Entre espelhos: a formação em saúde e sua produção de violência

Abstract

O objetivo da pesquisa é compreender a ocorrência de violência durante a formação em saúde, quanto à suas origens, grupos vulneráveis e mecanismos pelos quais podem ocorrem tais violências. O estudo dividiu-se em uma etapa de levantamento da literatura sobre a ocorrência de violência na formação em saúde e outra de pesquisa qualitativa, na qual analisou-se um curso da área da saúde - odontologia. Foram feitas entrevistas e grupo focal com estudantes e professores, analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo. Os resultados desvelam diversos tipos de violências, caracterizadas como violências interpessoais comunitárias, violência cultural e violência institucional. Conclui-se que tais violências fazem parte da formação em saúde e compõem a construção da identidade destes futuros profissionais de saúde. Tais violências são banalizadas ou naturalizadas, portanto pouco conscientes e de visibilidade não-imediatas. O método empregado foi sensível para captar tais fenômenos e os achados podem colaborar como subsídio para que arranjos institucionais pedagógicos, políticos e curriculares possam atuar sobre isto.

A violência no ambiente universitário

“…Sobre esses achados, pesquisa com universitários, docentes e gestão do curso de Odontologia, no Rio de Janeiro, Brasil, de uma instituição pública detectou a existência de violência física entre aluno e professor, situações desrespeitosas no trote, atitudes machistas contra as mulheres e de opressão dirigidas a homossexuais (12). Tais condições também foram verificadas em diversos outros estudos em diferentes cidades do Brasil e do mundo (13)(14)(15) .…”

Violência interpessoal no ambiente acadêmico: percepções de uma comunidade universitária

“…(P1, estudante mulher) O trote envolve violências psicológicas, físicas e sexuais 17 . Na literatura sobre VIP em cursos da área da Saúde, os trotes foram classificados como abuso físico (socos, tapas, empurrões) 32 . Buscando compreender a concepção de violência e sua vivência entre estudantes da área da Saúde, o estudo aponta que a violência física foi a mais percebida por 56,6% dos participantes (agressão física, lesão corporal, contato físico) 33 .…”

Self-reported violence by nursing students in the context of undergraduate studies

“…As far as higher education is concerned, health courses have high numbers of students who experienced violence during graduation, which may occur because graduations in this area require the development of complex skills and competencies, which occurs in relationship movements with the other, especially with patients and relatives (8)(9)(10) . Specifically, regarding nursing, there are still gender issues, devaluation, low social status and challenging working conditions of the profession, aspects that encourage too much competitiveness among students (11)(12) .…”