela alternância dos candidatos nas pesquisas de intenção de voto e pela aliança informal controversa entre PT e PSDB. Este artigo tem o objetivo de apresentar o perfi l dos grupos de eleitores e avaliar os determinantes da escolha para prefeito de Belo Horizonte nas eleições de 2008. Usando um modelo de regressão logística multinomial, examinamos, sobretudo, a infl uência da identidade com os partidos políticos, a avaliação dos desempenhos dos mandatários e da economia e a exposição dos eleitores à campanha sobre a decisão do voto para prefeito. Os dados foram coletados a partir de surveys realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), no primeiro e segundo turnos da eleição.Palavras-chave: eleições; comportamento eleitoral; identidade partidária; voto. I. Comportamento eleitoral e decisão de votoN A CIÊNCIA POLÍTICA, uma das preocupações mais antigas e centrais é verifi car como o eleitor se comporta diante das urnas. Esse problema de pesquisa gerou diversas teorias que, com o passar do tempo, foram agrupadas nas chamadas escolas de comportamento eleitoral. Dentre as principais correntes, destacam-se e são apontadas recorrentemente pela literatura a sociologia eleitoral (ou sociologia política), a perspectiva psicológica (ou Escola de Michigan) e a escolha racional. Para cada uma dessas escolas e de suas respectivas teorias, uma gama 1 Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa Opinião pública: partidos políticos e comportamento eleitoral, fi nanciada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRPq) da UFMG. Os dados fazem parte do subprojeto "A decisão de voto em eleições municipais", realizado através de termo 93 Partidos, campanhas e voto: como o eleitor decide nas municipais Helcimara de Souza Telles (UFMG) Luiz Cláudio Lourenço (UFBA) Tiago Prata L. Storni (UFMG)

Proposta de construção e validação de escala para preferências ideológicas do eleitorado

“…O estudo sobre a corrente espacial do voto de Izumi (2019) e o trabalho sobre o contexto e voto de Fuks e Marques (2020) apontam para uma nova perspectiva de pesquisa sobre fatores que condicionam o comportamento do eleitor e contrariam a literatura existente que defende que a ideologia não é um componente estruturante para direção do voto do eleitor (Converse, 2006;Carreirão, 2007Carreirão, , 2008Telles et al 2009;Barros et al 2009;Telles & Storni, 2011;Oliveira & Tuergeon, 2015).…”

“…Na corrente psicossociológica, a decisão do voto está para além da estrutura que o indivíduo está inserido, o principal pressuposto dessa teoria é que, os eleitores tendem a expressar os seus votos a partir da identidade partidária que possuem, sendo que tal identidade pode ser herdada da família ou na socialização. Nessa corrente, a característica ideológica perde relevância e a identificação partidária ganha espaço (Popkin, 1991;Sniderman, Brody & Tetlock, 1991;Telles, Lourenço & Storni, 2009;Telles & Storni, 2011;Almeida, 2018).…”

“…Apesar dessas contribuições teóricas, a ideologia não pode ser raciocinada como um constructo observável fixo e determinístico, isso se prova devido ao fato de indivíduos que se autodeclaram de esquerda, mas são favoráveis com alguns temas que possuem características de pensamento de direita, tornando-se contraditórios em seus posicionamentos (Telles, Lourenço & Storni, 2009;Rothbard, 2016). Izumi (2019) contribui com essa perspectiva de contradição ideológica do indivíduo com a pressuposição que o processo de decisão do voto teria um comportamento espacial e variável de acordo com as atitudes ideológicas tomadas pelo indivíduo em relação a temas específicos, podendo essa atitude variar de acordo com o tema abordado.…”

“…Nesse conceito espacial proposto por Izumi (2019), o eleitor optará pelo candidato que possuir uma maior quantidade de temas ideológicos semelhantes aos seus, não se torna necessário que haja concordância entre o eleitor e o candidato em todos os temas, mas sim uma maior proximidade de preferências. Oliveira e Turgeon (2015) e Amendola (2016) Ademais, os instrumentos de coordenadas políticas frequentemente utilizados em estudos no Brasil, referem-se a contextos já desatualizados e costumam estarem relacionados em conjunto com eleições específicas (Telles et al 2009;Telles & Storni, 2011;Oliveira & Turgeon, 2015).…”

How Important is Twitter to Local Elections in Brazil? A Case Study of Fortaleza City Council

“…hile investigating the motivations that lead citizens to choose their candidates, different studies in political science and electoral behavior emphasize the importance of acknowledging multiple factors that can influence voting decision: the transitory economic and political conditions; the degree of knowledge that voters have about candidates; which political coalitions the candidates belong to; whether the candidates have the support of local, state and national authorities; the plurality of the journalistic coverage, with its frames and emphases; the contents that characterize electoral advertising; the performance of competitors in public debates; and the results of opinion polls (BAQUERO, 1997;BORBA, 2005;CARREIRÃO, 2000;CASTRO, 1997;CHAIA et al, 2002;FIGUEIREDO, 1991;POPKIN, 1994;PRZEWORSKI et al, 2003;TELLES et al, 2009).…”