"Não sabia que os hormônios afetavam tanto a vida da gente.""Pensei 'tem que ter uma solução no mundo de hoje, uma coisa mais estável' e fui pesquisando... Não sabia que os hormônios afetavam tanto a vida da gente, hoje estou sempre lendo coisas novas, sabendo que sem eles a gente não vive.Sem os hormônios na vida da gente a vida é uma merda, os hormônios te salvam de tudo, tem que manter teu nível hormonal bem para ficar bem.Não pretendo parar, a não ser que daqui a uns cinco ou dez anos o médico diga: você tem um câncer, vamos ter que tirar isso daí! Eu ainda vou pensar se com hormônio eu posso ter mais qualidade de vida que morrer de câncer. Se eu tiver que optar, vai depender da idade. Eu vou preferir tomar hormônios do que fazer uma quimioterapia e estar fodida. Se eu tiver que optar, eu optaria por isso." Esta epígrafe faz parte da narrativa de uma usuária de implante hormonal que funcionará como ponto de partida deste artigo. O trecho foi escolhido porque sintetiza de forma singular processos como a busca ativa por recursos e a confiança nas soluções biomédicas, a preeminência de uma lógica hormonal no governo dos corpos e da própria vida, a administração pessoalizada dos riscos à saúde e a escolha por assumi-los diante da preferência pela manutenção da "qualidade de vida". Pretendo argumentar que este tipo de atitude pode ser entendido no quadro da produção de formas particulares de subjetividade e transformações corporais que ocorrem a partir do uso de recursos biomédicos. A questão central diz respeito a como as pessoas têm efetivamente lidado com essas possibilidades, assumindo novas maneiras de refletir, procurar e incorporar os tratamentos disponíveis. Este cenário certamente apresenta uma série de diferentes caminhos para investigação. Proponho tratar aqui de um caso específico e a partir dele sugerir interpretações que talvez