O ensaio busca entender a 'encrenca' que implica teorizar sobre gênero pela complexidade desse conceito, que necessariamente remete ao encontro com a diferença e à necessidade de posicionamento nesse encontro, e, diante disso, à tendência da academia e da psicologia a domesticar e disciplinar o conceito. A narrativa literária é proposta como uma possível 'terapia' para essa situação.
A idéia central do ensaio é que é necessário incluir a dimensão política na formação em Psicologia, na qual predomina um enfoque individualista, que mantém o sistema de desigualdade, impedindo o desenvolvimento da pluralidade e o ideal de bem comum. Questões de raça e etnia e outras diferenças devem ser tratadas juntamente com a questão do racismo. A autora fundamenta seu argumento a partir de sua experiência como professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, onde adota o grupo operativo como metodologia de ensino, considerando as relações de poder que se estabelecem no grupo.
The central idea of this essay is that it is necessary to include the political dimension in the study of Psychology, since the individualism that characterizes this discipline helps to maintain inequality and functions as an obstacle to plurality and the ideal of common good. Questions of race and ethnicity must be dealt with the question of racism. The author bases her argument in her own experience as a professor of Social Psychology in a public university, where she adopts Pichon-Rivière's technique of Operative Group as a teaching methodology, considering the power relations in the group
Em homenagem a Camille Claudel, que fez a escultura Les Bavardes, que traduzimos como As Faladeiras.O ensaio que se segue narra uma experiência de análise vivida há mais de 15 anos. Foi achado por mero acaso, quando me mudei para meu próprio apartamento, e estava arrumando coisas do baú. Tinha me esquecido que um dia o havia escrito e senti um enorme alívio e uma grande alegria ao lê-lo. Decidi publicá-lo porque o vejo como um testemunho de que é possível sair de uma situação de violência de gênero, isto é, a violência que quase todas as mulheres e outras pessoas excluídas sofrem em algum momento de sua vida pelo simples fato de serem mulheres ou por se acharem numa situação de exclusão. Conforme escreve Hannah Arendt, a violência, distinguindo-se do poder, é muda; a violência tem início onde termina a fala. Quando usadas com o propósito de lutar, as palavras perdem sua qualidade de fala; transformam-se em clichês.
... até porque no Brasil não se é negro impunemente... Agnaldo Farias, Catálogo de Exposição de Emanoel AraújoAll of our rational denials only deepen the suppurating puncture wound of a racialized history, past and present. O trabalho de Gloria Anzaldúa, escrito e publicado nos Estados Unidos, propõe uma nova consciência, uma consciência mestiça, das fronteiras, uma consciência de mulher. É uma proposição de uma chicana que, como ela afirma, diferentemente das teorias de uma raça branca pura, busca a inclusão. Seu trabalho representa a conclusão de uma complexa narrativa da experiência de "atravessar fronteiras", 2 em que ela conta a história das lutas da população chicana pela terra, das guerras entre mexicanos e anglos, das cercas que passaram a dividir o povo mexicano, da expropriação de suas pequenas propriedades e também de sua revolta contra a dominação que sofreu em sua própria cultura heterossexista. Diz ela:Para uma mulher em minha cultura havia apenas três direções a seguir: a igreja, como freira, a rua, como prostituta, ou a casa, como mãe. Hoje algumas de nós têm uma quarta escolha: entrar no mundo através da educação e da carreira e nos tornarmos pessoas autônomas. Muito poucas entre nós. Como um povo da classe operária nossa atividade principal é colocar comida em nossas bocas, um teto sobre nossas cabeças e roupas em nossas costas. Educar nossos filhos e filhas está fora de alcance para a maioria de nós. 3 E continua: "Não vou glorificar os aspectos de minha cultura que me prejudicaram e que me prejudicaram em nome de minha proteção". E é a partir dessa recusa que Anzaldúa se propõe a criar o próprio espaço e "fazer uma nova cultura -una cultura mestiza -com minhas próprias tábuas, meus próprios tijolos e argamassa e minha própria arquitetura feminista". 4 Neste ensaio, inspiro-me no trabalho de Anzaldúa para pensar a mestiçagem no Brasil, embora estejamos nos referindo a processos diferentes, a começar pelas raças que compõem a mistura além da branca e da indígena que são comuns a ambas -a população chicana no trabalho de Anzaldúa e a população negra em meu trabalho. Como a própria Anzaldúa afirma, a negritude raramente é considerada quando uma pessoa chicana está se definindo.Quando não desistimos, quando sabemos que somos alguém, nos chamamos mexicanos, nos referindo à raça e ancestralidade; mestizo quando afirmamos nossas duplas ancestralidades índia e espanhola (porém nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa nós quase nunca nos apropriamos de nossa ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra ancestralidade negra); chicana quando nos referimos ao povo politicamente consciente nascido e/ou criado nos U.S.A.; Raza quando nos referimos aos chicanos/ as; tejanos quando somos chicanos/as do Texas (a ênfase em negrito é minha). 5 2 Título da primeira parte do livro, composta por sete capítulos.3 ANZALDÚA, 1987, p. 17. 4 ANZALDÚA, 19...
Sabe, eu tenho uma raiva desse tal de sino... Quer dizer, isso-você nunca foi empregada domésticasão coisas que machucam a gente. Ler o livro de Suely Kofes, Mulher/Mulheres: identidade, diferença e desigualdade na relação entre patroas e empregadas, resultado de sua tese de doutorado em Antropologia Social na UNICAMP, foi realmente uma viagem em vários sentidos da palavra. Antes de mais nada, uma viagem no tempo e espaço. Voltei aos Estados Unidos, entre 1981 e 1986, época em que escrevi minha própria tese, que significou um permanente encontro com a diferença. Este encontro havia começado no Rio em 1978, na pesquisa onde havíamos entrevistado várias mulheres, inclusive empregadas domésticas, que descrevemos como constituindo "um dos segmentos ocupacionais mais expressivos na alocação da mão-de-obra feminina urbana". Embora certamente percebêssemos a questão da diferença que essas mulheres colocavam para nós, nossa preocupação era "inferir as regularidades do discurso feminino", como concluímos * KOFES, Suely. Mulher, mulheres: identidade, diferença e desigualdade na relação entre patroas e empregadas domésticas. Campinas-SP, Editora da Unicamp, 2001, 470p. Recebida para publicação em agosto de 2002.
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