As armadilhas da "concepção positiva de saúde"

Abstract

Uma das linhas mais estruturadas de crítica ao modelo biomédico, em geral, e em particular da aplicação do mesmo a intervenções coletivas no bojo da tradicional saúde pública, centra seu foco nas distorções induzidas pela centralidade da categoria doença neste modelo, o que levaria a uma série de conseqüências indesejáveis. Como contraponto, cresce cada vez mais o clamor pela promoção da saúde, baseada numa "concepção positiva" desta, que, visando a extrapolar o empobrecimento da simples evitação das doenças, restaura em toda sua plenitude os valores mais amplos da vida. Este artigo apresenta dois contrapontos, um à crítica e outro às proposições dela decorrentes. Em primeiro lugar, o problema não consiste exatamente na categoria doença, mas na sua reificação, isto é: doença pode ser entendida como um artefato teórico e heurístico, que organiza o conhecimento disponível e delimita uma classe de problemas em que a intervenção técnica é não apenas justificada como eticamente mandatória, circunscreve a esfera de atuação dos profissionais de saúde e cria, ao menos em princípio, uma barreira à medicalização da vida. Em segundo lugar, o risco da ênfase excessiva numa suposta "definição positiva" da saúde como orientadora da atuação dos serviços de saúde está em estender a esfera de atuação do chamado "setor saúde" à totalidade da vida, da experiência humana, numa medicalização mais radical do que a denunciada pelos pioneiros do campo há quatro décadas.

Acompanhamento do envelhecimento humano em centro de convivência

“…Tais abordagens suscitam importantes discussões (CAMARGO JR., 2007;CASTIEL, 2011). Acesso à informação, fatores de proteção e de risco, antecipação, triagens, rastreio, detecção precoce, avaliação geriátrica ampla, avaliações funcional, social (redes) e emocional (vínculos) constituem campo de Saúde Coletiva.…”

Aspectos culturais e históricos na produção do cuidado em um serviço de atenção à saúde indígena

“…The life story of the patient and his family is also expropriated 22 . This reductionism and reification of disease propitiate depersonification with individual subjection or objectification and submission to the rules, procedures and institutional routines 13,23 , in addition to the technification of the caregiving act 2 . These characteristics resemble the social rules of the setting, whose logic is similar to the streets, where the individual can lose his/her authority and status 1 .…”

Prevenção quaternária: um olhar sobre a medicalização na prática dos médicos de família

“…In general, the literature acknowledge the contribution of biomedicine -and its epistemological foundations and praxis -to the genesis of medicalization (Table 1). 3,[24][25][26][27][28][29][30] The characteristics listed in Table 1 show a knowledge-practice with great potential for medicalization. Among them, the concealment of social conflicts and problems (with their consequent individualization and depoliticization) is one of the most questionable aspects of ethical and social justice, subsequent to the modus operandi of biomedicine.…”

“…The "control of the social" is still a relevant process of medicalization, although the medical power and its discourse are diffuse among different agents and institutions in the contemporary world, no longer concentrated in medical institutions and the State. 17,18,26 In trying to find a unique concept, Peter Conrad, an authority on the subject, presents the medical definition as the central element of medicalization: "medicalization occurs when a medical frame or definition has been applied to understand or manage a problem" (p. 211), 31 or moreover, "a process by which nonmedical problems become defined and treated as medical problems, usually in terms of illnesses or disorders" (p. 209). 31 These concepts are quite relevant to the medical literature as they refer to the creation of new diseases and the expansion of their limits (e.g.…”