Epistemologia de Certeau e sua Contribuição para os Estudos Baseados em Prática em Organizações

Abstract

O enfoque deste ensaio teórico é apresentar contribuições para possibilidades de pesquisa, sob a perspectiva epistemológica apresentada na obra A Invenção do Cotidiano, de Michel de Certeau, para os estudos organizacionais, especialmente para os estudos baseados em prática. A compreensão de fundamentos ontoepistemológicos associados à leitura retrospectiva dessa obra permitiu estabelecer uma agenda de pesquisa para os estudos baseados em práticas na perspectiva certeauniana. Escolheu-se essa obra porque nela o filósofo destina o seu olhar para as práticas cotidianas, o que o coloca entre os teóricos da “virada da prática”. Nela, as ocorrências diárias revelam como a sociedade recebe e consome aquilo que lhe é dado. A contribuição de Certeau para a compreensão do processo de mudança organizacional, em especial nos campos de aprendizagem organizacional e cultura, revelam a importância das micro-ocorrências do cotidiano e como sua perspectiva atribui agência a atores organizacionais a quem a literatura tradicional só atribui papel de reprodução. Ao identificar algumas contribuições e possibilidades da perspectiva do filósofo francês no campo dos estudos organizacionais, este ensaio propõe suas aplicações em estudos de mudança organizacional e organizações não tradicionais, além de conceitos sensibilizadores para a compreensão da lógica da prática social.

O feeling do rock: A Formação do Gosto nas Relações Organizadas de Vínculo entre músicos amadores e rock music

“…Essa dinâmica é permeada pelas práticas de relatos, que conectam as práticas espaciais por meio das narrativas, que possibilitam ao indivíduo ordinário tanto compreender o organizar das estratégias que operam no cotidiano, como também acessar as inúmeras formas de subvertê-las anteriormente articuladas por meio das táticas Arthur Lopes Azevedo, Letícia Dias Fantinel (Certeau, 1998;Machado et al, 2020). Além de acessar tal conjunto de práticas, os relatos são também práticas em si, uma vez que as próprias narrativas são capazes de denotar movimento, promovendo a transição entre lugares e espaços e vice-versa (Certeau, 1998).…”

“…É nesta bricolagem de práticas como as estratégias, táticas e relatos que se produz constantemente o cotidiano, algo que reforça o caráter ontoepistemológico processual das práticas para Michel de Certeau, entendo que este é um movimento constante de organizar (Machado et al, 2020). Durante a chamada virada da prática, movimento teórico que ocorreu nos estudos sociais (Reckwitz, 2002) e do qual Michel de Certeau foi parte (Feldman & Orlikowski, 2011), observa-se o desenvolvimento deste entendimento epistemológico das práticas, em que os processos de organizar e conhecer são constantes, um eterno movimento de vir a ser que ocorre na vida social, cuja menor unidade de análise é justamente a prática, que se organiza em arranjos e nos permite acessar e compreender as dinâmicas organizativas do cotidiano (Gheradhi, 2021;Nicolini & Monteiro, 2016;Schatzki, 2012Schatzki, , 2018.…”

“…Nossa proposta, assim, é discutir tal fenômeno como produzido por meio de práticas cotidianas, movimento que demandou a articulação de mais um eixo teórico, de forma que mobilizamos também o pensamento de Michel de Certeau. Articulamos, portanto, o quadro teórico sobre gosto à discussão sobre práticas e cotidiano para aprofundar o entendimento das práticas como uma dimensão analítica que é relacional em sua essência e que está atrelada ao que Certeau (1998) chama de enunciado das práticas, que representam o caráter situado e contextual destas, evidenciando seu caráter ontoepistemológico processual (Machado et al, 2020). Michel de Certeau é um dos autores mais relevantes na chamada virada da prática (Feldman & Orlikowski, 2011) e, apesar de já figurar entre referências nos Estudos Organizacionais há algum tempo, apresenta ainda potencial para contribuições na área, especialmente no que tange às suas discussões ontoepistemológicas acerca das práticas e o cotidiano (Machado et al, 2020).…”

“…Articulamos, portanto, o quadro teórico sobre gosto à discussão sobre práticas e cotidiano para aprofundar o entendimento das práticas como uma dimensão analítica que é relacional em sua essência e que está atrelada ao que Certeau (1998) chama de enunciado das práticas, que representam o caráter situado e contextual destas, evidenciando seu caráter ontoepistemológico processual (Machado et al, 2020). Michel de Certeau é um dos autores mais relevantes na chamada virada da prática (Feldman & Orlikowski, 2011) e, apesar de já figurar entre referências nos Estudos Organizacionais há algum tempo, apresenta ainda potencial para contribuições na área, especialmente no que tange às suas discussões ontoepistemológicas acerca das práticas e o cotidiano (Machado et al, 2020). Seu uso em pesquisas e debates teóricos nos Estudos Organizacionais brasileiros tem crescido nos últimos anos, evidenciando sua importância para a discussão das práticas e do organizar, (Machado et al, 2017) sendo este também um dos motivos pelos quais optamos por usá-lo neste texto.…”

La investigación histórica en estudios organizacionales: Itinerarios metodológicos a la luz de Michel de Certeau

“…The proposition of Certeau's approach in OS is already a recognized practice in the academic community (Barros & Carrieri, 2015). However, when carrying out different searches in the databases of national and international articles included in the "Journal Citation Reports" (JCR), such as SPELL (Scientific Periodicals Electronic Library) and Web of Science, it became clear that the majority of studies are of a theoretical and conceptual (Conley, 2001;Ward, 2001;Abdallah & Langley, 2014;Dey & Teasdale, 2015;Barros & Carrieri, 2015;Ipiranga & Lopes, 2017;Thanem, 2011;Humle & Perdersen, 2015;Machado, Chropacz & Bulgacov, 2020;Faria & Silva, 2017;Machado, Fernandes & Silva, 2017;Bernardo, Shimada & Ichikawa, 2015;Guarnieri & Vieira, 2020).…”