Artigo
IntroduçãoO Sistema Único de Saúde (SUS), oriundo das lutas democráticas e populares inseridas no projeto da Reforma Sanitária Brasileira, configura-se em uma rede de ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, garantida através do acesso universal e equâni-me de suas ações. No entanto, a realidade atual interpõe ao SUS questões múltiplas referentes ao subfinanciamento da saúde, desarticulação dos espaços de gestão, clientelismo e fisiologismo, prejudicando a tessitura do modelo de atenção integral (PAIM, 2009).No âmbito da Saúde Mental, campo da reabilitação psicossocial dos usuários dos serviços substitutivos, nota-se que os discursos cotidianos dos profissionais de saúde costumam circular na incompreensão do SUS como seguridade, desvalorização profissional, rotatividade e terceirização no serviço público, inadequação do perfil e compromisso com o serviço público, desarticulação entre a Atenção Primária à Saúde e os serviços substitutivos, fragilização do controle social 1 e inaptidão das instâncias micropolíticas e macrossociais em reorientar a formação acadêmica e pós-graduada segundo as necessidades contemporâneas, conforme as mutações técnico-científicas de nossa época.Este trabalho convoca à saída dos nossos territórios discursivos, habitats de territórios semióticos, acrescentando outras possíveis vegetações: pode o saber filosófico contribuir para as discussões imanentes, possibilitando a produção de caminhos que proponham a resolução de questões em saúde? Quais são os efeitos resultantes da tranversalização de disciplinas habitualmente tidas como estrangeiras entre si? A construção desse diálogo pressupõe o abandono do modelo explicativo de causalidade linear, estabelecendo linhas de fuga dos paradigmas hegemônicos.Não se trata de articular filosofia com a saúde, contabilizando semelhanças e diferenças segundo uma perspectiva arborescente, mas estabelecer possibilidades de práxis em saúde a partir de pontos de tangenciamento e ruptura, ofertados pelos diferentes modos de semiotização, de forma a ressaltar a dimensão de construção conceitual. Nesse sentido, acreditamos que este trabalho esboça dispositivos capazes de multiplicar os olhares sobre a saúde. Para tanto, torna-se relevante suscitar a discussão das questões atuais concernentes ao atravessamento das disciplinas, fabricando horizontes conceituais a partir dos entrelaçamentos ético e estético de Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault.
Implicações e imbricações da construção de conceitos em saúdeObserva-se que a atividade da filosofia não é refletir, uma vez não ser necessário ser filósofo para refletir sobre algum tema. Também não é comunicação, porque não objetiva criar consensos ou contemplação, restrição de quem vê objetos preexistentes. A atividade filosófica se faz com a criação dos conceitos. Portanto, o filósofo é aquele que detém o conceito em potência. Considerando-se 142/1990142/ (BRASIL, 1990b, que versa sobre a participação popular na gestão do SUS através dos conselhos e das conferências de s...