Escola: Um espaço de revelação da violência doméstica contra crianças e adolescentes

Abstract

A violência doméstica contra crianças e adolescentes (VDCA) acompanha a trajetória humana desde os mais antigos registros, e tornou-se parte do cotidiano das famílias. Atualmente, é considerada um grave problema de saúde pública, haja vista a forma disseminada e intensificada com que tem se caracterizado. Com o objetivo de identificar, junto ao corpo docente, as percepções relacionadas à VDCA no âmbito escolar, realizou-se um estudo exploratório descritivo, de natureza qualitativa. Foram entrevistados docentes e orientadores pedagógicos de duas escolas públicas municipais de Itajaí (SC), que atendem alunos do ensino fundamental. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas no período de outubro de 2007 a fevereiro de 2008, totalizando 14 professores e cinco orientadores pedagógicos entrevistados. A análise das falas dos entrevistados trouxe à tona o tema “a escola como ambiente favorável à proteção dos direitos da criança e do adolescente e de revelação da situação de violência doméstica”, além das cinco categorias a seguir: (1) os professores conhecem o fenômeno da violência; (2) os professores detectam no cotidiano escolar que as crianças sofrem violência; (3) a violência gera sentimentos ambíguos nos professores; (4) a VDCA é um fenômeno que poderia ser mais bem enfrentado na escola; e (5) da suspeita de VDCA à notificação: um processo pouco participativo. Os resultados oferecem subsídios para que o espaço escolar seja examinado com mais atenção e novas estratégias sejam criadas e implantadas, tornando-o mais participativo, democrático e com o comprometimento de todos os envolvidos.

Metodologias ativas na abordagem da violência contra crianças e adolescentes escolares

“…Envolvendo todas tipologias das agressões que ocorrem dentro e fora do ambiente escolar, é este outro aspecto que dificulta a identificação e tensionamento da rede de proteção das vítimas. Ainda assim, alguns professores afirmam que, se o corpo docente se empenhasse mais, a identificação e manejo dos casos poderiam ser melhorados, o que demonstra a vontade e a disponibilidade dos docentes para qualificações sobre o tema (ELSEN et al, 2011).…”

Forças que interferem no enfrentamento da violência infantil pela escola

“…A literatura indica como estratégias capazes de promover a prevenção da violência contra a criança: implementar atividades educativas que abordem a temática (Bright, et al, 2020;Segura & González, 2020); assumir o papel na rede, especialmente considerando a relevância da escola como cenário para a identificação e notificação da violência, haja vista que, depois da família, ela torna-se o segundo espaço social em que a criança permanece maior parte de seu tempo (Ferreira, Côrtes & Gontijo, 2019;Elsen, et al, 2011); integrar-se à rede, tornando explícitas as relações com os órgãos de defesa das crianças (Elsen, et al, 2011); promover ambientes em que as crianças possam se expressar (World Health Organization, 2019; Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2019); e envolver os pais e comunidade em atividades de prevenção da violência; treinamento para conhecerem os tipos mais comuns de violência, como identificar, fatores de risco e estratégias para seu enfrentamento, incluindo denúncia e acompanhamento dos casos junto a outras unidades de proteção (World Health Organization, 2019).…”

Influência do contexto familiar na vida escolar de alunos adolescentes do ensino fundamental / Influence of the family context on the school life of elementary teenager students

“…A sensação de estarem protegidos dentro do ambiente escolar surge em decorrência do favorecimento das relações de afeto e confiança entre os adolescentes e seus pares e entre eles e os professores. E é a partir desse contato respeitoso que o jovem se sente confiante para expor situações conflitantes que ocorrem no ambiente familiar (ELSEN et al, 2011). É possível perceber, portanto, que os sujeitos podem sofrer com situações de violência física e psicológica, mas que pelo sentido conferido por eles que levam em consideração apenas circunstâncias extremas de agressões se torna mais difícil identificar tais cenários e quebrar os ciclos de violência que vivem os adolescentes.…”