Cuidado E Gerencialismo: Para Onde Vai O Trabalho Das Professoras

Abstract

RESUMO: O artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa sobre as atuais configurações de gênero no trabalho docente nos anos iniciais do ensino fundamental, que foi historicamente associado a uma feminilidade e a práticas de cuidado. Contudo, as novas formas de gestão difundidas na administração pública brasileira desde o final da década de 1990, têm colocado em questão esse modelo, ao exigirem dos educadores e educadoras posturas baseadas não apenas na lógica de mercado, mas também em valores que se considera como relativos a um tipo de masculinidade, como individualismo, competitividade, foco na ascensão na carreira e em recompensas monetárias. Para investigar se esses movimentos levaram ao apagamento dos traços históricos de feminilidade associados ao trabalho das professoras dos anos iniciais, foi feito um estudo qualitativo na rede pública estadual de SP, que indicou a permanência de referências a uma feminilidade, porém ressignificadas e contraditoriamente integradas às novas políticas gerencialistas.

Future-Se: Elucidating Another Attempt to Privatize Brazilian Public Universities

“…In the Brazilian case, for example, Hypólito (2008Hypólito ( , 2011 analyzes the managerial approach to the adoption of quality education programs in the state systems of Minas Gerais and Rio Grande do Sul. Carvalho et al (2018), studying teaching work in the State of São Paulo, show that the values of managerialism are based on those close to masculinity and that their adoption increases the precariousness of markedly female teaching work. Piolli, Silva, and Heloani (2015) find elements of managerialism in the National Education Plan (PNE-Plano Nacional de Educação) for the period 2014-2024 and point to ways of controlling teaching work and increasing illness.…”

Gênero, carreira e instituições: estereótipos, “teto de vidro” e outras implicações

“…As mulheres são a maioria da população, e se fazem presentes em maior número nas matrículas do ensino superior, sendo bem representadas no mestrado e doutorado, mas ainda ocupam os "nichos femininos" em relação à atividade profissional, sendo as áreas de Saúde e de Educação os mais evidentes exemplos (Alves, 2018). Historicamente, a atividade docente nos primeiros anos do ensino fundamental foi relacionada a uma feminilidade e às práticas de cuidado (De Carvalho et al, 2018). Esse cenário se mantém, pois, a Pedagogia continua sendo uma área feminizada, conforme Alves (2018).…”

Gestão escolar e gênero: análise do trabalho de diretoras(es) no contexto das reformas educativas

“…Na discussão do item anterior, foi possível identificar que ainda que muitos estudos sobre trabalho docente desconsiderem a discussão sobre gênero, esta perspectiva se mostrou bastante relevante para a análise deste trabalho, na medida em que possibilitou a melhor compreensão de aspectos como: a questão da profissionalização e as formas de controle e racionalização desta atividade, elementos centrais na discussão sobre magistério (APPLE, 1995, COSTA, 1995; a compreensão dos aspectos que, sem a abordagem de gênero, não estavam sendo contemplados nos estudos sobre docência, como o cuidado (CARVALHO, 1999); e as transformações decorrentes das reformas educativas das últimas décadas (CHAN, 2004MAHONY, 2004CARVALHO, 2018.…”

“…Conforme discussão pautada no capítulo 2, o gerencialismo é um modelo de gestão que se baseia em valores culturalmente associados ao masculino, assim como objetividade, racionalidade e competitividade. Esse modelo poderia causar atrito com valores que foram constituindo a docência como sendo um trabalho feminizado, pautado em valores como dedicação e cuidado (CHAN, 2004;MANHONY, 2004;CARVALHO, 2018). Em nossa pesquisa, o diretor Fernando, o qual apresentou o discurso que mais se aproximou do gerencialismo, também foi quem mais correspondeu a um estilo masculinizado de gestão.…”

“…Dessa maneira, é possível situar a prática de cuidado das(os) diretoras(es) simultaneamente como elemento de crítica à perspectiva gerencial e útil neste contexto, já que os profissionais buscam, de forma pessoal, contornar problemas institucionais, agravados pela redução de direitos sociais que acompanha as políticas gerencialistas. Assim, para além do processo de masculinização da escola abordado por Chan (2004) e Mahony (2004), é possível pensar nos termos abordados por Carvalho et al (2018) em processos nos quais significados masculinos e femininos se (re)articulam de formas múltiplas e contraditórias.…”