Este artigo expõe uma reflexão em torno da centralidade do sujeito para uma abordagem antropológica do contemporâneo 1 .Para além do sujeito social como objeto da pesquisa antropológica, a discussão feita aqui sugere que este seja tomado também em sua dimensão conceitual e analítica, como categoria analítica e como paradigma central e estratégico para uma abordagem antropológica do contemporâneo 2 . A discussão sobre conceitos em geral é uma atividade mais apropriada à filosofia do que à antropologia, cujas transformações conceituais, teóricas e metodológicas estão sob o crivo de sua permanente desconstrução pelo campo. Minha proposta aqui é de buscar efetuar o trabalho que propõe Foucault para a filosofia, um trabalho de transformação, ou seja de mediação entre aquilo que se convencionou como tradição teórica da disciplina e os novos ares trazidos tanto pela fricção teórica dentro e fora desta, quanto pelo desafio colocado pelas novas configurações sociais e políticas do contemporâneo -ou por novos modos de encarar essas configurações. As reflexões que exponho são provocadas por essa permeabilidade da antropologia e da teoria e dos conceitos antropológicos ao mundo.Meu argumento em favor de uma antropologia do sujeito se desenrola a partir de: 1º) mobilizar criticamente os paradigmas clássicos da antropologia (fazendo um pouco o esforço de uma leitura a contrapelo dos autores clássicos, com ênfase na produção francesa; 2º) colocar em diálogo as diversas subáreas de nossa disciplina (o que nos obriga a repensar o chamado grande divisor, que no caso da antropologia brasileira incide centralmente, mas não só, na relação entre antropologia das chamadas sociedades complexas e etnologia indígena; 3º)estabelecer conexões com as contribuições de outros campos do conhecimento que têm pensado, de forma mais central, o sujeito, assumindo sua impureza epistemológica (aqui a dificuldade é um pouco maior, pois implica em romper a relativa imunização da antropologia em relação a possíveis contaminações de outros campos do conhecimento que 132 Sonia Maluf ARTIGOS poderiam ameaçar a nossa communitas; e 4º) pensar tópicos para uma antropologia do sujeito e suas implicações metodológicas.Mas antes, um parênteses: o título do artigo traz ao mesmo tempo uma negação e uma afirmação. O enunciado "por uma antropologia" sinaliza que não existe uma antropologia do sujeito; e a locução "do sujeito" sinaliza que este teria uma existência. O desenrolar do meu argumento vai, senão inverter os sinais, atenuar um tanto o que pode ser lido como uma assertiva. Inicialmente porque, como eu vou discutir adiante, o sujeito está presente, mesmo que na maior parte das vezes de forma espectral, em diversos estudos antropológicos contemporâneos.Autoras como Sherry Ortner (1996) e Henrietta Moore (1999), em perspectivas diferentes, têm chamado a atenção para a falta de uma elaboração antropológica sobre o sujeito e para a inexistência de uma teoria do sujeito na antropologia. Sherry Ortner articula a discussão sobre sujeito com o tema da agência 3 (que ...