... até porque no Brasil não se é negro impunemente...
Agnaldo Farias, Catálogo de Exposição de Emanoel AraújoAll of our rational denials only deepen the suppurating puncture wound of a racialized history, past and present. O trabalho de Gloria Anzaldúa, escrito e publicado nos Estados Unidos, propõe uma nova consciência, uma consciência mestiça, das fronteiras, uma consciência de mulher. É uma proposição de uma chicana que, como ela afirma, diferentemente das teorias de uma raça branca pura, busca a inclusão. Seu trabalho representa a conclusão de uma complexa narrativa da experiência de "atravessar fronteiras", 2 em que ela conta a história das lutas da população chicana pela terra, das guerras entre mexicanos e anglos, das cercas que passaram a dividir o povo mexicano, da expropriação de suas pequenas propriedades e também de sua revolta contra a dominação que sofreu em sua própria cultura heterossexista. Diz ela:Para uma mulher em minha cultura havia apenas três direções a seguir: a igreja, como freira, a rua, como prostituta, ou a casa, como mãe. Hoje algumas de nós têm uma quarta escolha: entrar no mundo através da educação e da carreira e nos tornarmos pessoas autônomas. Muito poucas entre nós. Como um povo da classe operária nossa atividade principal é colocar comida em nossas bocas, um teto sobre nossas cabeças e roupas em nossas costas. Educar nossos filhos e filhas está fora de alcance para a maioria de nós. 3 E continua: "Não vou glorificar os aspectos de minha cultura que me prejudicaram e que me prejudicaram em nome de minha proteção". E é a partir dessa recusa que Anzaldúa se propõe a criar o próprio espaço e "fazer uma nova cultura -una cultura mestiza -com minhas próprias tábuas, meus próprios tijolos e argamassa e minha própria arquitetura feminista". 4 Neste ensaio, inspiro-me no trabalho de Anzaldúa para pensar a mestiçagem no Brasil, embora estejamos nos referindo a processos diferentes, a começar pelas raças que compõem a mistura além da branca e da indígena que são comuns a ambas -a população chicana no trabalho de Anzaldúa e a população negra em meu trabalho. Como a própria Anzaldúa afirma, a negritude raramente é considerada quando uma pessoa chicana está se definindo.Quando não desistimos, quando sabemos que somos alguém, nos chamamos mexicanos, nos referindo à raça e ancestralidade; mestizo quando afirmamos nossas duplas ancestralidades índia e espanhola (porém nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra); chicana quando nos referimos ao povo politicamente consciente nascido e/ou criado nos U.S.A.; Raza quando nos referimos aos chicanos/ as; tejanos quando somos chicanos/as do Texas (a ênfase em negrito é minha). 5 2 Título da primeira parte do livro, composta por sete capítulos.3 ANZALDÚA, 1987, p. 17. 4 ANZALDÚA, 19...