Desigualdade de Gênero e Escuta Psi de Mulheres Atendidas na Atenção Básica

Abstract

Resumo Este estudo tem como objetivo investigar o que psicólogos na atenção básica de Porto Alegre identificam como necessidades em saúde mental das mulheres atendidas, buscando verificar se sua escuta profissional permite estabelecer nexos entre o sofrimento psíquico e a desigualdade de gênero vivenciada pelas usuárias. Em 2017, foi realizado grupo focal com nove psicólogas que atuam em unidades de Saúde da Família, em que foi construída coletivamente uma narrativa segundo o método de Grupo Focal Narrativo. Constituem a narrativa final oito núcleos argumentais: “Sofrimento mascarado”; “Os homens também sofrem com isso”; “Várias gerações de mulheres cuidadoras”; “Aquele desejo de constituir uma família a qualquer custo”; “Por que o homem acha que pode usar uma mulher como se fosse um objeto?”; “Maternidade compulsória”; “Novas formas de exercício da sexualidade”; e “O hospital tomou como uma afronta o empoderamento da mulher”. Considera-se que o estudo proporcionou às participantes um espaço de reflexão coletiva sobre si mesmas e suas práticas.

Saúde da população em tempos complexos: olhares diversos

“…A separação de papéis pautada nas características estereotipadas de feminino e masculino aparecem nos artigos estudados como produtoras de sofrimento. Segundo Franco et al, (2021), muitos atendimentos com psicólogos na Atenção Primária revelam uma dor mascarada em usuários e usuárias cisgênero em decorrência do não atendimento às expectativas da sociedade para o que deve ser "de mulher" e "de homem". Esse fato, atrelado à não sensibilização profissional a respeito dos atravessamentos de gênero, contribui para um atendimento mais superficial e, segundo Cobo, Cruz e Dick (2021), interferem diretamente na equidade do atendimento à saúde.…”

Conhecimento De Leigos Sobre Ressuscitação Cardiopulmonar

“…O planejamento de ações em saúde da mulher, geralmente, é dividido da seguinte forma: grupo para casais grávidos, grupos para a melhor idade, reuniões sobre planejamento familiar, oferta de métodos contraceptivos e realização do Papanicolau e exame físico das mamas (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, 2014). Logo, são construídos parâmetros, pautados na desigualdade, que definem as mulheres como principais responsáveis pela gravidez e pelo cuidado em todos os aspectos (FRANCO et al, 2021). Percebe-se, portanto, que as mulheres são as principais usuárias do SUS, não apenas para si, mas também para seus familiares, como por exemplo os filhos.…”

“…O desejo de ser mãe também foi outro aspecto destacado pelas pesquisas, nas quais ficou evidente que nem todas as mulheres planejaram ser mães e que essa condição acaba sendo vista como compulsória e sinônimo de felicidade em todos os casos, menos em condições de gravidez por estupro (FRANCO et al, 2021). Tais aspectos resultam em mais pressão social voltada para mulheres no geral para a procriação e formação de família como condição de felicidade e plenitude.…”