InjustIça, conflIto e vIolêncIa: um estudo de caso em escola públIca de RecIfe
A NATUrALIzAÇãO dAS INJUSTIÇAS NAS ESCOLAS E SUA rELAÇãO COm CONFLITOS E VIOLÊNCIAS ALI VIVIdASInicialmente é importante distinguir a justiça formal, que trata da distribuição de benefícios e ônus na sociedade de acordo com regras socialmente aceitas, supostamente orientadas para a equidade e precisão em sua aplicação (igualdade formal), da justiça substantiva, que se refere a critérios distributivos (direitos, merecimento, necessidade ou escolha), que se materializam como concepções rivais de justiça e podem justificar desigualdades entre diferentes grupos (OUTHWAITE;BOTTOMORE, 1996). A distinção permite esclarecer a escolha, para fins deste artigo, de um debate a respeito dos critérios distributivos que se manifestam sob diversas concepções de justiça presentes enquanto experiências vividas no âmbito escolar. A opção faz sentido diante de um contexto macropolíti-co de racionalidade e justificação neoliberal, em que a justiça é entendida como um valor social prioritário, que supera as demais considerações normativas (RAWLS, 1992). Essa lógica, no entanto, é dissonante da realidade experimentada no cotidiano de alunos e professores das escolas, as quais se defrontam com o desafio de materializar práticas sociais democráticas em seu interior, mas são reiteradamente alvo de todo tipo de desigualdade e injustiça social.Nancy Fraser (2014) compreende que a superação da injustiça institucionalizada permite a efetivação de uma realidade baseada nas virtudes sociais e individuais. A autora nos faz ver que a justiça é compreendida por meio de sua negação: o que experimentamos, na realidade, é uma sociedade injusta, a partir da qual ponderamos sobre o que pode vir a ser uma sociedade justa. As pessoas teriam, assim, seu referencial moral e normativo pautado em sua experiência real. As concepções de justiça, nesses termos, são relacionadas às injustiças vividas. Assim, "a injustiça é uma questão de vitimização objetiva", uma relação entre diferentes que diz respeito ao não reconhecimento do outro, implicando que "os meios de interpretação e comunicação da sociedade não servem todos os membros sociais de modo equânime" (FRASER, 2014, p. 270 A educação e a escola podem oportunizar outras experiências de relações sociais no quesito raça, tendo em vista que é no espaço escolar que se constroem novos valores e referências. Conforme Derouet (2002, p. 14), a justiça atribui valor ao saber por conta da "quantidade e complexidade das competências necessárias para ser um membro normal da sociedade", o que é importante para que a escola volte a "promover o incremento do conhecimento, a possibilidade, para as pessoas de desenvolverem suas competências e darem sentido à sua vida pelo saber".Nessa direção, é relevante elucidar concepções de justiça presentes no ambiente escolar. Parte-se do pressuposto de que a justiça se estabelece na relação entre as pessoas em sociedade tanto no âmbito do direito (justiça formal), que se refere aos critérios de igualdad...